O relatório final do inquérito ao último acidente na Linha do Tua aponta uma série de defeitos grosseiros na via férrea e anomalias na automotora, sendo que estes factos conjugados terão originado o descarrilamento a 22 de Agosto.

Tanto a automotora LRV2000, como a própria linha apresentam uma série de deficiências que explicam quatro acidentes em ano e meio.

O relatório final está disponível desde segunda-feira à noite na página do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, três dias após o ministro Mário Lino ter anunciado medidas correctivas e de segurança, sem adiantar pormenores da investigação.
Os fiferentes pareceres recolhidos pela Comissão de Inquérito apontam no mesmo sentido: problemas ao longo da linha, especialmente no local do acidente e deficiências que dificultam o contacto entre a roda e o carril. «A via no local do acidente apresenta defeitos grosseiros e facilmente identificáveis e suficientes para justificar a ocorrência do descarrilamento», lê-se nas conclusões.

Um curva com medidas desadequadas, defeitos de alinhamento, de empeno, travessas que necessitam de substituição imediata são alguma das falhas apontadas. O relatório explicita mesmo que há algumas traves que há 18 anos que não são substituídas, sendo que algumas têm mesmo 40 anos de vida; de um modo geral, as traves foram colocadas entre 1968 e 1990.

Os pareceres apontam também falhas às automotoras do Metropolitano de Superfície de Mirandela, responsável pelo serviço de transporte de passageiros há cerca de uma década, referindo-se «às desadequadas características do material circulante»,
Dos estudos técnicos feitos à automotora acidentada, conhecida como LRV, ressaltam problemas nas rodas, falta de lubrificação e amortecimento insuficiente.

A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), uma das entidades que estudou o caso, deixa claro que todos estes factores conjugados são motivo para a ocorrência de um acidente desta natureza: «Valores elevados de empeno da via dão lugar fundamentalmente a um movimento de balanço dos veículos e, quando combinados com irregularidades do alinhamento da via e anomalias na suspensão dos veículos, são a causa mais frequente de descarrilamento especialmente a baixas velocidades»,
A 22 de Agosto, a LRV transportava 47 pessoas e seguia a uma velocidade de 38 quilómetros por hora na altura do descarrilamento, segundo apurou a Comissão de Inquérito, nomeadamente através do disco de tacógrafo.

Esta automotora do Metro de Mirandela era a mesma que tinha descarrilado dois meses antes, a 6 de Junho, nas mesmas condições, ferindo dois passageiros.
Afastado ficou qualquer «indício de actos de intervenção dolosa ou negligente produzidos por intervenção humana», segundo concluiu a Policia Judiciária, que também participou nas investigações.

A Linha do Tua mantém-se encerrada desde o acidente de 22 de Agosto, que fez um morto, quatro feridos graves e 39 feridos ligeiros. Este foi o quarto acidente no espaço de ano e meio, sendo que, ao todo, quatro pessoas perderam a vida em descarrilamentos na mesma zona da linha.

O relatório final faz também referência aos 17 minutos que um passageiro teve de percorrer a pé até encontrar rede no seu telemóvel para pedir socorro, numa zona onde não há comunicações; o único telefone existente na automotora ficou inoperacional no acidente.

O relatório final faz ainda várias recomendações que levaram o ministro Mário Lino a determinar a concepção e concretização de um plano com as «necessárias medidas correctivas», A implementação destas recomendações será coordenada pelo Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres (IMTT), com o apoio da REFER e CP, com a assessoria técnica de entidades externas.

A LRV2000 (Light Rail Vehicle) é a automotora utilizada na Linha do Tua, à qual foram apontadas diversas lacunas.



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