Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Chorai, netinhos, chorai!

Hoje é a noite da “serrada da velha”. A tradição manda que aconteça, exatamente, na 4ª feira do meio da Quaresma. Hoje, portanto. “Chorai, netinhos, chorai!”… é como se entoa no ritual.

E quem é, afinal, esta “velha” (que traz consigo resquícios do culto pagão de esconjuro das trevas invernais, da esterilidade dos campos, almejando o rumo da luz esperançosa da primavera, o tempo da fecundação e procriação)?

Trata-se, na verdade, de uma figura simbólica, uma entidade mítica (tal como a do “arco da velha”, designação popular do “arco-íris”…), conotada com as agruras da fome, privações, jejuns, repreensões e penitências quaresmais. A “velha” é, pois, a Quaresma. Serrar a velha é serrar a Quaresma ao meio, em rituais protagonizados por adolescentes com atos de rebeldia contra os rigores e a censura impostos pela Quaresma. Atos de rebeldia que apenas recaem sobre as senhoras idosas quando se reconhece serem elas as guardiãs das mais respeitosas imposições dos bons costumes locais. Em Trás-os-Montes serra-se um “toro” à porta dessas senhoras, razão por que os respetivos versos têm o nome de “toradas”.

Enfim, conhecer uma migalhinha que seja do sentido antropológico destas tradições, não faz mal a ninguém.

 


Partilhar:

+ Crónicas