O Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Marão – Douro Norte tem 100 mil utentes inscritos, dos quais 3.300 sem médico de família, disse o diretor executivo, que aponta como maior dificuldade a fixação destes profissionais.

Gabriel Martins disse à agência Lusa que o mapa de pessoal “está preenchido” neste ACES, que abrange os concelhos de Alijó, Mesão Frio, Murça, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião e Vila Real.

De acordo com o responsável, são cerca de 70 médicos de família, com uma média de idades na faixa dos 40 anos, tendo sido ultrapassado o “período mais crítico das aposentações”.

Os clínicos espalham-se por 11 unidades de saúde familiar (10 modelo A e uma modelo B), onde estão inscritos 100 mil utentes.

“Temos cerca de 3.300 utentes sem médico de família, o que num universo de 100 mil utentes inscritos digamos que é pouco”, referiu Gabriel Martins, que justificou que este número se deve “a um conjunto de rescisões de contratos”, que ainda não foi possível substituir, mas que espera ver resolvido em junho.

Deve-se ainda, acrescentou, a um aumento de migrantes que se instalaram em Vila Real. São cerca de mil à espera de atribuição de médico de família, uma situação que, segundo disse, “também está em vias de resolução”.

“Nós não temos tido grandes problemas de recrutamento, temos tido sim problemas na fixação”, afirmou, considerando que este “é um problema que vai muito para além da questão remuneratória”, elencando outras condicionantes, como o local de formação, o suporte familiar e as opções de vida de cada profissional.

“Do nosso ponto de vista, o atual modelo de recrutamento dos médicos de família também é propício a estes problemas de fixação porque é ‘cego’ à preferência do profissional”, considerou.

Ressalvou, no entanto, que esta situação pode ser corrigida através de processos de mobilidade, mas que “podem demorar algum tempo”.

“A nossa realidade é que há um número considerável de médicos que escolhe como local de trabalho inicial o nosso agrupamento, mas que após seis meses, com a oportunidade de um novo concurso, arranjam colocação em outras unidades, pedem para sair e, se forem substituídos, saem”, exemplificou.

Isto origina uma grande mobilidade dos profissionais e queixas por parte dos utentes que, em poucos anos, conhecem “quatro ou cinco médicos de família diferentes”.

“O que vai um pouco contra o que deve ser a essência da medicina geral e familiar”, apontou Gabriel Martins.

A dificuldade de substituir clínicos, por exemplo de baixa ou licença de maternidade, foi também um aspeto apontado pelo responsável, que referiu que não “há nem instrumentos, nem mercado para promover a substituição”.

Dentro do próprio ACES as realidades são diferentes. O diretor disse que em concelhos como Alijó, Mesão Frio ou Régua tem sido “mais difícil fixar” profissionais.

Por isso defendeu que, nestas áreas mais carenciadas, o médico “têm necessariamente que ganhar mais” e acrescentou mais “uma variável que tem que ser pensada”, que é a “componente familiar” de quem se desloca para trabalhar na região.

Gabriel Martins destacou o “apoio extremamente importante” dos municípios, que disse que “são sensíveis a este problema” e “têm procurado ajudar”, com apoios a nível da habitação, transporte e até na identificação de médicos que têm vontade de se fixar nestas regiões.

Na sua opinião, as unidades de saúde também têm que ser atrativas e bem organizadas, e adiantou que se pretende que “a curto prazo” as USF migrem do modelo A para o B, mais atrativo do ponto de vista remuneratório e que podem, elas próprias, procurar profissionais em vez de se estar “sempre dependente da abertura de uma vaga”.

Gabriel Martins elencou ainda a questão da formação e salientou a “importância estratégica” de ser criado o curso de medicina em Vila Real, um processo que está a ser trabalhado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em conjunto com as estruturas de saúde locais.

E, na sua opinião, se um jovem estudar, fizer a formação especializada e até constituir família, mais probabilidades tem de ficar na região. “Temos muita expectativa que isso aconteça”, frisou.



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