Agricultores do vale da Campeã, em Vila Real, queixaram-se hoje que o granizo provocou prejuízos elevados nos campos de milho, que muitos utilizam para alimentar os animais, como as vacas produtoras de leite.

Em Aveçãozinho, aldeia da freguesia da Campeã, Hermínia Grilo meteu as mãos num amontoado de pedras de gelo que esta manhã ainda permaneciam num terreno perto dos seus campos de milho.

“Tenho 73 anos e nunca vi nada assim”, afirmou esta agricultora.

Ao final da tarde de terça-feira, uma tempestade de granizo, vento e chuva forte atingiu a zona da Campeã, freguesia do concelho de Vila Real que se situa entre as serras do Alvão e do Marão.

Os agricultores falam em cerca de 30 a 45 minutos de mau tempo que praticamente “destruiu” os campos agrícolas deste vale.

Depois de um ano de seca, de aumento generalizado dos custos de produção, desde o combustível aos fertilizantes, agora foi o granizo que atingiu estes produtores.

“Isto não tem salvação”, lamentou Hermínia Grilo.

A seu lado, a filha Alda Maio, 43 anos, também agricultora, contabiliza perdas nos seis hectares de milho que este ano semeou e que serviria para alimentar as 25 vacas leiteiras.

Nas suas contas, investiu cerca de 5.000 euros na terra. “O gasóleo duplicou, os adubos triplicaram, sementes e agora estamos sem nada. O problema não é o que já perdemos, o problema é o que vamos dar às vacas daqui até ao próximo ano”, referiu, lembrando que também escasseia no mercado o alimento para os animais.

Mas a tempestade destruiu também as hortas que servem para autoconsumo da população local.

“Nunca fizemos seguro e nem sei se o seguro cobre estes prejuízos”, referiu Alda Maio.

À pergunta e agora, a agricultora respondeu: “Isso pergunto eu, e agora? O que fazemos? Precisamos de ajuda”, afirmou.

O olhar de Alcídio Portela, 59 anos, é de tristeza enquanto olha para a horta onde as batateiras já estavam crescidas. “Vivemos disto e já não vamos colher aqui nada”, lamentou.

Em Aveção do Meio, este agricultor semeou seis hectares de milho, com que contava alimentar as 28 vacas que tem para produção de leite e de carne.

“O nosso maior problema é como vamos pagar as dívidas. Vivemos disto e já são 11.500 euros que aqui estão investidos, desde lavrar os terrenos, sementeiras, adubos e monda química”, salientou Alcídio Portela.

A tempestade veio, frisou, “acabar” com tudo, depois da seca e dos aumentos dos custos de produção. “É mesmo desanimar”, nem sei, nem o que fazer da vida agora”, frisou.

O milho seria para a alimentação do gado. “Esta noite estive bastante tempo acordado a pensar no que fazer agora. Vou aguentá-los com alguma palha, mas depois não sei, se calhar vou ter que vender os animais, vou ter que parar. Não tenho hipótese, não tenho dinheiro para ir comprar ouros alimentos para eles”, salientou.

O feno que colheu este ano teve, também, uma quebra de “cerca de metade” por causa da falta de água.

As pedras de granizo “dizimaram” milho, batata, cebolo, tomateiro, couves. No ano passado colheu 15 toneladas de batatas e, este ano, contava retirar da terra umas “11 toneladas”, mas depois da tempestade diz que “nem um terço”.

“Seguro? Não, não tenho, porque as companhias de seguro não arriscam em fazer isso. Já se tentou, mas nem para animais, nem para as culturas, não querem fazer”, referiu.

Alcídio Portela garante que os agricultores precisam de apoios, nomeadamente por parte do Ministério da Agricultura.



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