A pintora Graça Morais acabou de ser distinguida com a Medalha de Mérito Cultural o Ministério da Cultura, na inauguração da exposição "Metamorfoses da Humanidade", no Museu do Chiado, em Lisboa.

A medalha foi entregue pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, na inauguração da mostra, com 80 obras da pintora, no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, com a presença de centenas de pessoas que se quiseram associar neste momento único.

"O mérito do seu percurso na história da arte e da criação portuguesas ao longo de mais de 60 anos, constituindo-se exemplo referencial em Portugal e na história da arte contemporânea europeia, singulariza a escolha de agraciar Graça Morais com a Medalha de Mérito Cultural em nome do Governo Português", citando a nota de atribuição da medalha.

Na sua alocução a Ministra Graça Fonseca justificou a medalha com o percurso extraordinário da pintora “Cara Graça Morais, esta medalha que tenho a honra de lhe atribuir, em nome do Governo português, é inteiramente mérito seu, pelo saber aturado de colocar nas telas as fragas e os rituais, os animais, o vento, as lareiras, as formigas e os homens viris, as rugas dos rostos e as sacadas de vime por cima dos lenços que afagam e protegem as cabeças das mulheres. Por nos ter desenhado uma cartografia intensa e implicada, feita de gestos, rituais, memórias e confissões, assaltada por dúvidas e desafiadora dos ventos, do esquecimento e do não-dito».

“Que grande que é o mundo visto do nordeste transmontano e que grande que é, afinal, o país que pode contar com o seu olhar atento” continuou a ministra.

"Graça Morais. Metamorfoses da Humanidade" dá título a esta mostra que abre hoje ao público, depois de ter estado patente, em 2018, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança.

No Museu do Chiado, a exposição tem curadoria de Jorge da Costa e Emília Ferreira, e reúne um conjunto de mais de oito dezenas de desenhos e pintura sobre papel.

Nascida na aldeia de Vieiro, no concelho transmontano de Vila Flor, em 1948, Graça Morais viveu em Moçambique no final dos anos 1950 e estudou Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto.

Entre os seus primeiros professores contam-se os artistas Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Tito Reboredo, tendo sido, nos anos 1960 e 1970, influenciada pelos pintores Marc Chagall e Van Gogh.

Em 1975, com oito artistas e um crítico de Arte - Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, Fernando Pinto Coelho, Gerardo Burmester, Jaime Silva, João Dixo e Pedro Rocha - Graça Morais fundou o Grupo Puzzle.

Entre 1976 e 1978, viveu em Paris como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e estudou sobretudo a obra de Picasso, Matisse e Cézanne, e nesse último ano expôs no Centro Cultural Português da cidade.

Regressada a Portugal, viveu em Lisboa, onde trabalhou sobretudo as formas e os materiais do nordeste transmontano, as suas raízes, desenvolvendo uma intensa reflexão sobre esse tema na sua obra.

Foram executadas várias obras da pintora pela Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, que se encontram expostas, entre outras, na Assembleia da República, na Câmara Municipal de Lisboa, na Universidade Técnica de Lisboa, e na Fundação Mário Soares.

Graça Morais ilustrou e colaborou com diversos poetas e escritores: José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Miguel Torga, Pedro Tamen, António Alçada Baptista, Manuel António Pina, Nuno Júdice, Clara Pinto Correia, José Fernandes Fafe, Ana Marques Gastão, Valter Hugo Mãe, entre outros.

A pintora tem intervenções artísticas em painéis de azulejos, entre outros, no edifício sede da Caixa Geral de Depósitos em Lisboa, na Estação de Bielorrússia do Metropolitano de Moscovo, na estação de comboios do Fogueteiro, no Seixal, e na Estação de Metropolitano da Amadora -- Falagueira.

A vida e obra de Graça Morais foram objeto dos documentários "As Escolhidas" (1997), de Margarida Gil, "Na Cabeça de uma Mulher está a História de uma Aldeia" (1999), de Joana Morais, e "Graça Morais e os Escritores" (2017), de Luís Alves de Matos.

Está representada em várias coleções privadas e públicas, nomeadamente na Assembleia da República, Culturgest, Cooperativa Árvore, Fundação Luso-Americana, Caixa Geral de Depósitos, Ministério da Cultura -- Museu de Serralves, Ministério das Finanças, Museu de Angra do Heroísmo, Museu Municipal de Vila Flor, Museu Abade Baçal de Bragança, Museu Anastácio Gonçalves em Lisboa, Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Fundação Calouste Gulbenkian.

Graça Morais foi agraciada com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, em 1997.

Em 2008 foi inaugurado o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM), em Bragança, num projeto de reabilitação de um solar setecentista da autoria de Eduardo Souto de Moura.

Em julho de 2018, na celebração do 10º aniversário do CACGM, foi criado o Laboratório de Artes na Montanha - Graça Morais (LAM-GM) para "promover novas oportunidades para atividades de ensino e investigação baseadas na prática das artes no contexto de montanha, assim como estimular novas centralidades de intervenção científica e cultural de relevância internacional".

O laboratório tem ainda como objetivo desenvolver um serviço de educação associado ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em parceria com o Instituto Politécnico de Bragança, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a Câmara Municipal de Bragança e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Atualmente vive entre Lisboa e Vieiro, e tem sido homenageada com mostras antológicas em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente em Guimarães, em 1993, em Lisboa e Porto em 1997 e em Aveiro em 2003.

Texto: AP com Lusa 


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