As políticas de combate ao abandono escolar não estão a funcionar. Em 2006, Portugal não só não conseguiu reduzir essa estatística negra do sistema de ensino, como assistiu mesmo ao seu agravamento: a percentagem de jovens que saíram precocemente da escola e cujo nível de estudos não ultrapassa o 9º ano de escolaridade subiu de 38,6%, em 2005, para 39,2%.

Os últimos dados do Eurostat, compilados pelo Observatório do Emprego no estudo Aspectos Estruturais do Mercado de Emprego, revelam ainda outra realidade desencorajadora. Apesar de ter havido uma contenção de três pontos no abandono escolar, ao longo dos últimos seis anos, \"a taxa portuguesa continua a ser mais do dobro da verificada para a média da União Europeia\". E isto é verdade para as sucessivas configurações comunitárias: a 15 estados, 25 ou a 27.

Os indicadores para a UE a 25 revelam uma taxa de abandono escolar de 15,1%; para a UE a 27 assinalam uma taxa de 15,4%; enquanto que para os Quinze, o valor sobe para 17%.

Ou seja, se é verdade que as coisas já não estão exactamente no ponto em que estavam na década de 90, outros países europeus estão igualmente a fazer esforços para combater o insucesso escolar e alguns têm sido mais eficazes do que Portugal nessa tarefa, dificultando o processo de convergência.

Estes resultados ameaçam inviabilizar o cumprimento das metas traçadas pelo Governo tanto no Plano Nacional de Acção para o Abandono Escolar (PNAPAE), como no plano nacional de emprego. Neste último, o Governo propunha-se reduzir a saída precoce do sistema de ensino para 30% até 2008 e para 25% até 2010. E aumentar a percentagem de jovens com o ensino secundário para 65% até 2010. Atendendo a que já estamos quase em 2008, e que os progressos dos últimos quatro anos não têm ido além de um ponto por ano, é praticamente impossível recuperar dez pontos em pouco mais de um ano.

Todas as apostas do Governo centram-se agora no relançamento dos cursos técnico-profissionais e na reforma no sistema de formação profissional, que passa por cursos de certificação escolar e profissional.

Rapazes preocupam

Igualmente perturbador é perceber que a taxa de abandono escolar atinge de um modo particularmente grave os rapazes. De acordo com o os dados do Eurostat, a taxa de abandono escolar masculina é substancialmente superior à feminina. Em 2006, situava-se nos 46,4%, contra 31,8% para as raparigas.

E se é verdade que a tendência de melhor aproveitamento escolar do sexo feminino é genérica na UE, Portugal é o país em que o desvio entre os resultados de ambos os sexos é mais acentuado: quase 15 pontos. Na comparação com os dados da UE a 27, aquele diferencial não vai além dos quatro pontos.

Explicações para este fenómeno poderão estar, segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, no facto de as raparigas tenderem a ser mais discretas e determinadas e os rapazes serem mais propensos à indisciplina.

Num ambiente escolar em que a indisciplina ganha terreno, os rapazes podem ter encontrado campo aberto para a sua natureza. Quanto aos índices de abandono escolar, considera que eles não se podem dissociar do baixo nível socioeconómico das famílias, da fraca valorização do conhecimento e de uma série de reformas educativas mal orientadas.|



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