A antiga casa dos avós serve de exemplo a um projeto ibérico que quer criar na fronteira uma nova atração para turismo científico, com modelos das soluções tradicionais de construção a partir dos materiais e condições locais.

O Biourb Natur junta entidades portuguesas da região de Bragança e espanholas de Castela e Leão na recolha e aplicação de técnicas da arquitetura tradicional e no aproveitamento das condições naturais na construção e soluções energéticas.

Os promotores estão a preparar intervenções em cerca de uma dezena de edifícios nos dois lados da fronteira que irão servir de montra a um turismo científico, o alvo do investimento de mais de 1,6 milhões de euros, financiado em 1,2 milhões pelo Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER), no âmbito do programa INTERREG VA Espanha-Portugal (POCTEP).

“Queremos dirigir-nos a gente que seja capaz de ter um conhecimento científico das atuações feitas, de maneira que não vamos ver um edifício, vamos ver como funciona esse edifício, ver um território, o que há nesse território”, disse à Lusa Felipe Romero, do Instituto de Construção de Castela e Leão.

Alem desta instituição, são parceiros do projeto do lado espanhol a entidade regional de Energia de Castela e Leão, a fundação CIDAUT e a fundação Património Natural de Castela e Leão, e do lado português a Câmara e o Instituto Politécnico de Bragança.

O projeto arrancou em 2015 e devia terminar no final deste ano, mas vai ser prorrogado por mais meio ano, o tempo necessário para executar as intervenções nos edifícios, como explicou Vicente Leite, o representante do parceiro Politécnico de Bragança.

Os edifícios em causa são casas dos parques naturais em Espanha e duas antigas escolas primárias e o posto aquícola de Castrelos, em Bragança.

Esta é já uma segunda fase do Biourb, que anteriormente tinha feito um trabalho de recolha e criado quatro rotas sobre a arquitetura tradicional e o potencial dos edifícios construídos com materiais, técnicas e contextos locais.

As rotas não conseguiram chegar ao comum dos cidadãos, como reconheceu Felipe Romero, para quem na fase anterior faltou aquilo que agora está a ser feito e que “é contar com os agentes do setor turístico, com os que realmente se dedicam à promoção do turismo e da visitação do território”.

A rede de edifícios - e como conseguir incluí-la nos roteiros turísticos - está a ser discutida com os diferentes agentes dos dois lados da raia para conseguir chegar a um turismo científico capaz de analisar o que de diferente oferecem estas soluções.

“Estas soluções distinguem-se, por um lado pela utilização de materiais naturais, renováveis da zona: a pedra, a madeira, as coberturas vegetais, e por outro lado, o emprego de soluções de aproveitamento energético passivo, sem custos”, concretizou Felipe Romero.

São, acrescentou, “soluções desligadas da rede de energia, que não necessitam de gasóleo, gás, apenas do sol, da orientação e das condições naturais envolventes”, e que pretendem mostrar que podem ser aproveitadas “para um melhor conforto dos edifícios” associadas à arquitetura contemporânea.

“Podemos demonstrar que a utilização de materiais locais tem menos custos de transporte, ambientais, se forem bem projetadas não têm um impacto ambiental grande e podem ser construídas pelas empresas locais, portanto gerar atividade de pequenas empresas e recuperar outras”, sustentou.

O português Vicente Leite conclui que “estas técnicas não são generalizadas porque não são ainda suficientemente dominadas pelos técnicos, pelos operacionais que estão no terreno a conceber, a projetar e a implementar”.

O representante do politécnico de Bragança sublinhou que o objetivo deste projeto ibérico é justamente “que sirva de exemplo e impulso para disseminar “ estas soluções.

O posto aquícola de Castrelos será um exemplo de “como é possível tirar proveito da energia hídrica sem soluções megalómanas, altamente violadoras do ambiente ou perturbadoras”.

“Vamos fazer pequenos aproveitamentos hídricos de muito pequena escala que ainda não são usados, e uma produção hídrica de muito pequena escala integrada no próprio fluxo da água de abastecimento dos tanques e restituição ao rio [Baceiro]”, concretizou.

O equipamento quer mostrar “como se pode produzir energia elétrica a partir de uma fonte hídrica de potencia pequenina, mas que funciona 24 horas por dia e devidamente integrada naquele contexto, com o apoio adicional da energia solar fotovoltaica durante os períodos de verão quando o caudal do rio é menor e há necessidade de bombagem”.

Outros edifícios, como as escolas, vão ser reconstruídos “usando materiais e técnicas como a parede de tronco que faz circular o ar de forma diferente no verão e no inverno, durante o dia, durante a noite, para ajudar a climatizar, a aquecer quando é necessário e não deixar aquecer quando faz calor”.

No caso dos edifícios do lado espanhol, vão ser feitas “alterações/adaptações que permitam que sejam climatizados sem consumo de energia elétrica, apenas basicamente por manipulação de fluxos de ar, impedindo um fluxo de ar quente quando ele não é desejável ou aproveitá-lo quando é necessário”.



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