Armando Vara assegura que nunca recebeu nem pediu a Manuel Godinho 10 mil euros em troca de influências. E que as únicas «prendas» oferecidas pelo empresário foram uma caixa de robalos e um equipamento do Esmoriz.

A garantia do vice-presidente do Millennium-bcp, com funções suspensas, foi dada ontem, já de madrugada, à saída do interrogatório perante o juiz de instrução criminal de Aveiro, respondendo a indícios de dois crimes de tráfico de influências.

Vara procurou explicar ser alheio à referência, em escutas telefónicas de Manuel José Godinho com Maribel Rodrigues, sua secretária, à urgência em conseguir 10 mil euros em notas, quantia que os investigadores da PJ e o Ministério Público acreditam ter sido oferecida ao ex-ministro do PS, como contrapartida do exercício de influência política com vista à demissão do presidente da Refer, bem como a apresentação de altos quadros de empresas com capitais públicos.

Armando Vara explicou que apenas tinha um «relacionamento profissional» com Manuel Godinho, principal arguido do caso Face Oculta, pelo facto de o empresário ser cliente da Caixa Geral de Depósitos (na altura em que Vara era um dos administradores) e mais tarde quando o tentou angariar para cliente do BCP.

Admitiu que teve «jantares de trabalho» com Godinho, como tem «centenas» de outros jantares com outras pessoas pelas mesmas razões. Quanto a presentes diz ter recebido apenas de Manuel Godinho «uma caixa de robalos», aquando de um almoço em Vinhais, Trás-Os-Montes, e \\"um equipamento desportivo\\" do Esmoriz para o filho.

Armando Vara desvalorizou ainda o facto de ter apresentado o administrador da EDP Imobiliária, Paiva Nunes, ao empresário Manuel Godinho, situação que considerou normal na sua actividade profissional. «Fiz milhares desses telefonemas», garantiu.

«Sou inocente dos factos que me acusam. Como eles não aconteceram, não há provas em como aconteceram e, portanto, estou convencido que, se não for agora, noutra fase do processo serei ilibado», rematou.

Confrontado com a eventualidade de divulgação concreta e integral das escutas de conversas tidas com José Sócrates, Vara põe de parte essa hipótese. «São conversas privadas que devem permanecer enquanto tal». A decisão sobre as medidas de coacção a que será sujeito será tomada quarta-feira.

Sobre o «Face Oculta» e a possibilidade de divulgação de despachos que envolvem o primeiro-ministro - cujo arquivamento foi decidido pelo procurador-geral da República -, Pinto Monteiro optou por ordenar a «recolha de mais elementos» para adoptar uma posição definitiva. A decisão foi tomada após uma reunião com o procurador-geral distrital de Coimbra, Alberto Braga Temido, e o procurador do DIAP de Aveiro, João Marques Vidal.



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