Sebastião Rebouta dá continuidade a uma arte de família que tem passado de geração em geração

Longe vão os tempos em que a família Rebouta, natural do Felgar, concelho de Torre de Moncorvo, passava os dias a moldar diversas peças em barro, que eram utilizadas na cozinha tradicional. A substituição do barro pelo ferro levou ao declínio da olaria, pelo que, actualmente, Sebastião Rebouta é o único oleiro no sul do distrito de Bragança.
Este artesão vai trabalhando, apenas, para manter a tradição da sua família. Abraçou o ofício desde tenra idade, altura em que começou a ajudar o pai a fazer testos e recebia um tostão por cada peça. Com o passar dos anos foi aprendendo a moldar peças de diversas formas e feitios, mas, actualmente, vê a sua arte à beira do fim, uma vez que não tem seguidores.

Recorde-se que o Felgar foi o centro de maior exploração da indústria artesanal da olaria. Em pleno século XVII e XVIII, os três fornos de louça coziam peças que abasteciam os concelhos de Moncorvo, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Alfândega da Fé e Vila Nova de Foz Côa.
Os alguidares, cântaros, canecas, jarros, púcaros e vasilhas eram algumas das peças que saíam da fábrica do Felgar, onde também se fabricavam artefactos microcerâmicos de carácter etnográfico.

O processo de transformação do barro e o peso e evolução da olaria no Felgar foram estudados por Liliana Reis, aluna do 4º ano de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que chegou à conclusão que esta arte se encontra em vias de extinção.
A extracção do barro nas proximidades das margens do rio Sabor também é tarefa do oleiro, que, antes de conceber a peça, recolhe a matéria-prima e prepara-a para entrar na roda, que é onde os objectos ganham forma.

Com 60 anos de idade, o último oleiro do Felgar tem nas suas mãos o futuro de uma arte que fez história no concelho de Torre de Moncorvo

A secagem, trituração, peneiração, o amassar e o fingimento do barro são as tarefas que antecedem a execução dos utensílios. Após a criação de cada objecto, o oleiro decora-o, seca-o e coze-o num forno de lenha.

Antigamente, o barro era transformado em várias formas desde a malga, aos alguidares e, até, cinzeiros. Agora, os utensílios de barro foram substituídos pela louça de ferro fundido ou esmalte e os oleiros dedicam-se, essencialmente, à criação de peças para decoração.
Segundo o encarregado do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, Nelson Campos, a essência da olaria do Felgar foi-se perdendo ao longo dos anos. Actualmente, esta arte está nas mãos de um oleiro com mais de 60 anos, que vai criando as suas peças num atelier improvisado.

O responsável realça, ainda, que Torre de Moncorvo foi palco de cursos de formação nesta área, financiados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. No entanto, nenhum dos formandos quis dar seguimento à arte, que se encontra mais comprometida do que nunca. “ O principal local de extracção do barro ficará submerso com a construção da barragem do Baixo Sabor”, lamenta Nelson Campos.

Peças históricas levadas pelos espanhóis

Para imortalizar a arte que fez história no Felgar, o PARM - Projecto Arqueológico da Região de Moncorvo quer criar um núcleo museológico dedicado à olaria nesta localidade.
Segundo Nelson Campos, os espanhóis andam pelas aldeias do concelho de Torre de Moncorvo a apanhar objectos de barro sem qualquer identificação de origem.
“São peças arqueológicas quer fazem parte da nossa história, pelo que devem ser conservadas e preservadas num espaço próprio”, salienta o responsável.
Os objectos que, outrora, foram concebidos na fábrica do Felgar são procurados por indivíduos espanhóis que oferecem tachos de esmalte em troca destas relíquias.
“Corremos o risco de perder, para sempre, este pedaço de história. Por isso, temos que agir antes que seja tarde demais”, reconhece Nelson Campos.



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