Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Desinformação anestesiante

 

Crónica 194 da desinformação anestesiante 5.6.18

 

Começo pela sentença de morte ditada pelas autoridades da Bulgária à vaca grávida que atravessou uma fronteira europeia para a Sérvia antes de ser devolvida ao seu legítimo dono. Mas como as leis europeias são muito exigentes e ela atravessou ilegalmente a fronteira terá de ser abatida antes de dar à luz daqui a três semanas. É o que dá deixarem vacas à solta sem documentos…

Há dias a dívida pública atingiu não sei quantos milhões (250 mil milhões!), o valor mais alto de sempre, mas ninguém se importou, pois, as notícias dos telejornais andam há um mês obcecadas com um burro de carvalho qualquer dum clube da bola.

O ministro da educação anunciou que o tempo de serviço congelado aos profes não vai contar, mas ninguém deu conta com as convocações de assembleias gerais divergentes naquele clube de futebol.

Os combustíveis continuam a somar e a seguir numa ascendente espiral a que ninguém quer pôr cobro, e daí eu dizer que o meu carro passara a híbrido: anda a 62% de impostos e 38% de gasóleo, mas os tugas estavam muito ocupados a pensar nas férias no estrangeiro e nos Algarves do meu descontentamento.

Faltam 500 anestesistas no país e 13 nos Açores, mas o povo não se manifesta pois já anda naturalmente anestesiado.

O Brasil que enxotou a Dilma e prendeu o Lula continua a vender a sua riqueza do petróleo pré-sal aos americanos que engendraram os golpes, os camionistas fazem greve, tudo sobe, mas agora não há paneleiros (os que batem panelas) nem patos amarelos nas ruas…. E, entretanto, atingiu a taxa de 30 assassinatos por cada cem mil habitantes numa escalada imparável. Enquanto isso o racismo está descontrolado, a PM também (alguma vez deixou de estar mesmo depois do fim da ditadura?) mas o brasileiro prepara-se é para vibrar com a Copa (Taça) do mundo de futebol.

Na Tailândia uma baleia morreu na praia com 80 kg de plástico no buxo, as praias de Bali têm toneladas de lixo, há ilhas no Pacífico maiores que a França cheias de lixo e de plástico, outras surgem no Mar do Arte e continuamos a ter plástico em tudo o que nos rodeia, mas o que importa são os resultados da seleção de futebol.

Morreu Frank Carlucci o ex-embaixador norte-americano enviado por Henry Kissinger para salvar o mundo dos comunistas, e que muitos dizem ter evitado o triunfo do comunismo em Portugal. Em bom português esse amigo do Mário Soares sempre disse que a CIA não interferiria em Portugal nos anos quentes de 1974 e 1975. Claro que não, até convenceu os açorianos de que podiam ser independentes…. e a CIA nunca teve intervenção nas 151 invasões de países, nem é responsável pelos mais de 200 anos de guerra que os norte-americanos levam na sua História, pelas centenas de golpes de estado criados espontaneamente, pelas primaveras políticas falhadas, pela propagação da democracia americana sempre tão indisposta com os países que têm recursos como petróleo, e a quem os governos locais incomodam, claro que nada disto é exclusivo dos EUA mas é um campeonato em que eles lideram há muito seguidos de perto pela ex-URSS e por tantos outros pequenos poderes que nascem como cogumelos em todos os cantos do mundo.

Enquanto isto no QATAR, o CEO da companhia aérea diz que uma mulher não pode liderar uma companhia aérea “só um homem pode dirigir a empresa, por ser um cargo "com muitos desafios".

Simultaneamente em Portugal “Roupa de homem muda a cabeça da mulher: Católicos ultraconservadores repescam sermão antigo. É verdade que o texto, intitulado Notificação concernente às mulheres que vestem roupas de homem, tem 58 anos. Foi escrito em 1960 pelo cardeal Giuseppe Siri, à época arcebispo de Génova. Mas a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, sociedade de vida apostólica da Igreja Católica, considerou-o de absoluta atualidade. Tanto assim que preencheu na íntegra com o sermão do cardeal Siri a última edição do boletim que distribui aos fiéis, chamado O Farol. Ponto de partida: “A roupa masculina muda a psicologia da mulher.”

