Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Flagelos do verão previnem-se no inverno

Tal como a formiga se prepara no verão para suportar o inverno, há que inverter esta ordem quando se trata do flagelo dos incêndios florestais, que, invariavelmente, nos vêm infernizar o verão. E o melhor remédio para atacar esse flagelo do verão é a prevenção que pode e deve ser acionada no inverno.

Com esse espírito, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) iniciou em pleno outono, em parceria com a Escola Nacional de Bombeiros, um curso de pós-graduação em Gestão de Fogos Rurais, que vai durar até maio de 2021. Assim, quando o verão começar, outros conhecimentos e estratégias podem estar já no terreno para combater esse maldito flagelo.

Com um corpo docente que reúne alguns dos maiores especialistas nesta matéria, a formação contempla temáticas de notória pertinência, como sejam, entre outras: identificar os principais desafios colocados à gestão do fogo; dominar conceitos meteorológicos relativos à ignição, comportamento e impactos do fogo; dominar ferramentas tecnológicas que ajudem a compreender e antecipar os riscos e comportamento dos fogos rurais; dominar ferramentas que facilitem a gestão e a articulação das atividades de proteção florestal e proteção civil; e desenvolver e reforçar competências de liderança e gestão, em contexto de stress.

Frequentada por profissionais, investigadores e técnicos das diversas áreas relacionadas com a floresta, o ambiente, a gestão territorial e a proteção civil, trata-se de uma formação de carácter essencialmente prático, cujo grande objetivo, segundo o seu coordenador, Domingos Lopes, é ceder aos agentes que estão a trabalhar direta ou indiretamente com a proteção civil e, em particular, a gestão de fogos florestais, mais ferramentas que ajudem a compreender melhor os fenómenos dos incêndios florestais, com ênfase nas várias determinantes e implicações do comportamento do fogo, ajudando em decisões que tornem mais eficiente a cadeia da gestão do fogo, do planeamento à recuperação.

Em boa verdade, já é tempo de a ciência ser ouvida e respeitada na matéria dos incêndios florestais. O ministro da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, foi bem claro ao lembrar recentemente que “a ciência produzida em Portugal nesta área dos fogos florestais teve pouco impacto no passado”, sendo necessário, inverter a situação, chamando mais agentes para um compromisso determinante nos processos de transferência e difusão do conhecimento.

No mesmo sentido, Domingos Lopes, em artigo no JN, realçou a necessidade de “quebrar o enguiço sobre uma visão de futuro para o espaço abandonado que vamos desprezando, e do qual apenas nos lembramos nos períodos de verão e quando as desgraças nos obrigam a olhar para ele”.

Trata-se, afinal, de um tema que deve unir todos os portugueses, porque da capacidade de lidar com ele depende muito do futuro de Portugal.

 


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