“Não há nada. Eu não vejo nada preservado”, queixam-se os populares.
Zeive é uma localidade da freguesia de Parâmio, no concelho de Bragança (a 22km), em Portugal.

Atenção que esta é uma aldeia preservada. Mas quem lá vive não está satisfeito com tal epíteto. “Dá assim a bideira”, como se diz lá pelo Zeive.

Nem por isso se vêm ganhos. Os habitantes encolhem os ombros, desdenham da placa à entrada que anuncia a tal aldeia preservada. As ruas estão sujas, algumas estragadas, sem pavimento, os cabos de transporte de electricidade e respectivos postes colocados junto a monumentos que, esses, sim deviam estar preservados, como é o caso da igreja matriz. “Não há nada. Eu não vejo nada preservado, alguém vê aqui alguma coisa preservada? É olhar para as ruas e observar”, criticou Elisa Figueiredo, natural do Zeive, mas residente em Fontes.

O facto de a localidade estar inserida no Parque Natural de Montesinho, concelho e Bragança e freguesia do Paramio, nada trouxe de bom a quem lá vive. Pelo menos, esta é a opinião generalizada dos populares. “Não ganhamos nada. Alguma coisa que tínhamos de bom ainda tiram, nem se podem limpar as silvas em alguns locais, que eu não sei, pois atrás de mim nunca ninguém veio. Para cortar um carrasco é uma complicação”, acrescentou. Por ali ninguém “bê o fio à meada” de fazer parte do Montesinho. “Nós sabemos que pertencemos ao parque porque os outros o dizem, não notamos nada na nossa vida a não ser proibições”, garantem os populares.

Quem mais gostava de ver a terra alindada são aqueles cujo quotidiano passa forçosamente pela aldeia. Os exemplos do que não está bem são muitos. A fonte de mergulho, onde antigamente se lavava o trigo e a roupa, de cuja bica jorra água fresca em fartura que, segundo os habitantes, acalma a fome quando bebida, já viu melhores dias. Nas últimas semanas mereceu um corte da erva, mas é um espaço com enorme potencial para zona de lazer, contudo desaproveitado. “Quando andávamos por aqui na ceifa e o almoço demorava havia sempre alguém que dizia vai lá buscar um cântaro de água para matar a fome”, relembrou Elisa Figueiredo. A zona é aprazível, com árvores que oferecem o seu fresco.

Os que por lá estão carpem as mágoas e choramingam o isolamento. Agora certo, certo, é quem vai ao Zeive, quase sempre quer voltar. A aldeia fica na memória dos visitantes. Não se sabe se é pela paisagem, repleta de árvores, se pelo sorriso afável das pessoas, sempre prontas à tagarelice. Como se diz por lá “uma por outra num é cara”, que é como quem diz amor com amor se paga e, vai daí, o forasteiro regressa uma e outra vez.

Quem vai ao Zeive, quase sempre quer voltar. A aldeia fica na memória dos visitantes

Esta é também uma aldeia sui generis. Numa terra onde os bois e as chegas são uma tradição, ali apostava-se em lutas de garnizés. Um assunto mais que arrumado e posto de lado porque a Liga de Protecção dos Animais interveio, mas a população não concorda e garante que “as lutas não faziam mal e traziam gente”, lamentou um popular.

É também ali que o santo padroeiro é São Cipriano, uma figura polémica mesmo dentro da própria igreja católica, por estar também associado a práticas de bruxaria.
Não se sabe muito bem se São Cipriano foi bispo de Cartago é o mesmo que Cipriano de Antígona, conhecido como o feiticeiro ou mago dos magos. Todavia, muitas outras fontes afirmam que São Cipriano o Bispo de Cartago, e São Cipriano «o Feiticeiro», se tratam da mesma figura histórica. O povo tem dúvidas. Não sabe muito bem se adora um santo ou um bruxo.

A história que “vá às rabas”, porque para eles o São Cipriano é um santo que, às vezes até faz, milagres. “Ele era bispo de Cartago, não era nenhum bruxo, ou o nosso não é bruxo. Tem mesmo um coisinho na cabeça que atesta que era bispo”, garante Lídia Figueiredo. Seja feiticeiro ou santo, o povo tem devoção “e fé nele”, que “às vezes resulta, outras nem por isso”. “Agora milagrosa, milagrosa, é a santinha Bárbara, mal se põe cá fora nos dias de trovoada aplaca logo o clima”, acrescentou a devota.



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