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“Caretos” de Podence, desde há segundos Património Mundial

Retrato de parafita
Alexandre Parafita

“Caretos” de Podence, desde há segundos Património Mundial

[A notícia chegou-me, às 16h50, de Bogotá pelo Diretor do Diário de Trás-os-Montes, a quem agradeço]

[Publico agora o texto do parecer que emiti, em 22 de março de 2017, a pedido dos promotores da candidatura a Património Mundial Imaterial das Festas de Inverno – Carnaval de Podence, para acompanhar o processo junto da UNESCO]

«A figura emblemática dos Caretos de Podence é hoje uma das raras representações ativas das festas e rituais do ciclo de inverno, traduzindo a herança das antigas conceções cíclicas do tempo que tomavam como base o ano solar e a sua estacionalidade. Estudado na Península Ibérica por antropólogos modernos, como é o caso de Gonzalez Reboredo, tal é o contexto das celebrações do entrudo, que perduram em algumas comunidades do nordeste transmontano, com momentos de grande interesse pela qualidade dos seus rituais festivos. Tempo de mínima potência solar, onde predomina a noite, associada ao mundo dos mortos, é momento propício para que as pequenas comunidades levem a cabo uma espécie de catarse festiva para reorganizar o seu microcosmos sociocultural em preparação da chegada de um tempo novo, mais esperançoso, o tempo de um novo ciclo produtivo.

Mantendo uma grande coerência com os referentes ancestrais, os Caretos de Podence, na sua expressão icónica, personificam os seres sobreanaturais, herdeiros dos deuses diabólicos venerados na Roma antiga desde o império de Júlio César. A sua fisionomia, com as máscaras demoníacas, impondo um misto de terror e diversão, apresenta evidentes semelhanças com as divindades das festas Lupercais romanas que eram celebradas no mesmo período do ano em honra do deus Pã, também conhecido por “Fauno Luperco”. Esta figura apresentava-se com aspeto diabolizado, cornadura de bode e corpo peludo, perseguindo as pessoas que fugiam aterrorizadas. Note-se que também uma das funções dos Caretos de Podence é perseguir e chicotear as pessoas incutindo-lhes medo, especialmente às raparigas. Ignotos nas suas máscaras de lata, chocalhos à cintura, fatos de franjas de cores garridas feitas de linho e lã, percorrem os cantos da aldeia, entram e saem pelas janelas das casas e alpendres, trepam aos telhados e arrastam para a rua as raparigas indefesas sujeitando-as ao barulho das chocalhadas e ensaiando com elas rituais eróticos. As raparigas, caso não queiram entrar neste “jogo”, vestem-se de “matrafonas” (mascaradas como eles) e saem também para a rua, onde serão imunes a quaisquer fúrias ou perseguições. O cortejo dos caretos completa-se com os “facanitos”, crianças mascaradas de trasgos ou mafarricos, que acompanham os demais, cumprindo, também eles, o seu próprio ritual de iniciação, e garantindo, ao mesmo tempo, a continuidade da tradição.

Em contraste com as celebrações carnavalescas das grandes urbes, onde é percetível todo um processo de miscenização cultural geralmente vazia de sentidos identitários, há que reconhecer nas celebrações em torno dos Caretos de Podence uma vertente identitária profunda. Enquanto repositório de diversidade cultural, envolvendo práticas e expressões que ajudam a demonstrar a riqueza do Património Cultural Imaterial e aumentar a consciencialização sobre a sua importância, é de toda a justiça que venham a integrar a Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da UNESCO.»

 

Vila Real, 22 de março de 2017

Alexandre Parafita, PhD

Escritor e etnógrafo.

Doutor em Cultura Portuguesa /especialidade Património Cultural Imaterial

Investigador Integrado do Centro de Estudos em Letras (CEL)

da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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