A preleção agarra-se às calças num corpo feminino, como exemplo paradigmático da “imodéstia”. Consequências do “uso de vestes masculinas por parte das mulheres”? Além da mencionada “mudança da psicologia feminina própria da mulher”, afeta-a também “como esposa do seu marido, por tender a viciar a relação entre os sexos”. E ainda “como mãe das suas crianças, ferindo a sua dignidade ante os seus olhos”. O sermão apenas visa o “decoro” da mulher, dando passos em volta para chegar sempre à prédica de partida, sublinhando que o importante “é preservar a modéstia, e o eterno sentido de feminilidade, aquela feminilidade que, mais do que qualquer outra coisa, todas as crianças continuarão a associar à face da sua mãe”. Depois, torna-se feroz. Assim: “(…) Fazemos bem em recordar as demandas severas que as crianças instintivamente fazem à sua mãe, e as profundas e até terríveis reações que nelas se afloram pela observação dos seus maus comportamentos.” Para logo acrescentar, ainda mais ferino, que “a criança pode não saber a definição de exposição [de partes do corpo], de frivolidade ou infidelidade, mas possui um sentido instintivo que reconhece quando essas coisas acontecem, sofre com elas, e é amargamente ferida por elas (...)”. A conclusão encontra-se a meio da prédica: “(…) Quando uma mulher veste roupas de homem”, isso “deve ser considerado um fator, a longo prazo, da desintegração da ordem humana”.

Abordado o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Barbosa, para um comentário sobre este texto, distribuído a fiéis católicos, a resposta chegou seca, por e-mail. “Não faço comentários sobre o conteúdo do jornal da Fraternidade S. Pio X, é a eles que devem ser pedidos esclarecimentos”. Felizmente soube-se que as pragas aumentam em toda a arte e só em Lisboa já há seis milhões de ratos, ratinhos e ratazanas, mas em Espanha Mariano Rajoy finalmente abandonou o poder sem ser necessário recorrer a raticidas. A Catalunha suspirou de alívio.

Já mais animadoras eram as novidades de que 45% dos alunos portugueses não conseguiam colocar Portugal num mapa da Europa, Saramago sorriu finalmente tranquilo pois era sinal de que a jangada de pedra ia finalmente longe no mar alto, longe da Europa. Nos Açores a maioria dos alunos nem sequer sabe onde ficam as ilhas de baixo ou de cima… e ainda por cima disso 50% eram incapazes de saltar à corda, perícia indispensável para progredir na vida…

O ministro das Finanças autorizou que os salários dos novos membros do Banco de Portugal sejam aumentados em 50%, mas o mesmo governo, pelo seu iluminado ministro da educação, chantageando os professores ameaçava cortar 6 anos e meio de contagem de serviço. E o primeiro-ministro reiterava: “não ser possível acordo com "posição intransigente" de sindicatos de professores, frisou, reiterando que a proposta do Governo permitiria contar dois anos, nove meses e 18 dias.”

 Quanto a isto resolvi propor: ATT PROFESSORES .....DESFAÇAM-SE DOS 23 SINDICATOS E CRIEM UMA ORDEM DE PROFESSORES....ou continuem mais desunidos que nunca e sem conseguirem nada do que é justo.  Infelizmente não auguro sucesso algum a esta minha proposta, que desagradaria ao governo, aos sindicatos e aos seus líderes (que apenas cuidam de manter as suas mordomias e já nada entendem de ensino pois não o praticam há décadas) e permitiria que os professores falassem a uma só voz na defesa dos seus legítimos interesses.

No arquipélago, em especial na sua capital ponta-delgadense, os ânimos andam quentes com a importância da celebração do dia 10 de junho nacional, a vinda de SMH (Sua Majestade Hiperativa) Dom Marcelo II  e esquece-se que a celebrar seria o 6 de junho, verdadeira data da autonomia açoriana. Ponta Delgada será a capital da nação, proclamava ufanamente um editorial de um jornal local. Os pobres, drogados e bêbedos do Campo de São Francisco vão ter uns dias difíceis, mas ignora-se o destino que lhes reserva a organização do acontecimento. Não está prevista a participação de alunos das escolas na preparação do evento, mas como escrevia Terry Costa há dias “O melhor TPC são visitas a locais de interesse como museus, parques naturais, centros de arte, e ainda, crianças que passam horas extracurriculares em programas artísticos conseguem melhor no seu dia-a-dia escolar. Então porque não se muda o sistema? Mais artes, mais sucesso!”

 

E termino com a bela capa de fotoemas, o meu novíssimo livro de que recebi esta semana o primeiro exemplar e sobre o qual apenas há a dizer: Quando surgiu a ideia de concretizar o sonho de criar estes FOTOEMAS (juntar imagens e poesia) nunca imaginei que seria fácil. A magia das fotografias da Fátima Salcedo é dedicada ao Porto, e os meus poemas são uma ode aos Açores. Este livro é, assim, fruto de amores distintos de dois autores, que atravessaram o Grande Mar Oceano, na década de 1970, um rumo à Norte América outro a Timor e Austrália.

Dessas naveganças peregrinas nasceram os fotoemas que ali se reproduzem.”

 

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(Dom Marcelo I foi o padrinho deste, o Marcello Caetano da primavera política que ninguém viu)


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