A Associação de Criadores de Gado de Bragança antecipa mais uma Páscoa “difícil” devido às restrições da pandemia de covid-19, com dois anos consecutivos de quebras nas vendas naquela que seria a melhor época de negócio para o setor.

O cabrito e o cordeiro, associados ao folar de carnes, são os pratos típicos da gastronomia transmontana na Páscoa, que, pelo segundo ano consecutivo, se avizinha em confinamento, e com os principais consumidores, que são os restaurantes fechados.

O presidente da associação, Amadeu Fernandes, disse hoje à Lusa que os produtores estão a ver se há alguma saída na Páscoa, mas temem que esta “ainda vai ser difícil”, como foi a Páscoa de 2020.

Desde o início da pandemia, os prejuízos são mais visíveis nos ovinos e caprinos. A quantificação em euros também é difícil de fazer, como observou o dirigente, que apontou as evidências nas medidas que os produtores têm de tomar.

“Os produtores estão a procurar outros canais de venda e as fêmeas estão a deixá-las para reprodutoras”, afirmou.

A pandemia de covid-19 que se prolonga há quase um ano está, segundo Amadeu Fernandes, “a afetar muito porque [esta atividade] é importante para a economia e para o pequeno produtor”.

“Os restaurantes fecharam, o maior consumo que faziam eram os restaurantes, portanto estamos com o mesmo problema [da Páscoa anterior]”, indicou.

O dirigente vincou que a pecuária “não é como uma fábrica de parafusos, pode parar e volta a produzir quando é preciso”.

“Nós não. Os animais têm de ser tratados todos os dias e não há escoamento”, sustentou.

O presidente da Associação de Criadores de Gado de Bragança falava à margem da assinatura do protocolo com a Câmara Municipal que, há três anos, custeia as despesas com a vacinação obrigatória de 2.100 bovinos e cerca de 23 mil pequenos ruminantes.

A ajuda é “ainda mais significativa” para o presidente da Câmara, Hernâni Dias, “este ano, devido aos problemas da pandemia, que reduziu substancialmente a colocação da carne no mercado”.

“Sabemos que as coisas não estão bem, que os produtores têm de facto dificuldade de conseguir colocar os produtos no mercado e, fruto de serem pequenas explorações, é mais difícil conseguir-se os apoios que têm outros grandes produtores”, constatou.

Apesar de tudo, segundo o autarca, estes pequenos produtores transmontanos acabam por ter a garantia de uma componente de rendimento nas atividades completares agrícolas, nomeadamente a castanha.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, antecipou que a Páscoa deste ano "não será seguramente" como aquela que os portugueses conhecem, avisando que o “desconfinamento não está no horizonte”.

Na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros para decidir as medidas para a renovação do estado de emergência, António Costa insistiu na ideia de que durante o mês de março será preciso manter um nível de confinamento muito semelhante ao atual, após questionado pelos jornalistas sobre a Páscoa.

“Quanto à Páscoa já está fora deste período. Teremos tempo para ver. Agora uma coisa é certa, não haverá seguramente festejos de Carnaval e seguramente a Páscoa não será a Páscoa que nós conhecemos”, avisou.

O Presidente da República defendeu na quinta-feira que o estado de emergência e o atual confinamento geral devem manter-se "março fora", sem "sinais errados para a Páscoa", para evitar um retrocesso na contenção da covid-19 em Portugal.

"Temos de sair da primavera sem mais um verão e um outono ameaçados. Em vida, saúde, economia, sociedade. Temos de assegurar que a Páscoa, no início de abril, não será causa de mais uns meses de regresso ao que vivemos nestas semanas", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, numa comunicação ao país, após decretar a renovação do estado de emergência até 01 de março.



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