Bruna Lopes sagrou-se campeã no Circuito do Estoril a 25 de outubro dominando sem oposição o Campeonato Nacional Classe Júnior em 85cc. No seu primeiro título conquistado, a piloto brigantina fez história ao vencer o campeonato, já que nunca antes uma rapariga tinha conseguido alcançar tal feito.
 
Grande Entrevista
Diário de Trás-os-Montes (DTM): Foi muito difícil para ti conquistares o campeonato nacional?
Bruna Lopes (BL): Não! Foi bastante fácil conseguir liderar durante todas as provas com vantagem sobre o segundo lugar. Sou a primeira menina a ser campeã nacional. É muito bom!
 
DTM: Participaste, em simultâneo, em dois campeonatos: em Portugal e Espanha. Neste último, obtiveste um honroso 11º lugar. Mas, em ambos, tu és a única rapariga?
BL: Sim, tanto em Portugal como em Espanha.
 
DTM: Quais são as principais diferenças entre os dois? O campeonato espanhol é mais competitivo que o português?
BL: O nível em Espanha é muito superior. Quase que me atrevia a dizer que é o melhor campeonato do mundo, pelo menos na minha classe. A verdade é que existem muitas diferenças. Por exemplo, em Espanha, temos muitos mais treinos do que em Portugal, lá é tudo muito mais calmo e melhor organizado, já para não falar dos apoios e da sua disponibilidade para treinar.
 
DTM: Como é que é para uma jovem de 13 anos ganhar num universo quase que exclusivamente masculino?  
BL: Sinto-me bastante orgulhosa, não só por deixar bem a minha cidade, como também as mulheres, visto que nós também conseguimos fazer o que os homens fazem e muitas vezes melhor ainda. Foi uma época muito positiva, pois demonstrei sempre o meu valor. Eu consigo fazer e tentei sempre dar o meu melhor.
 
Apesar de ter feito uma prova em 2013 no Estoril, a estreia em competição para Bruna Lopes só aconteceu no ano seguinte, onde correu ao longo de toda a época, amealhando pontos que lhe permitiram tornar-se vice-campeã da modalidade.
 
DTM: Na próxima época, voltarás a participar nos dois campeonatos?
BL: Estamos a analisar e ainda não sabemos o que vai acontecer para o ano. Devido à falta de apoios, torna-se tudo bastante complicado. 
 
DTM: Mas gostarias de subir de classe ou preferes manter-te na Classe Júnior 85?
BL: Também ainda estamos a ver. É tudo uma questão de organização e saber se eu já tenho o ritmo necessário para passar para outra categoria ou se me devo manter na mesma para adquirir mais experiência
 
DTM: Qual seria, neste caso, a outra categoria?
BL: Pré-moto3. Correria, assim, com pilotos mais experientes com idades compreendidas entre os 12 e os 16, 18 anos.
 
DTM: Espanha, devido ao seu elevado nível, passa então por ser um dos teus maiores objetivos?
BL: Espanha é o nosso principal objetivo. É onde eu consigo evoluir! É o mundo das motos, basicamente. Mas ainda não temos bem definido aquilo que vamos fazer.
 
DTM: Regressando atrás no tempo e falando um pouco sobre a tua infância, suponho que tenhas sido influenciada pelo teu pai, já que ele próprio foi um piloto de motas. Foi ele que te levou a descobrir e explorar este mundo das corridas?
BL: Sim! Se não fosse o meu pai e toda a influência que ele exerceu sobre mim, eu acho que nunca teria esta ligação tão forte com as motas. Pelo fato de ele ser mecânico, de ele já ter participado em competições de motas, tudo isso ajudou-me também a ver um pouco mais este mundo e a sentir-me atraída por ele. Sempre cresci rodeada por motas, sempre gostei sempre muito de motas e, a dada altura, apercebi-me daquilo que era a competição. Nessa fase, cheguei à conclusão de que correr em pista era realmente aquilo que eu gostaria de fazer e em relação a todos os outro desportos, achei que toda aquela adrenalina fosse a opção certa e aquela, também, que me deixaria mais realizada. 
 
DTM: Ainda te recordas que idade tinhas quando pegaste numa mota pela primeira vez?
BL: A primeira vez que andei sozinha tinha eu dois anos e foi numa moto-quatro pequenina. O meu pai levou-me e lá andei eu a experimentar. Gostei logo desde o início!
 
DTM: Com 11 anos, em 2013, participaste na tua primeira prova no Estoril mesmo antes do campeonato terminar. Mas no ano seguinte, já correste em todas as provas do campeonato e sagraste-te vice-campeã. Como é que se processou essa transição?
BL: Eu acompanhei o campeonato do princípio ao fim e, em todas as corridas, eu pedia ao meu pai para me levar, dizendo-lhe sempre o quanto eu queria experimentar, que queria saber qual era a sensação. Chegou uma altura, em que o meu pai me deixou ir experimentar a mota ao kartódromo de Bragança. Eu adorei! Não só pela aceleração como, também, pela inclinação nas curvas e tudo isso me motivou bastante.
 
DTM: No ano seguinte, em 2014, já participaste, na íntegra, no campeonato português onde conquistaste o título de vice-campeã e fizeste a tua estreia no país vizinho com a participação numa corrida. Como é que correu?  
BL: Em Espanha, não correu assim tão bem. Tive uma queda no segundo treino cronometrado e, infelizmente, tive de ir para o hospital. Mas essa queda serviu, também, para eu adquirir muita experiência numa só prova.
 
DTM: Estando tu numa cidade do interior, que não é conhecida nem pela qualidade, nem pela quantidade dos seus circuitos, pois não possui nenhum, como é que consegues treinar?
BL: É muito complicado! Tudo começa pela falta de patrocínios como, também, o kartódromo mais próximo de Bragança que eu tenho e que me permite fazer um bom treino é Vila Real e já é bastante longe. Só mesmo quando os meus pais podem, é que eu vou treinar.
Os pilotos espanhóis, por exemplo, duas semanas antes já estão a treinar nos próprios circuitos e eu é chegar lá e fazer a corrida.
 
DTM: Pode-se dizer que essa foi a maior dificuldade que tiveste de superar ao longo de toda a época?
BL: Sim, sem qualquer dúvida. Foi muito complicado para mim porque todos os espanhóis estavam em vantagem. Quando eu chegava na quinta-feira, os meus adversários já haviam treinado e eu não podia porque os custos são muito elevados e os treinos muito caros. 
 
DTM: Como é que consegues conciliar os estudos com a componente desportiva do motociclismo? É fácil para ti manteres esse equilíbrio?
BL: Por vezes, não é nada fácil. Muitos fins-de-semana de corrida coincidem com os testes da escola. Inclusive, às vezes, peço para sair mais cedo às quintas porque tenho uma corrida em Espanha e posso ter um teste sexta. Tenho de pedir aos professores para fazer os testes noutros dias e um piloto nunca consegue estudar numa corrida porque vai concentrado para aquilo e não vale a pena levar os livros sequer.

DTM: Para terminar Bruna, qual é o teu maior sonho enquanto piloto de motociclismo?
BL: Eu gostaria muito de chegar ao campeonato mundial na categoria de Moto3, mas o meu sonho mesmo seria chegar ao MotoGP. O percurso de um piloto, normalmente, é campeonato espanhol, em seguida, campeonato europeu e, depois sim, dá-se o grande salto para o mundial. E era isso que eu gostaria que acontecesse comigo. Não é impossível, de todo. É dar um passo de cada vez.
 
 



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