Projecto está a fazer um levantamento de 66 quintas cuja existência é anterior à região demarcada feita pelo marquês de Pombal

Descobrir quais os percursos a seguir, as quintas a encontrar, as tradições, as lendas, o património edificado, a oferta hoteleira e a gastronomia através de uma simples consulta de plataforma digital disponível até para os telemóveis. Esta é uma realidade possível no final do próximo ano, altura em que serão assinalados os 200 anos do nascimento de dona Antónia Ferreira, a mulher que, no século XIX, ressuscitou o Douro após uma grave crise provocada pela filoxera.

A entidade promotora do projecto é o Instituto Superior da Maia (ISMAI), que, com uma equipa de investigadores, vai estar durante um ano no terreno para fazer o levantamento profundo de toda a zona, em certos aspectos ainda muito desconhecida quer dos operadores turísticos quer dos agentes políticos locais. António Barros Cardoso é o coordenador do trabalho e diz que a informação disponível sobre a região tem sido quase copiada de autor para autor ao longo dos séculos.

\"Há muitos erros porque as quintas foram mudando, até de mãos, ao longo dos anos, e muita da informação publicada não corresponde ao estado real em que esses locais se encontram\", afirmou ao DN o investigador.

Inicialmente, o objectivo era estudar 1500 quintas, mas a falta de financiamento obrigou a Dourintour - Patrimónios Durienses e Turismo Cultural, que irá explorar a futura plataforma, a reduzir o número de propriedades a analisar. Os promotores vão dispor de 237 mil euros, através de uma candidatura aprovada no âmbito do Programa Operacional Regional do Norte (ON2) e, diz António Barros Cardoso, \"optou-se por escolher apenas 66 quintas, cuja existência é anterior à demarcação pombalina de 1756, ou que então que pertenceram a dona Antónia Ferreira\". Nem todas as 23 quintas da \"Ferreirinha\" são anteriores à denominação demarcada do Douro, mas os promotores querem salientar esse património por estar ligado a \"uma mulher que lutou pela região e sem a qual hoje não seria como ela é\".

A Quinta do Vallado, perto da cidade da Régua, permanece nas mãos dos descendentes de dona Antónia, mas a Quinta das Caldas possui um património rico associado às Termas de Moledo, mas está abandonada. No terreno estão duas investigadoras e uma equipa de geógrafos que farão o retrato da evolução dessas propriedades até aos dias de hoje. O objectivo é tentar perceber a quem pertencem as quintas, que património construído existe e fazer também um levantamento do património imaterial e não classificado. Através da consulta de arquivos históricos, do contactos com proprietários, caseiros e trabalhadores da terra procurar perceber quais os costumes locais, as lendas ligadas a cada cultura, as festas e romarias e o significado de determinada gastronomia. \"Do lado espanhol do Douro, essa caracterização está toda feita ao pormenor. Aqui, nunca se procurou ir mais além daquilo que já é conhecido\", refere António Barros Cardoso.

Após reunida a informação, caberá a outro associado do projecto, a Porto Digital, criar a plataforma que será um guia indispensável a qualquer turista. Quer numa versão destinada a ser consultada em computador quer outra para telemóvel, com texto, imagens e vídeo disponíveis, mesmo ali à mão, em plenos socalcos da região.



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