Adília Cerqueira repete constantemente «O que lá vai lá vai». Como se desejasse convencer-se de que o assassínio de três pessoas e o suicídio de outra no espaço de 30 minutos não assombrarão São Xisto, no concelho de S.João da Pesqueira, por muito mais tempo do que os 13 meses que passaram.

Em Janeiro de 2005, a aldeia perdeu quatro dos cinco habitantes permanentes. A sobrevivente partiu. O lugar é, hoje, um fantasma. Apenas nos dias úteis, porém...

Ao fim-de-semana, Adília - que ostenta amiúde um sorriso de quase sete décadas - e alguns dos proprietários das casas que fazem de São Xisto uma espécie de \"legolândia\" com vista para o Douro escalam a única rua digna da denominação e abrem portas e janelas. Por vezes, há turistas a apreciar. O silêncio, contudo, pouco se move.

\"O meu filho com quem vivo, em S. João da Pesqueira - tenho outro em Itália e um na Alemanha -, desde o que aconteceu que não gosta que eu fique aqui sozinha\". Sempre que está em São Xisto, cuida da casa e do terreno circundante, ofegante de fruta e vegetais.

Uma companheira de fim de semana entrega-lhe o pão para o almoço. Uns primos aguardam-na, numa moradia rosa ao lado da sua, branca.

A amargura assoma. Fugidia, ainda assim \"Sei que não posso ficar aqui sempre\". Nasceu na aldeia e queria-a junto a si até ter de morrer. No entanto, \"às vezes, raramente, estou sozinha. Ou com o meu filho...\"

As recordações das mortes do casal Ernesto e Etelvina e de Maria Alice, mulher de Josemiro, o assassino e suicida que os ciúmes traíram, \"não afectam\" Adília Cerqueira. \"Olhe, nem acreditava que algo como aquilo pudesse acontecer\".

Por outro lado, fosse pela triste fama que São Xisto ganhou há cerca de um ano, fosse pela circunstância de a aldeia ser um exemplo relevante de óptima conservação de uma certa rusticidade e tradição durienses, a sexagenária \"pensava que vinha mais gente\".

\"Sabe? São os próprios donos que cuidam das casas\".

\"Dona Adília, venha lá comer\", gritam-lhe. A chamada coloriu por diversas vezes a conversa com o JN. Por talvez demasiadas ocasiões...

Quatro cadáveres não se esquecem facilmente. Para mais, quando constituem 80% da população de uma localidade.

A meio da tarde de 21 de Janeiro de 2005, à pronúncia do Norte juntou-se um prenúncio de morte.

Pereceriam Josemiro Augusto Vila Real, de 60 anos; Maria Alice Ribeiro, 64; Ernesto dos Anjos Ermida, 76, e Etelvina Lopes, um ano mais nova.



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