Ana Soares

Ana Soares

Em defesa da honra do Nosso Interior!

Cara Sofia da Palma Rodrigues,

Escrevo-lhe do Interior que apelidou de completamente abandonado e envelhecido. Imagine que não vivemos assim tão isolados ao ponto de não termos “CNN Portugal” o que, neste caso, confesso que foi uma pena.

Sabe Sofia – ou melhor, claramente não sabe mas como transmontana orgulhosa que sou faço questão de a esclarecer – não é no Interior que as pessoas são “pobres e isoladas” como referiu. Desde logo, não somos pobres de espírito e não vivemos de estereótipos grotescos como os que usou no seu discurso em horário nobre televisivo. Pelo contrário. Somos gente de trabalho, de garra, que luta por objetivos e os conquista, sem precisar de caricaturar de forma abusiva nada nem ninguém para sobressair. E também não estamos isolados… Estamos mais próximos da Europa do que quem vive em Lisboa, no Porto ou na orla costeira de que falou e estamos na linha dianteira do que de melhor há, seja em termos humanos, seja sociais ou culturais.

Disse que o fogo surge, para as pessoas do Interior, como último reduto para dizer “Estou aqui” e lamento muito a leviandade com que o refere, sobretudo porque – mais uma vez – se vê que quem pretende rotular-se como vanguardista é, a maioria das vezes, quem vive isolado no seu pensamento, sem qualquer contacto com o mundo real…

Até ontem não a conhecida Sofia - desculpe a sinceridade - e se isso é sinónimo do isolamento em que acha que eu e os meus conterrâneos vivemos, até que a sua visão distorcida poderia não ser assim tão má! Mas sabe o que mais me preocupa? É que ouvi com cuidado tudo o que disse e afirmou ter feito um trabalho de investigação jornalística em que percorreu o país de Norte a Sul durante dois anos… E das duas uma Sofia… Ou se referia a percorrer a A1 (e aí lamento eu a sua (mono)cultura) ou então – e desculpe dar-lhe esta notícia – vive num tremendo isolamento evolutivo de pensamento e até pode ter viajado pelo nosso país, mas não o conheceu, o que diz mais de si do que de nós.

Aqui há uns anos Sofia, também um cantor pseudo-famoso que teve o auge da sua carreira ao pousar semi-nu na capa de um álbum, apelidou-nos de “pessoas medonhas, feias e desdentadas”, pelo que não fique preocupada que não foi tomada por nenhum vírus novo vindo aqui da raia. Também não vou dizer – como nos rotulou a nós – que tem problemas de saúde mental, porque tenho muito respeito pelas pessoas que sofrem efectivamente destas doenças e que merecem total respeito, apoio e solidariedade (valores que nos dizem muito). Mas espero sinceramente que perceba a injustiça das suas palavras e que se penitencie por elas.

E assim me despeço Sofia, porque quem não se sente não é filho de boa gente – nem natural de uma nobre região, acrescento eu. É que, sabe Sofia, até quando referiu que no Interior não há esperança, estava enganada. Imagine que temos tanta esperança no próximo que até acreditamos que apesar da ignorância e desconhecimento que demonstrou com as suas palavras, com um pouco de boa vontade, poderá ultrapassá-los. E por isso desafio-a a vir conhecer o Interior de Portugal, este território maravilhoso repleto de tesouros históricos, culturais e naturais, mas também onde se faz muito do que de melhor e mais vanguardista há em Portugal, onde nasceram tantas figuras de referências nacional e internacional – das artes à medicina – e onde recebemos tão bem que quem cá vem sabe que temos muitas características assinaláveis, mas nenhuma das que refere. Porque o Interior, este território em que tive o privilégio de nascer e onde vivo, tem como baluarte a força das suas gentes: verdadeiras, resilientes, autênticas e inabaláveis como a nossa própria terra!


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