Chrys Chrystello

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A amizade é um verbo

Crónica 475 a amizade é um verbo 23.7.2022

Desde junho que isto foi um mês complicado mas com momentos agradáveis, depois do SARS-COV2 e pós-covid que nos afetou aos três de formas distintas. 

Depois tivemos a saga (que prometo sempre irrepetir) da pintura do andar de baixo da casa e o pátio nas traseiras, que nos deixou uma nuvem quase invisível de poeiras infiltradas em tudo apesar de os móveis e bibelôs estarem protegidos e cobertos. Uma tarefa de 4 a 5  dias conseguida em dois em que aproveitamos para ir à cidade tratar de coisas  e fugir do cheiro e da poeira.

Depois surgiram dois momentos agradáveis . sei, por experiencia própria que os meus maiores amigos , mais cedo ou mais tarde, acabam por revelar bem a sua verdadeira cor, como traidores de amizade que  neles depositei. Tanta vez já me aconteceu e eu, na bondade infinda de ser humano, continuo a confiar nas pessoas até que o egoísmo delas e os seus interesses pessoais se sobreponham à amizade que neles depositamos, crentes de que temos um sexto sentido e este não nos engana….errado, passa a vida a enganar-nos e sempre quando menos se espera ou quando estamos mais fragilizados ou vulneráveis. Eu nem sou de amizades rápidas ou fáceis, deixo-as germinar e sobreviver à inclemência dos invernos ilhéus Ciclicamente acontece, depois há um período de luto em que passamos a mais reservados e cuidadosos e logo que baixamos a  guarda e deixámos abrir os portões da amizade, quando ela se encontra aparentemente madura e pronta para a colheita dos seus frutos, eis que surge a revelação apocalítica da traição dessa amizade.

Perdi a conta às vezes que isso já aconteceu, por isso os dois episódios breves que a seguir narro têm importância. Primeiro foi a insistência duma pessoa da Austrália que veio a S Miguel querer estar comigo, depois de não nos vermos há 30 anos ou mais. Nem pertencia ao círculo mais íntimo nem ao mais frequente mas insistiu  e acedi a matar saudade do país e gentes (além do mais era amiga de infância da nossa madrinha de casamento). Fomos encontrar-nos com a Manuela e o seu marido australiano de quatro décadas nas Furnas onde a excursão turística deles os levou e ali passamos uma hora de amena cavaqueira. Com ela transbordante de felicidade por me rever e conhecer a minha cara-metade com a promessa de retornarem com mais tempo e a oferta para os visitarmos na capital do Império para onde se mudaram há 3 anos.

Passados dois ou três dias no remanso de fim da tarde quando me preparava já para captar os tons espantosos do pôr-do-sol que alegra a minha existência bateram á porta, uma desconhecida que me queria falar e me contou que era da Lomba da Maia de casas que já nem existem  e que estivera na véspera com um amigo meu que mer queria mandar um abraço e  me mandou um cartão de visita, era nem mais nem menos do que o grande amigo de Bragança, o Eleutério, provedor da Santa Casa que me editou o Cancioneiro Transmontano de 2005 e a quem a minha permanente diáspora afastara em 2010 quando os colóquios da lusofonia que ele tanto apoiou deixaram de acontecer em Bragança.  Este ano quando fomos ao colóquio em Belmonte acabamos por cancelar a ida prevista a Bragança, onde queríamos almoçar com ele no nosso pouso favorito, o restaurante Poças que privilegio desde os anos 70. O gesto simpático dele dizer  a esta nativa da Lomba que aqui tinha um amigo a quem mandava um abraço tocou e sensibilizou, e logo que lhe telefonei a marcar encontro futuro possível.

Estes são dois exemplos que apesar de mil e uma traições só servem para comprovar que a amizade é um verbo… bem hajam – ambos - pela alegria que me deram.

Chrys Chrystello, [email protected]

Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

[Australian Journalists' Association - MEEA]

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