João Pedro Baptista

João Pedro Baptista

Estradas Nacionais: elementos estratégicos de desenvolvimento do Interior

As Estradas Nacionais do Interior do país podem, efetivamente, tornar-se em elementos estratégicos de desenvolvimento do Interior, não como vias de circulação rápida ou diária, mas como estradas que permitam passeios em família, ao mesmo tempo que se contempla a dimensão paisagística do território.

Com a evolução e duração da crise pandémica em Portugal, entrou em debate uma série de planos para promover o desenvolvimento regional e local. Esta crise de saúde pública levou-nos a repensar algumas estratégias que haviam sido planeadas para os nossos territórios. No caso do Interior de Portugal, a COVID-19 fez com que se considerasse a aposta no turismo como uma das principais soluções para potenciar e valorizar os agentes económicos, sociais e culturais da região. Com os portugueses a verem as suas férias limitadas ao território português, acredito que chegou a vez de o meio rural se afirmar como um destino turístico. De facto, o turismo de natureza ou rural tem demonstrado, nos últimos anos, que pode ser uma alternativa aos meios urbanos, saturados e desgastantes. Este verão, devido à situação pandémica que todos enfrentamos, considero que é a vez de o Interior se afirmar em relação ao Litoral, o meio rural ao urbano, os campos e as paisagens à cidade e às praias. 

Neste sentido, as Estradas Nacionais devem merecer uma atenção especial dos nossos governantes. As Estradas Nacionais do Interior do país (como já foi discutido no programa ‘Opinião Transmontana’ do Diário de Trás-os-Montes) podem, efetivamente, tornar-se em elementos estratégicos de desenvolvimento do Interior, não como vias de circulação rápida ou diária, mas como estradas que permitam passeios em família, ao mesmo tempo que se contempla a dimensão paisagística do território. À semelhança da valorização que tem vindo a ser feita da Estrada Nacional (EN)2 (que atravessa Portugal de Chaves a Faro), sou da opinião que existem outras estradas que devem ser valorizadas e reconhecidas. Esse reconhecimento pode e deve ser uma estratégia de desenvolvimento a ter em conta pelos municípios. A EN 2 tem já uma rota cultural delineada e conhecida; percursos e torços demarcados; uma marca associada a um dinamismo cultural, tradicional e desportivo, nomeadamente, a um turismo de estrada cada vez mais apreciado. Além disso, a EN 2 conta como uma associação de municípios, criada em Santa Marta de Penaguião, que procura zelar pelos interesses económicos, sociais e culturais do território. 

Por estas razões, importa tomar a EN 2 como exemplo e apostar na valorização e preservação de outras estradas, igualmente míticas e dignas de investimento. Para esta reflexão, lembro apenas três estradas que podiam ser veículos importantes de desenvolvimento local e regional: EN 222 (em pleno Douro Vinhateiro, considerada a estrada mais bonita do mundo), EN 304 (Parque Natural do Alvão, em Mondim de Basto; considerada a melhor estrada da Europa para se conduzir, pela Ford) e EN 103 (de Miranda do Douro a Viana do Castelo). 

Os autarcas da região, em sintonia com o Estado central, devem apostar na implementação de uma marca a cada um destes troços, ao mesmo tempo que incentiva os empresários locais e que se investe na sinalização e pavimentação das vias. Tal como a EN 2, estas estradas também devem ter roteiros gastronómicos, pontos turísticos de informação sinalizados e uma série de agentes culturais na exploração da via. Assim sendo, o Interior, nomeadamente, Trás-os-Montes e Alto Douro, pode avançar e tornar-se uma marca no que diz respeito ao turismo de natureza. 


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