O presidente da Câmara de Vila Real lançou hoje um “grito de alerta” devido à falta de apoios que deixa em risco a edição 2023 do Circuito Internacional e da Taça do Mundo de Carros de Turismo (WTCR).

Rui Santos lamentou a falta de apoio do Governo para a organização do Circuito Internacional de Vila Real e criticou também a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), a Eurosport e as empresas que subiram “inexplicavelmente” os preços e quem pede à organização uma pulseira pela qual não é capaz de pagar 10 euros.

Por tudo isto, o autarca socialista afirmou, em conferência de imprensa, que, no final desta edição, a organização que junta a o Clube Automóvel de Vila Real (CAVR), a Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real (APCIVR) e o município, vão refletir e ponderar todos estes factos.

“Ao contrário daquilo que eu desejaria que era garantir aqui hoje que, para o ano, voltaríamos a ter o Circuito Internacional de Vila Real com as circunstâncias que temos hoje ou muito parecidas, eu não posso e não quero garantir isso. Não posso e não me quero comprometer com isso e vamos provavelmente ter de repensar tudo isto”, salientou.

E continuou: “Quando os nossos parceiros, o conjunto deles, não querem dançar connosco é muito difícil de concretizar o circuito nestas circunstâncias”.

Questionado sobre se a edição de 2023, quer do circuito, quer da única etapa portuguesa do WTCR, que conta com o piloto luso Tiago Monteiro, pode estar em risco, Rui Santos respondeu afirmativamente.

"O circuito está em risco, é exatamente isso que eu aqui vim dizer", realçou.

O alerta do autarca que retomou as corridas na cidade transmontana em 2014, após anos de interrupção, foi lançado hoje, no último dia da 51.ª edição do Circuito Internacional de Vila Real e das corridas principais do WTCR.

Rui Santos começou por fazer um balanço positivo desta edição, salientando um recorde de pilotos inscritos, de bilhetes esgotados para as bancadas oficiais e em muito público espalhado pela pista de 4,6 quilómetros.

“Vila Real é paixão, é adrenalina, é história e é também muita resiliência, porque, apesar de termos interrompido várias vezes o circuito, sempre conseguimos regressar. A última, como se sabe, deveu-se à covid-19”, referiu.

Mas, segundo Rui Santos, fazer as provas em Vila Real em 2022 “foi muito, muito difícil” e só possível de fazer “devido à união que existe à volta das corridas”.

“Este ano montámos o circuito sem fundos comunitários. O quadro 2020 terminou e o 2030 ainda não se iniciou. Montámos este circuito sem Orçamento do Estado, que foi publicado há quatro ou cinco dias em Diário da República, e, ao contrário do que aconteceu até 2013, em que o Turismo de Portugal sempre garantiu apoios para este tipo de provas no Circuito da Boavista, ao dia de hoje ainda não temos essa garantia por parte do Estado central no que diz respeito ao Circuito Internacional de Vila Real”, apontou.

O orçamento do município para esta edição das corridas de Vila Real é de 1,5 milhões de euros, enquanto a organização calcula que as mesmas tenham um retorno de 80 milhões de euros para toda a região.

Rui Santos acha “estranhíssimo que o Governo se tenha predisposto a pagar, por exemplo, [provas em] Portimão, que teve 20 mil pessoas a ver corridas, e não se predisponha a apoiar Vila Real, em termos proporcionais”.

“Há parceiros, como a FPAK, que certifica o circuito para as provas internacionais, e cobra-nos uma percentagem dessa certificação que nós achamos absolutamente incompreensível, mais de 25%. Não entendemos como num ano com estas dificuldades isso é possível”, frisou.

O circuito foi retomado depois de dois anos suspenso por causa da pandemia de covid-19 e num ano marcado pela guerra na Ucrânia, que se está a traduzir numa subida generalizada de preços.

Quanto à Eurosport e à Discovery, entidade organizadoras do WTCR, o presidente sublinhou que esperava também “mais” e que Vila Real “quer mais”.

“A nossa relação com a Eurosport fica aquém daquilo que era a nossa expectativa”, apontou.

O presidente lamentou ainda alguns preços aplicados por empresas e instituições, que, “inexplicavelmente, têm vindo a subir de forma progressiva”, exemplificando com a montagem da pista e a organização das provas.

Mas o autarca olha também com “estupefação” para o facto de pessoas lhe pedirem “pulseiras que valem 10 euros e não estão disponíveis para comparticipar as pequenas coisas do circuito que são importantes e ajudam as coisas a acontecer”, afirmou.

“Acho extraordinário que haja alguém que se dirija a mim ou à organização a pedir uma pulseira que custa 10 euros porque acha que é prejudicado pelo circuito, porque tem mais trânsito (…). A pressão tem vindo a aumentar”, salientou.

Rui Santos apontou ainda o dedo à oposição política na câmara.

Por fim, sublinhou que Vila Real tudo fará para que o “circuito continue” nos próximos anos e que tem falado com “muitos promotores” de outras provas internacionais.

“Tenho de ser claro e ter a coragem suficiente para dizer que não posso garantir que isto continue”, afirmou.

Foto: Bruno Taveira



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