A Peripécia Teatro estreia na sexta-feira, em Vila Real, o espetáculo “O Ensaio dos Abutres” que resulta de uma coprodução com a associação ecologista Palombar e sensibiliza para a conservação da ave necrófaga considerada “determinante” para o ecossistema.

A companhia Peripécia, sediada em Vila Real, e a Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural, uma organização não governamental de ambiente (ONGA), de Vimioso, distrito de Bragança, uniram-se em defesa da vida selvagem.

A peça tinha estreia prevista para maio, no Teatro Municipal de Vila Real, mas a pandemia de covid-19 atrasou o projeto e a estreia está, agora, marcada para sexta-feira.

Sérgio Agostinho, ator e responsável pela companhia, disse hoje à agência Lusa que o espetáculo representou um “duplo desafio”, o da criação e o de encontrar um local para os ensaio e palco de estreia.

Ao local escolhido, localizado junto ao antigo quartel da Associação Humanitária Bombeiros Cruz Branca, chamaram a “Cena”.

Na sala predomina a cor negra e no palco está montada apenas uma estrutura de madeira. Os músicos Vítor Hugo Ribeiro e Tiago Santos vão tocar ao vivo e, em cena, os atores Noelia Domínguez e Sérgio Agostinho dão vida a várias personagens cruzando diferentes linguagens como a poesia, a dança, a ironia e o humor.

“É um espetáculo em que não paramos do princípio ao fim. São múltiplas personagens, mas mais do que personagem são linguagens diferentes, de um momento para o outro os intérpretes têm que assumir tons diferentes, formas de estar diferentes, às vezes muito contrastantes e, isso, para nós é evidentemente um desafio e para o público também”, afirmou Sérgio Agostinho.

A peça procura alertar para a importância das aves necrófagas e teve como ponto de partido o projeto científico “Sentinelas”, que tem como objetivo combater o uso ilegal de venenos em Portugal.

Pretende ainda promover uma reflexão sobre a “perceção distorcida” que existe sobre estas aves, muitas vezes associadas à morte, e denunciar os diferentes tipos de caça furtiva de que são vítimas.

“Há muitíssimos sinónimos para abutre e todos eles são pejorativos. Nós, como criadores, mudamos completamente a nossa forma de olhar para estas aves e isso, provavelmente, vai acontecer com o espetador também. Não há nenhuma razão para pensarmos mal destas aves porque não fazem nada de mal ao homem”, salientou o autor.

O diretor da produção, Luís Blat, referiu que “são várias as mensagens dentro do espetáculo”.

“Tentamos mostrar o que são os abutres, as suas qualidades, o que representaram ao longo do tempo em diferentes culturas e, sobretudo, procuramos também um paralelismo com a sociedade atual. Procuramos quem seriam os abutres, no sentido pejorativo da palavra, na nossa sociedade”, salientou.

O texto, que é apresentado pela primeira vez, tem também por base excertos de diferentes obras e manifestos de autores como Baudelaire, David Abram e Niall Binns.

Mais de 90% da população europeia dos abutres encontra-se na Península Ibérica.

O projeto “Sentinelas” resulta de uma parceira entre a Palombar e a Universidade de Oviedo, em Espanha, e procura, através da colocação de dispositivos GPS e anilhas nas espécies necrófagas, recolher informação sobre o uso ilegal de venenos no norte de Portugal, ou caça furtiva, que representam um problema para a conservação da biodiversidade, dos ecossistemas e para a saúde pública.

Por sua vez, a Peripécia Teatro desenvolve até 2021 o ciclo “Terra. Arte. O Homem no Meio” que “questiona o ser humano e a relação com o meio onde se insere”.

O projeto é financiado pelo Ministério da Cultura e pelo município de Vila Real.

Após a temporada inaugural, que se estenderá até 04 de outubro, com seis representações, “O Ensaio dos Abutres” entra em digressão pelo Fundão, Caminha, Sabrosa, Macedo de Cavaleiros, Palmela, Bragança e Tondela.

Serão cumpridas as normas obrigatórias, como uso de máscara e lotação limitada do espaço.



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