Dezenas de pessoas concentraram-se domingo à noite em S. João da Pesqueira junto à casa de um estudante africano acusado de agredir dois homens, alegadamente com a intenção de fazerem justiça, mas a GNR rejeita tratar-se de racismo.

O comandante do destacamento da GNR de Moimenta da Beira, alferes Gonçalo Brito, disse à Agência Lusa que foram apresentadas duas queixas contra o mesmo aluno, de 30 anos e natural de S. Tomé, que frequenta o terceiro ano de um curso da Escola Profissional de S. João da Pesqueira.

As queixas foram apresentadas por um homem de 30 anos e por outro de 57, que no domingo «terão sido indirectamente envolvidos numa situação que já teria tido antecedentes no sábado».

Segundo Gonçalo Brito, «houve uma rixa e o senhor (de 30 anos) foi pedir explicações ao estudante dos PALOP porque ficou com o carro estragado, este não terá gostado e terá reagido com uma cabeçada», cerca das 18:00.

«Entretanto, quando esse estava já a apresentar a queixa no posto, cerca das 19:00, soube-se da segunda agressão. O senhor de 57 anos, ao tentar acalmar os ânimos, terá levado um murro», explicou, acrescentando que o homem teve de ser transportado para o hospital de Vila Real e que só hoje formalizou a queixa.

Tudo isto se terá passado na via pública, junto a um café, tendo depois vários populares «desagradados com a situação» decidido ir pedir contas ao estudante africano que tinha ido para a casa com colegas.

«Foi logo de seguida. Estariam lá cerca de 50 pessoas, mas penso que a maior parte delas por curiosidade, até porque era domingo e havia muita gente na rua», contou o comandante da GNR.

Gonçalo Brito referiu que «algumas estariam com material de agricultura e paus nas mãos», mas quando chegaram os agentes da GNR já não encontraram esses artefactos.

«A GNR sensibilizou as pessoas que essa não seria a melhor atitude e acabaram por desmobilizar», acrescentou, convencido de que «foi uma situação pontual, que não tem a ver com racismo ou xenofobia».

Na sua opinião, «o facto de se tratarem de estudantes dos PALOP foi pura coincidência», porque «o que revoltou as pessoas foi ter sido envolvida um homem já de idade e muito respeitado» em S. João da Pesqueira.

O aluno e mais três colegas acabaram por ser retirados de casa pela GNR, «para serem identificados e esclarecidos sobre o seu direito de apresentarem queixa», o que acabaram por não fazer, acrescentou.

Um popular contou à Lusa ser frequente ver alunos dos PALOP envolvidos em distúrbios em S. João da Pesqueira, mas Gonçalo Brito garantiu que esta foi a primeira vez que foram formalizadas queixas.

Avançou que a GNR vai reforçar a vigilância, «mas apenas por prevenção».

O director da Escola Profissional de S. João da Pesqueira, João Almeida, também considera ter-se tratado de um caso pontual, até porque a convivência entre a população e os estudantes africanos tem já cerca de dez anos «e nunca houve problemas».

«Foi uma situação muito desagradável, mas penso que não passou de um desentendimento entre jovens que acabou por ganhar estas proporções por ter envolvido outras pessoas», afirmou.

Segundo João Almeida, dos 180 alunos da Escola Profissional, 16 são oriundos dos PALOP, beneficiando do apoio do Governo português ao nível da alimentação e alojamento e recebendo uma bolsa do Governo do seu país.



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