Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Onde andam as Bruxas, afinal?

No conceito popular, a bruxa é uma mulher que tem pacto com o demónio e as circunstâncias que lhe conferem o estatuto podem ser de três naturezas: 1 – o fruto de um coito de uma mulher com o demo; 2 – a última de sete filhas seguidas da mesma mãe e que não haja tido por madrinha a irmã mais velha; 3 – o dom obtido por herança de outra bruxa após um convívio, assumido ou desacautelado, com ela. As duas primeiras são as que apresentam maior consistência na memória oral, ajudando, inclusive, a estabelecer uma dualidade entre a bruxa e a feiticeira, no conceito popular. “A bruxa nasce, a feiticeira faz-se”, diz um velho provérbio. Por sua vez, a terceira natureza resulta da falta de “zelo” durante o convívio estabelecido em vida com uma bruxa. Em algumas aldeias de Trás-os-Montes diz-se que a mulher que herdar a peneira de uma bruxa, ainda que o faça inconscientemente, virá a tornar-se bruxa também. Existiam também alguns cuidados, tidos antes ou depois do parto, não só para evitar esta sina, mas também para impedir que a criança fosse sujeita a quaisquer atos de bruxaria. Assim, havia quem atasse uma tesoura com uma fita no leito da mulher em vias de dar à luz, e, depois do parto, colocasse à cabeceira da cama uma vela acesa (que seria aí mantida até ao batizado), mas igualmente uma tesoura em forma de cruz, uma faca, uma figa (também posta ao pescoço da criança), uma meada, um rosário de cabeças de alho. Há também testemunhos sobre o uso de drupas de trovisco (apertadas dentro de uma meia) colocadas ao pescoço da criança, assim como dentes de porco-bravo, cabeças de víbora, pedras de raio, ferraduras e chifres de boi pendurados atrás da porta, entre outros talismãs. Enquanto isto, a primeira camisa do recém-nascido era-lhe vestida às avessas, e havia sempre o cuidado de não o trazer para a rua enquanto não fosse batizado. Mesmo dentro de casa, eram muitos os cuidados a ter com certas visitas. A vela acesa permanentemente após o nascimento era para impedir que, a coberto do escuro ou durante o sono da criança, esta recebesse a visita de alguma bruxa, um risco que irá diminuir (ou acabar) com o batizado. Quando uma criança, naquela fase, se encontra muito magra diz-se que está “chupada das bruxas”. Existe também a expressão “andar o menino na mão das bruxas” como sinónimo de andar de mão em mão numa casa onde se encontram muitas pessoas. Em algumas aldeias transmontanas, quando há suspeita de presença de bruxas, costuma varrer-se as ruas e as casas com vassouras feitas de arbustos de trovisco.

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(Bibliografia: PARAFITA, A. – O Maravilhoso Popular, Lisboa, Plátano Editora, 2000)


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