Em Vila Real, o Centro de Acolhimento RAN e o Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) analisam de forma diferente os números da toxicodependência no distrito. Se para o RAN os 715 activos registados no distrito no ano de 2000 é um dado "preocupante", já para o CAT, o número "não é alarmante" e o panorama da toxicodependência é, comparado com o resto do país, "normal".

Segundo o Instituto Português da Droga e da Toxicodependência (IPDT), no ano de 2000 (ainda não estão contabilizados os dados de 2001), foram registados 715 casos de toxicodependentes activos, colocando Vila Real em décimo lugar na tabela dos distritos com maior índice de toxicodependência.

Para o director do Centro de Acolhimento RAN, Marques Correia, este número aumentou no ano de 2001, e o panorama tem vindo a agravar-se "de dia para dia". "O número de toxicodependentes no distrito de Vila Real aumentou de tal maneira que chega a haver aldeias completamente cheias de toxicodependentes", afirma. Por causa disso, o RAN tem desempenhado um papel "muito importante" no combate a esta doença, que tem vindo a atingir um elevado número de pessoas em Portugal e no mundo. No entanto, esta instituição privada não consegue fazer tudo quanto gostaria.

O RAN de Vila Real surgiu há cinco anos e tem vindo a receber doentes de quase toda a Europa. Utilizando um método específico, durante nove meses, com o apoio de uma equipa multidisciplinar, que passa por médicos, enfermeiros, psicólogos e técnicos. Esta instituição tenta dar uma nova vida ao toxicodependente e afastá-lo, o mais possível, das drogas. Para além disso, com o programa governamental vida/emprego, o RAN consegue orientar o toxicodependente para uma nova vida autónoma. Muitas destas pessoas, salienta Marques Correia, "entram para o tratamento com uma vida completamente destruída e saem do Centro com uma vida organizada".

Com uma taxa de sucesso que ronda os 68 por cento, o director do RAN sente-se "orgulhoso" do trabalho da sua equipa e explica que "a melhor publicidade que o RAN pode ter são os resultados apresentados". No entanto, esta instituição gostaria de fazer mais, mas, para isso, gostaria de contar com a ajuda do CAT e da Câmara Municipal de Vila Real, algo que, apesar do esforço de Marques Correia, "ainda não foi possível" devido ao "desinteresse" destas instituições.

"A situação é normal"

José Gonzalez, a ocupar transitoriamente o cargo de director do CAT (ver caixa), não se assusta com os 715 casos de toxicodependentes activos registados no distrito pelo IPDT. Segundo ele, a situação pode ser considerada "normal" e "não é caso para alarme" pois, afirma, "não temos dificuldade em responder aos casos que nos surgem".

O principal papel do CAT é o tratamento e reinserção social do toxicodependente e a prevenção desta doença, "mas o mais importante", defende o clínico, "é eles saberem que nós estamos cá sempre que eles precisarem".

O programa da metadona é utilizado no CAT como forma de convencer o toxicodependente para objectivos mais ambiciosos, como uma desintoxicação ou internamento numa comunidade terapêutica. Apesar de se tratar da substituição de uma droga por outra, o facto do toxicodependente já não precisar de se injectar, visto a metadona ser tomada de forma oral, já é "um grande passo", pois afasta a possibilidade de contracção de outras doenças que dali poderiam advir, como é o caso da sida.

O apoio psicológico é um dos "mais importantes", segundo José Gonzalez, visto a maioria destes indivíduos sofrer de depressões graves, refugindo-se na heroína como forma de fugir à dor. Em casos mais graves, é colocado um fim à dor psicológica optando por um suicídio mascarado de overdose, que é "o que está mais à mão".

Encontrar droga não é problema em Vila Real, mas, segundo o director do CAT, "notamos uma aumento de pessoas que nos procuram quando o produto lhes falta".

No que toca à ténue ligação do CAT com o Centro de Acolhimento RAN, José Gonzalez é peremptório ao afirmar que está "disponível" para que haja uma articulação com esta instituição, "mas não será preferencial", visto defender que o tratamento dos toxicodependentes em comunidades terapêuticas será mais eficaz se estes forem enviados para locais mais afastados de casa.

CAT e RAN "recusaram convite"

Perante os números apresentados pelo IPDT, Albertino do Fundo, vereador na Câmara Municipal de Vila Real e responsável pelo pelouro da acção social, reconhece que estes estão "abaixo da realidade". Por esse motivo, a Câmara tem-se empenhado no projecto de luta contra a pobreza e exclusão social, dando o apoio "possível" aos toxicodependentes do concelho. Inseri-los no mercado de trabalho, oferecer-lhes as principais refeições do dia e dar- -lhes as mínimas condições necessárias, são alguns dos passos que a Câmara "tem vindo a dar" no sentido de combater a epidemia da droga.

A autarquia não tem tido uma relação muito próxima com a comunidade terapêutica RAN e o CAT de Vila Real. Uma situação que remonta a 1999, quando estas duas instituições "foram convidadas a participar num programa para o desenvolvimento do concelho", um convite que "ambas recusaram". "O CAT e o RAN recusaram o nosso convite", refere o vereador. Desde então a relação tem permanecido um pouco "fria". "O CAT, na altura, apenas aceitaria o nosso convite no caso de mais nenhum organismo entrar no projecto, mas naturalmente que não cedemos", explicou Albertino do Fundo. No que toca à comunidade terapêutica RAN, a relação não é mais estreita porque, segundo o vereador, "a única coisa que nos pedem é apoio financeiro, algo que não podemos dar". Apesar disso, a autarquia pretende alargar a sua relação a outros organismos, pelo que o vereador salienta estar "aberto" a que outros organismos participem no programa.



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