Volvida uma década sobre a sua morte, Miguel Torga é hoje homenageado na sua terra natal, São Martinho de Anta, distrito de Vila Real, numa iniciativa organizada pelo Círculo Cultural Miguel Torga, Junta de Freguesia de São Martinho de Anta e a Filandorra - Teatro do Nordeste.

A evocação do autor dos \\"Contos da Montanha\\" tem início às 10h30 e consta de um passeio pedonal aos lugares mais emblemáticos da vida do escritor, animado com leitura musicada de uma dezena de poemas retirados da extensa produção literária do escritor transmontano. Com esta cerimónia, a organização pretende homenagear aquele que, segundo David Carvalho, director da Filandorra, \\"no panorama literário, mais exaltou a região transmontana-duriense\\".

O percurso começará com a leitura de \\"Pedagogia\\", \\"Brinquedo\\" e \\"Parque Infantil\\" aos alunos que estarão em aula na escola primária que o escritor frequentou, prossegue no quintal da casa do escritor, onde serão lidos \\"Imagem\\", \\"Bucólica\\" e \\"Mãe\\", terminando, junto à campa de Torga com a leitura de \\"Viático\\", \\"Adeus\\" e \\"Eco\\".

Filho de camponeses, Miguel Torga transportou para a literatura, como poucos autores portugueses as paisagens físicas, sociais e psicológicas do Portugal transmontano, onde nasceu e viveu grande parte da sua vida.

Depois de uma infância e adolescência a trabalhar no Porto, em serviços domésticos no seio de um família abastada, e mais tarde, aos 13 anos, na fazenda de Santa Cruz, do tio paterno, no estado de Minas Gerais, no Brasil, Miguel Torga regressa a Portugal e inicia os seus estudos superiores na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Em 1932, Torga publica o seu primeiro livro de versus \\"Ansiedade\\", recuperado mais tarde, através do poema \\"Ignoto\\", para a \\"Antologia Poética\\" (1981).

A colaboração na revista \\"Presença\\", entre 1927 e 1930, revela-se uma das experiências mais marcantes na construção literária de Torga. O convívio com José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões, propicia contacto com leituras de Dostoievsky, Proust, Jorge Amado Ribeiro Couto e Jorge de Lima, entre outros. Inicia ainda durante os seus estudo em Coimbra a concepção da extensa obra \\"O Diário\\", que se perlongaria até 1994, num total de 16 volumes. Regressando à aldeia natal como médico de clínica geral utiliza pela primeira vez em \\"A Terceira Voz\\" (1934) o pseudónimo Miguel Torga.

Segue-se uma intensa produção literária. Funda a revista \\"Manifesto\\", onde reflete sobre a condição do artista, a publicação termina censurada após cinco números. Participa conferências e na campanha de Humberto Delgado.

Depois do fracasso da candidatura ao Nobel, já em 1960, Torga recusa o Prémio Nacional da Literatura por considerar um galardão oficial do regime. No entanto, o reconhecimento internacional atinge a sua obra. Em 1976, é distinguido com o Grande Prémio Internacional de Poesia das Bienais Internacionais de Knokke-Heist, em 1980 com o Prémio Morgado Mateus e em 1981 com o Prémio Montaigne (Alemanha).

Em 1989, recebeu o Prémio Camões e, em 1992, os prémios Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Neste ano foi eleito Figura do Ano da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira em Portugal.

A RTP 2 dedica ao escritor transmontano uma emissão do programa \\"Arte & Letras\\", enquanto o documentarista Jorge Campos realiza a filme \\"Torga\\", onde revisita a vida e obra do escritor.
A 17 de Janeiro de 1995, Miguel Torga morre em Coimbra, deixando atrás de si uma legado literário relavante em títulos como \\"Contos da Montanha\\", \\"Bichos\\", \\"A Criação do Mundo\\", \\"Vindima\\", \\"Rampa\\" entr mutios outros.

Por entre o Clube dos Fenianos e o Ateneu Comercial do Porto

Das várias intervenções de Miguel Torga na vida social, política e cultura do Porto destaque especial para quarto momentos que importa recordar.

Em 1945, o autor dŽO Senhor Ventura\\" participa numa sessão de leituras no Clube ddos Feninanos Portuenses onde lê, a 5 de Fevereiro, o texto \\"O Porto\\", editado nesse mesmo ano e recuperado no volume \\"Portugal\\".

Mais tarde, a 24 de Novembro, a convite do Ateneu Comercial do Porto, Miguel Torga participa na conferência intitulada \\"Eça de Queiroz - Um Problema de Consciência\\", no âmbito das comemorações do centenário do autor dŽ\\"A Cidade e as Serras\\".

Já em 1954, o Ateneu Comercial do Porto, distingue o escritor transmontano com o Prémio Literário Comemoratiivo do Centenário da Morte de Almeida Garrett. Torga acaba por recusar o prémio, colocando à disposição do Atneu a importância atribuída, chegando mesmo a pedir que esta fosse utilizda na publicação de obras de jovens poetas.

Finalmente, em 1958, o Teatro Experimental do Porto leva à cena a peça \\"Mar\\", com encenação de António Pedro.



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