Luis Guerra

Luis Guerra

A Liberdade

Hoje é o Dia da Liberdade!...

Independentemente do lado em que os acontecimentos nos puseram, algum significado profundo se tem de reconhecer à liberdade para ter o poder de mobilizar povos, ativistas, filósofos e poetas, ao longo da História, na sua demanda por alcançarem a mesma.

Será a liberdade aquele prazer do ócio versejado por Fernando Pessoa?...

Ou o espaço puro de uma praia que encantava Sophia?...

Ou o gesto de rebeldia dos povos e minorias oprimidos perante a tirania?...

Ou os direitos civis de inspiração liberal, denunciados como valores burgueses pelo jovem Marx?...

Ou a escolha necessária face à "náusea existencial", de que falava Sartre?...

Ou nada mais que a livre iniciativa económica defendida por Hayek?...

Ou a fonte de todo o sentido, como explicava Silo?

Ou a capacidade de se autodeterminar sem pressão externa, como sustentam muitos humanistas?...

Em qualquer caso, temos que convir que só há verdadeira liberdade humana quando a mesma não está limitada a cada indivíduo e está igualmente presente nos outros.

Porém, para além das interferências externas na nossa liberdade de escolha, como nos podemos libertar do nosso próprio "eu" e da tendência repetitiva em que o mesmo nos encerra?...

Talvez seja necessário falar antes de libertação, de movimento, de processo, e não tanto de liberdade como algo estático, como um lugar a que se chega.

Talvez seja necessário descobrir, passo a passo, que há margem para o livre arbítrio para além do solipsismo fenomenológico de Husserl; que há um “lugar” interior de onde os atos mentais irrompem calmamente, carregados de sentido e de verdade interna, fora da normal atividade compensatória da consciência, movida pelos seus interesses; um espaço mental onde se manifesta o Ser de que falava Heidegger; um lugar de encontro com o "si-mesmo" a que se referia Maslow.

Porque "apesar de tudo... apesar dessa desgraçada reclusão, algo leve como um som longínquo, algo leve como a brisa matinal, algo que começa suavemente, vai abrindo caminho no interior do ser humano..." (Silo. Silo a Céu Aberto, 2005. www.silo.net).

É essa a liberdade a que aspiro, a liberdade que guia os meus passos, a liberdade que se celebra neste dia, a liberdade que nos chama desde o futuro.

 

Luís Filipe Guerra, juiz, membro do Centro Mundial de Estudos Humanistas

[email protected]


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