Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

A Morte leva-os… o Diabo seleciona-os!

Findo o Entrudo, acabaram as tréguas do pecado. Amanhã é Quarta-Feira de Cinzas. As cinzas é o que sobra das “queimas” no entrudo. Queimou-se, pois, o que resta dos dias de pecado. Na ótica cristã, inicia-se agora a caminhada para um tempo novo, o tempo primaveril, sempre mais esperançoso que o inverno que fica para trás. Mas para o alcançar, há que suportar um tempo de purgação, penitência, de rigores incontornáveis: a Quaresma.

Por isso, amanhã saem a Morte e os Diabos à procura dos incautos. Os Diabos, sempre mais frenéticos, pois andam sequiosos de almas pecadoras. Ou seja, a Morte leva-os e o Diabo seleciona-os!

Assim se cumpre a tradição transmontana, única em Portugal. Em Vinhais, saem à rua a Morte e os Diabos (a lógica da tradição manda que seja na 4ª feira, mas, pelo que vejo no cartaz, outras “lógicas” empurram-nos para sábado…).

Por sua vez, em Bragança estas duas tenebrosas criaturas saem acompanhadas de uma outra: a Censura. A Morte, na imagem de um esqueleto com a sua gadanha. O Diabo com os cornículos e o tridente. A Censura com enormes tesouras à cintura. Interessante a simbologia desta última: reflete o equilíbrio, a repreensão pelos atos levianos; ou seja, um derradeiro esforço para que, perante a inevitabilidade da morte, o diabo não venha de garras afiadas arrastar mais uma alma para o seu reino infernal.

Nada acontece ao acaso nestas tradições. Nada é importado. Tudo tem coerência na lógica ancestral do povo cristão transmontano.


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