Os pingos de chuva dos últimos dias não arrefeceram os protestos da falta de água no Nordeste transmontano, em especial no distrito de Bragança. Os agricultores exigem \"medidas concretas\" para atenuar prejuízos e a Câmara insiste na construção da barragem de Veiguinhas . Enquanto apela à racionalização dos consumos, lança uma pergunta perturbante \"E se a água acabar?\"

Por estes dias, a factura da interioridade assume juros incalculáveis com o desesperante anúncio da racionalização dos consumos de água. A preocupação galgou a cidade, tornou-se conversa de café. Na periferia, o tema tornou-se, igualmente, obrigatório e quem \"trabalha a terra de sol a sol\" não sabe como debelar a crise.

A poucos quilómetros do centro de Bragança, em Gostei, os agricultores começaram a contabilizar os prejuízos \"As explorações agrícolas estão a sentir os efeitos da falta de água. Nesta altura do ano, os animais deviam andar no pastoreio, mas a erva está seca\", contou Amadeu Fernandes, da Sociedade Agrícola Nordeste Gado, Ld.ª.

\"Temos 150 vacas e, como não há pastos, gastamos mensalmente 2500 euros em rações. Só em palha importada foram mais 3600 euros. Os custos de manutenção são exorbitantes e, se não chover com abundância, o próximo Outono será uma desgraça\", contou.

No centro da cidade, os comerciantes, restaurantes e hoteleiros andam preocupados \"A falta de água vai agravar os prejuízos da interioridade\", resume Desidério Rodrigues, do Solar Bragançano.

O presidente da Câmara, António Jorge Nunes, corrobora a opinião, mas afirma ter \"feito tudo que é possível\" para resolver a falta de recursos hídricos, enquanto lança fortes críticas ao Instituto de Conservação da Natureza (ICN) pela \"obstrução\" à construção da barragem de Veiguinhas. \"O ICN tem, neste processo, agido, desde há alguns anos, contra o interesse da população de Bragança, não querendo ouvir ninguém, numa atitude de absoluta prepotência.

Se nada for feito, serão os responsáveis a nível civil e criminal face a eventuais perdas humanas resultantes de eventual rotura total no abastecimento de água\", lê-se num documento a que o JN teve acesso. Como o \"fundamentalismo\" prevalece, a factura do subdesenvolvimento é paga pelas pessoas.



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