Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

O Douro “imaterial” por descobrir

A Região do Douro é, toda ela, um desafio permanente para os olhos e para o coração. Se os olhos descobrem em cada pedaço da paisagem um mosaico sublime de beleza, o coração é tocado pelo mistério e magia das suas gentes, dos seus costumes, das suas crenças, bem retratados nos seus contos e lendas.

O aparato da paisagem – com os seus fenómenos naturais, os vales profundos, as escarpas assombrosas, os nevoeiros, os penedos imensos imitando seres diabólicos, o rumorejar das ribeiras e riachos… – ajudou a criar muitas narrações orais. Por isso, algumas são o resultado das interpretações populares desses mistérios, enquanto outras são a explicação para muitas capelas, grutas, nomes de povoações, de lugares, de montanhas, de fragas, de esculturas antigas ou ruínas de castros.

Quando usamos a expressão “terra-mãe” ao falarmos da nossa terra, do espaço das nossas origens, reconhecemos nela um domínio espiritual sobre nós. Por isso, quando estamos longe, e regressamos à nossa terra, é como se voltássemos ao aconchego do colo materno. É como se voltássemos para reviver todas as histórias que iluminaram a nossa infância. Histórias que brotam da paisagem, como se os penedos fossem os castelos e o rumorejar dos rios a voz das personagens.

Por tudo isto, reconhece-se a urgência nas ações de resgate da memória oral nos espaços físicos e espirituais deste território, onde o desaparecimento acelerado da população idosa compromete a possibilidade de inventariar e estudar os conteúdos marcantes do seu património imaterial. Uma preocupação a que, felizmente, também a Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM-Douro) não é alheia, ao inscrever no seu plano estratégico para a presente década (2020-2030) um compromisso com a inventariação do património imaterial do Douro, enquanto “elemento fundamental de promoção e valorização da identidade e espírito duriense”.

in JN (12-9-2023)


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