José Sócrates anunciou, há pouco mais de um mês, em Bragança, a concretização do Itinerário Complementar nº. 26 (IC26), entre Amarante e Régua, troço com cerca de 30 quilómetros. Já antes, os autarcas de Mesão Frio, Santa Marta de Penaguião e Peso da Régua haviam recebido garantias nesse sentido.

Garantias que surgiram na sequência de protestos em defesa da solução para a A4 que passasse o mais a sul possível do distrito, aproximando-se do Douro (a famosa solução 4, preterida pela solução 2, a mais barata, por parte do Governo). Mas o processo continua a não passar da teoria e das promessas, o que, aliás, acontece há cerca de duas décadas.

Por isso, no Douro, aguarda-se com expectativa que o primeiro-ministro, que participa, hoje, numa marcha do ambiente com quatro mil crianças da região, dê aos autarcas algum sinal de desenvolvimento do processo, nomeadamente quanto ao lançamento do projecto de concepção e construção.

Recorde-se que o processo ficou \"congelado\" em 1994, na sequência de um estudo prévio mandado realizar pelo Instituto de Estradas de Portugal, que considerava os impactos ao nível ambiental muito negativos, sobretudo, na paisagem vitivinícola, que, lembre-se, na altura ainda nem sequer integrava a área classificada pela Unesco como património mundial da humanidade.

Nuno Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Peso da Régua, lembra que, \"pelo menos entre Mesão Frio e Régua, tem de ser encontrado um traçado alternativo, mais a Norte do que o que estava previsto na década de 1990, para evitar um impacto negativo ao nível ambiental e visual, sobretudo a partir da bacia do Douro\".

O autarca diz que a própria \"Câmara da Régua está a tentar definir um corredor, que, juntamente com as autarquias vizinhas de Mesão Frio e Santa Marta de Penaguião, possa ser apresentado ao Governo\". Uma ideia de \"antecipação\", que visa, obviamente, \"colocar em prática o projecto o mais rápido possível\", acrescenta Nuno Gonçalves.

Francisco Ribeiro, presidente da Câmara de Santa Marta de Penaguião, diz que \"a estrada foi prometida numa reunião, em Lisboa, pelo secretário de Estado dos Transportes, que até acrescentou que a mesma estaria concluída ainda antes da A4, o que para nós significa um prazo máximo de quatro, cinco anos\".

Também o presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, Marco António Teixeira, entende que, \"não havendo prazo definido, este não pode ultrapassar os dois ou três meses no que toca ao lançamento do concurso para o projecto de concepção e construção. Estamos todos na expectativa, porque já houve tantas promessas ao longo dos anos que receio que esta possa ser mais uma\", acrescentou.

Uma fonte da Estradas de Portugal confirmou, ao JN, que \"ainda não está estabelecida qualquer calendarização no que toca ao IC26, sendo certo que a prioridade neste momento seja a A4, nomeadamente até Vila Real, porque o processo está mais avançado\".

A mesma fonte confirmou, também, que \"o traçado previsto anteriormente, entre Mesão Frio e Peso da Régua será abandonado, em prol de um traçado um pouco mais complexo, mas localizado mais para norte\".

Já em 1985, Cavaco Silva, na altura primeiro-ministro, eleito pelo PSD, viajou rio acima para anunciar o Programa de Desenvolvimento do Douro (Prodouro) e avançar com compromissos do Governo, em especial no domínio das acessibilidades, educação e saúde.

Com este plano, obras como a construção do IP3, entre Lamego e Vila Real, do IC26, entre Amarante e Régua, e do novo hospital de Lamego passariam a ter um prazo para a sua concretização 1999.

Sete anos e quatro primeiros-ministros depois, apenas o IP3 (agora A24) até Vila Real está concluído.

As mesmas promessas, também em viagens Douro acima, foram feitas por António Guterres (PS) e Durão Barroso (PSD), e, mais tarde, reiteradas por Pedro Santana Lopes, também do PSD.

Talvez seja por isso que Marco António Teixeira, presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, seja apenas um dos muitos que não têm problemas em afirmar \"Até já tenho vergonha de dizer às pessoas da minha terra que vai ser construido o IC26. Porque ainda pensam que estou mas é a brincar com isto\".



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