Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Pioneirismo editorial em Trás-os-Montes

Graças aos estudos do professor e investigador da UTAD, José Barbosa Machado, é possível reconhecer a região transmontana como pioneira no universo editorial português. O trabalho meticuloso deste investigador em torno dos dois primeiros livros impressos em língua portuguesa, o Sacramental de Clemente Sánchez de Vercial (1488) e o Tratado de Confissom (1489), ambos impressos em Chaves, chamaram para esta região, e em especial para a urbe flaviense, as atenções de muitos estudiosos interessados em conhecer os alicerces da civilização do livro em Portugal.

A dinâmica dos estudos de José Machado não se fica pelo ambiente académico. A Biblioteca Municipal de Chaves organizou as efemérides relativas à impressão das duas obras. Em 2018 comemoraram-se os 530 anos da impressão do Sacramental com colóquios, idas às escolas e divulgação nos media. Por sua vez, em 2019 comemoraram-se os 530 anos do Tratado de Confissom (1489). O investigador da UTAD anunciou então a criação de uma peça de teatro intitulada O IMPRESSOR, da sua autoria, onde conta a história, mais ou menos fictícia, do primeiro impressor português, Rodrigo Álvares, natural de Vila Real, e que terá aprendido a arte da impressão em Chaves com os impressores castelhanos que ali acorreram para imprimir o Sacramental e o Tratado de Confissom (aliás, o nome dele aparece no cólofon [ficha técnica] do Sacramental).

De que tratam, afinal, estas duas obras impressas em Chaves? O Sacramental , da autoria de Clemente Sánchez de Vercial, é uma compilação da doutrina cristã comentada. O objetivo, segundo o seu autor, era o de instruir o clero, reconhecendo que muitos sacerdotes incumbidos de “curar as almas” davam manifestas provas de ignorância para tal, em especial por “não saberem nem entenderem as escrituras que cada dia hão de ler”. Por sua vez, o Tratado de Confissom, do qual se desconhece o autor por faltar a primeira página ao único exemplar conhecido, é um pequeno manual para instrução dos confessores na melhor forma de administrar o sacramento da penitência.

Perguntar-se-á também o porquê deste pioneirismo? Para José Machado, tal escolha explica-se pela sua proximidade da fronteira, já que, do ponto de vista económico, era desvantajoso aos impressores castelhanos deslocaram-se a Braga ou Porto, devido ao mau estado das estradas, às distâncias significativas que teriam de percorrer e ao peso do material de oficina: as impressoras, os tipos em metal e o papel.

O município de Chaves tem hoje boas razões para valorizar e potenciar este estatuto pioneiro na edição em Portugal. O investigador da UTAD tem vindo a propor uma maior exploração da temática da imprensa primitiva em Chaves, nomeadamente com a criação de um pequeno museu sobre as artes da impressão, em coordenação com o Museu da Imprensa do Porto, que mostrou já disponibilidade para ceder equipamento museológico para esse efeito. Há propostas que valem ouro. É preciso saber aproveitá-las.


Partilhar:

+ Crónicas