Viticultores de Vila Real dizem que o granizo destruiu “um ano de trabalho” na vinha e apelam a apoios da “bazuca europeia” para atenuar os “elevados prejuízos” causados neste território inserido na Região Demarcada do Douro.

“Quando cheguei à vinha senti uma grande tristeza. Uma pessoa anda a trabalhar na vinha para depois em segundos ficar tudo destruído”, afirmou hoje à agência Lusa Cristina Brigas, que possui vinhas em Abaças e Guiães, as duas aldeias do concelho de Vila Real que mais foram afetadas pela intensa queda de granizo.

Segundo descreveram os viticultores, foram “minutos assustadores” aqueles que viveram segunda-feira ao final da tarde, devido à chuva intensa e ao granizo do tamanho de nozes ou bolas de pingue-pongue.

“Quando cheguei à vinha o chão estava ainda cheio de granizo e estava tudo destruído, os cachos no chão e as folhas esfarrapadas, e as pontas todas cortadas”, acrescentou.

Cristina tem outra atividade profissional, mas diz que tem muitas horas de trabalho nas vinhas e muitos gastos em produtos que já pulverizou nos cerca de três hectares e meio que possui e onde, no ano passado, colheu 70 pipas de vinho.

“É um rombo muito grande e só esperamos que não venha mais”, frisou.

Em Guiães, Fernando Borges, viticultor e presidente da Associação de Agricultores Corgo e Douro (Corgidouro), pede apoios e até sugere as verbas da “bazuca” da União Europeia que está prevista para Portugal. “Quem sabe um bocadinho da bazuca para nós. Há pessoas com 30, 40 ou 50 hectares que têm zero e não sei como é que vão sobreviver”, salientou.

Outros apoios podem ser, acrescentou, ao nível das prestações para a segurança Social.

Questionado sobre os seguros e colheita disse serem “muito caros”, pelo que alguns agricultores optam por não ter: “Muitos não têm seguros, nem a maior parte das seguradoras fazem seguros de colheita”.

O viticultor estima que “cerca de 70%” dos seus 20 hectares de vinhas tenha ficado afetado com o mau tempo. “Tenho aqui um hectare de vinho branco que está 100% destruído”, frisou.

Fernando Borges disse que, para quem vive da vinha e do vinho e não tem outro tipo de subsistência”, este foi um “prejuízo muito grande”.

“Temos a renda da casa para pagar, a alimentação, os filhos a estudar, temos uma vida e nós vivemos da vinha e do vinho. Se não temos uvas não temos vinho e se não temos vinho não temos dinheiro. Neste momento na vinha não se vive, sobrevive-se”, salientou.

Maximina Bragança tem vinha em Abaças e queixou-se também dos “muitos estragos”. “As uvas ficaram todas destruídas e agora vamos deitar o cálcio para remediar e ver se, para o ano, conseguimos ter a vara da poda porque este ano a vindima está feita”, referiu.

Após a queda de granizo, os viticultores vão para a vinha pulverizar cálcio para cicatrizar as videiras.

“Foram para aí cinco minutos que destruíram o trabalho de um ano”, afirmou.

Este ano, contou, já fez quatro tratamentos às videiras que estavam “bonitas, viçosas e carregadas de cachos de uvas”. Em média costuma produzir cerca de 10 pipas de vinho.

“Quando chegámos aqui vimos tudo destruído, estragado, acho que é mais de 90% da vinha. Era cada bola de granizo, foi muito mau, era só uvas no chão e as varas todas partidas”, afirmou Leonilde Couto, de Abaças.

Filipe Brigas, presidente da Junta de Freguesia de Abaças, acompanhou esta manhã os técnicos do Ministério da Agricultura que foram ao terreno fazer uma avaliação dos prejuízos e frisou que, agora, o objetivo “é tentar ajudar” estes pequenos e médios agricultores.

“Alguns nem irão ter uvas para meter nas adegas para preencher as cartas de benefício”, referiu.

O benefício é a quantidade de uvas que cada viticultor pode transformar em vinho do Porto.

“Foram cinco minutos de terror. Tive que me meter debaixo de um barracão porque estava com medo que as pedra de granizo me partissem o carro todo”, salientou.

 

PLI // JAP



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