Mação, vila do interior norte do distrito de Santarém, convive, entre a indiferença e a simpatia, com algumas dezenas de novos habitantes, vindos de vários continentes, uma «imigração» diferente da que habita outras vilas do país. Os «imigrantes» de Mação não vêm à procura de trabalho e melhores condições de vida, são investigadores a fazer mestrados e doutoramentos numa vila sem universidade nem escolas superiores.

Estes \\"novos habitantes\\", que vão rodando de dois em dois ou de três em três anos, vêm parar a Mação graças ao Centro de Investigação Internacional criado no Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, responsável em Portugal pelos cursos de mestrado de Arqueologia e Arte Rupestre e de doutoramento em Quaternário, Materiais e Culturas. Desenvolvidos ao abrigo de uma parceria entre o Instituto Politécnico de Tomar e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, os cursos inserem-se no programa Erasmus Mundus (destinado a alunos de países em desenvolvimento).

Este ano, Mação conta, entre os seus novos residentes, com cidadãos de países como ColÎmbia, Brasil, Marrocos, Jordânia, Tunísia, Índia, Indonésia, Turquia, China, Grécia, entre outros, e também alguns portugueses de outros pontos do país.

Cláudia, brasileira da Baía, confessou à Lusa que o facto de ser \\"meio bicho-do-mato\\" e gostar do silêncio a ajudou a adaptar-se a Mação, onde vive com a filha desde Outubro. O único aspecto negativo que aponta é a falta de transportes públicos que permitam fazer algum turismo e o acesso a ofertas culturais.

Confessa que, no início, sentiu alguns preconceitos pelo facto de ser brasileira, o que a obrigou a responder mal a observações \\"idiotas\\" que lhe eram dirigidas na rua, mas frisa a simpatia dos habitantes que sabem da existência dos estudantes e que até \\"fazem descontos\\" e os convidam para suas casas.

Mohamed, tunisino, está também no primeiro ano do mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre e, apesar de ser a primeira vez que está num país não árabe, afirma que não teve problemas de integração e que as pessoas são \\"supersimpáticas\\".

Tal como os outros, Mohamed realçou os \\"excelentes professores\\" do curso, destacando Mila Simões de Abreu (da UTAD). Para Faysal, marroquino, o mais difícil, no início, foi a língua, um \\"pequeno choque\\" que passou, pois, embora não fale, entende praticamente tudo, também graças ao curso de português que está a frequentar duas vezes por semana, na escola local.

O jordano Abdala, em Mação por três meses, cumprindo aqui o período de mobilidade do curso que está a frequentar na Universidade italiana de Ferrara, destaca a componente prática e o trabalho de campo que lhe tem sido permitido desenvolver.

O Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo é dirigido por Luís Oosterbeek, coordenador do Centro de Pré-História do IPT e também docente dos cursos de doutoramento e mestrado. Para Luís, a investigação é uma prioridade do museu, tendo sido criada uma Comissão Científica Internacional que integra especialistas de diferentes países e redes de parcerias nacionais e internacionais.



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