O movimento de cidadãos UIVO, criado em Bragança, disse hoje que a exploração mineira em Calabor em Espanha, localizada a cinco quilómetros da fronteira, colocará em risco o desenvolvimento turístico deste território transfronteiriço inserido na Rede Natura 2000.

"O valor deste território classificado tem norteado toda uma estratégia pública de desenvolvimento social e económico da região, assente nos produtos endógenos (mel, castanha e outros), no turismo da natureza e cinegético, na gestão sustentável de recursos florestais, na conservação de espécies vegetais e animais e na promoção da investigação científica", indicou o movimento ambientalista, em conferência de imprensa, realizada hoje em Bragança.

De acordo com o movimento UIVO, esta mina está projetada em área da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica e da Rede Natura 2000, classificações reconhecidas a nível mundial pelo excecional valor do seu património natural.

"A execução do projeto colide com a preservação deste património classificado, com os interesses e direitos da população e com os interesses ambientais, sociais e económicos não só da região, mas também de todo o nosso país", explicou aos jornalistas Rui Loureiro, membro do UIVO.

Segundo este movimento de cidadãos, a mina prevê a utilização de toneladas de dinamite, a construção de uma linha de alta tensão de 10 quilómetros (km) e de uma fábrica de tratamento de minério, a passagem diária de dezenas de veículos pesados, o armazenamento e aterragem de resíduos perigosos e a criação duma escombreira de grande dimensão em plena Rede Natura 2000.

De acordo com o UIVO, a cerca de cinco km do concelho de Bragança, num espaço contigo ao Parque Natural de Montesinho (PNM), está planeada uma exploração mineira a céu aberto que vai ocupar uma área 250 hectares de exploração de volfrâmio e estanho.

"Esta mina terá um impacto [ambiental] significativo na qualidade de vida da população raiana, na economia local e na área protegida de Montesinho", vincou o ativista.

"Estas atividades inevitavelmente terão impactes transfronteiriços na paisagem, na biodiversidade, na qualidade do ar e da água, destruindo a flora e habitat de animais selvagens tais como veados, águias e raposas, alguns classificados como ameaçados ou em risco de extinção, como o lobo ibérico, a águia-real e a cegonha preta", garante o movimento transmontano.

Para além destes impactos, na opinião dos membros desta plataforma ambiental, a contaminação do ar e dos rios como o Calabor e o Sabor prejudicariam também a agricultura e saúde da população que se opõe à mina, em sintonia com os seus representantes políticos locais.

Para a UIVO e a Plataforma espanhola Contra el Proyecto Minero de Calabor, "se esta estratégia de exploração mineira for para a frente, sem uma séria reflexão e avaliação territorial sobre o que verdadeiramente poderá ser explorado de forma sustentável, sem colocar em causa os valores naturais e as populações, estaremos a vender, ao desbarato, a herança dos nossos descendentes e a contribuir para a desertificação destes territórios".

O manifesto contra a instalação da mina a céu aberto em território nacional acontece no dia em que decorre a Conferência ‘Green Mining' em Lisboa, onde os movimentos cívicos transfronteiriços mostram as suas preocupações contra “uma mineração que não é de forma alguma verde".

"Esta conferência faz parte de uma estratégia europeia de acesso à riqueza mineral em solo europeu, para assegurar a independência no acesso a recursos naturais a custo módico, e delapidará o nosso património natural, numa lógica de ‘green mining' ((mineração verde)”, dizem.

Para o movimento UIVO, as minas a céu aberto que as grandes multinacionais pretendem instalar nos países periféricos da União Europeia apresentam dimensões raramente vistas no continente europeu, com evidentes impactes na biodiversidade, na economia local, na saúde e no bem-estar das populações.

O UIVO já havia pedido em finais de fevereiro aos deputados da Assembleia da República para ajudarem a travar a instalação de uma mina espanhola que, argumenta, põe em causa os valores naturais desta zona.

A Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território concedeu mesmo, em 27 de fevereiro, uma audiência ao movimento UIVO, que se apresentou como tendo sido criado em dezembro por moradores do Parque Natural de Montesinho.

A criação do movimento de cidadãos é justificada com as preocupações em torno do projeto espanhol que esteve em discussão pública até 21 de agosto de 2020 e visa a exploração a céu aberto de estanho e volfrâmio da mina Valtreixal, de Sanábria, em Calabor, Pedralba de la Pradería, a cinco quilómetros do concelho de Bragança.



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