Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

A aventura infernal de ser Professor hoje

Nos últimos dias as notícias ensombram a classe docente. O Ministério da Educação ameaça com processos judiciais professores doentes devidamente protegidos pelas leis em vigor, ainda que apenas lhes tenha oferecido uma maquiavélica possibilidade de concorrerem a uma escola até 50 quilómetros em “linha reta” (!) de casa, razão por que, como titulou o JN, “mais de metade das vagas para professores doentes ficaram por preencher”.

O Ministério da Educação o que está a fazer é a rebaixar a honorabilidade dos professores, desprestigiando socialmente a classe e a gerar na opinião pública a ideia de que os professores são uma espécie de seita de oportunistas, mandriões e vadios.

O Ministério da Educação está a gerar um tal ambiente no Ensino que conduz a uma corrida dos professores às aposentações, como dizem as notícias. Poderiam ficar mais uns anos… Mas quem consegue suportar este regime infernal?

O Ministério da Educação não sabe (ou faz que não sabe, e procura que a sociedade também não saiba) que os professores não trabalham apenas de sol a sol nas escolas com turmas enormíssimas, tantas vezes carregadas de problemas, mas (com ou sem “mobilidade por doença”) trabalham também pelas noites e madrugadas dentro (com pastas e pastas de planos de aula, planos de recuperação de alunos, registos regulares da evolução dos alunos, informações para encarregados de educação, planos de articulação horizontal e vertical de conteúdos com as diversas disciplinas e com outros anos de escolaridade, elaboração de materiais pedagógicos adequados às turmas, grelhas e mais grelhas, fichas de trabalho, testes de diagnóstico e testes de avaliação, elaboração e correção de fichas de leitura, exercícios de expressão escrita, relatórios de tutorias, relatórios de autoavaliação do desempenho docente, leitura e análise de legislação e documentos orientadores das disciplinas lecionadas e da escola com as metas a atingir, leitura e análise do Projeto Educativo da escola, do Projeto Curricular de Agrupamento, do Regulamento Interno, do Estatuto do Aluno, elaboração de relatórios de todas as atividades (seja das aulas de apoio pedagógico, seja dos projetos, dos clubes, da direção de turma), elaboração das adequações dos Processos de Ensino e Aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais, elaboração, atualização e avaliação do Projeto de Turma, implementação do Plano Digital de Turma, Planos de Recuperação de Aprendizagens 21-23 (motivados pelos confinamentos da Pandemia), implementação de projeto de promoção e educação para a saúde e educação sexual, processos relativos ao “cheque dentista” dos alunos, preparação de reuniões e redação das respetivas atas de Conselhos de turma, conselho de diretores de turma, de projetos, de clubes, do conselho pedagógico, de encarregados de educação, de departamento, de avaliação de desempenho docente… e a tudo isto ainda se juntam as necessidades de formação e atualização científica, pedagógica e tecnológica a que os professores estão permanentemente obrigados).

Irra! Mas será que ainda sobra tempo a um professor para viver?


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