Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Antes do socorro, a prevenção: dar a palavra à ciência

O investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Mário Gonzalez Pereira, num recente fórum, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sobre a Investigação em Alterações Climáticas, apresentou dados muito precisos sobre a coincidência das ondas de calor e os grandes incêndios em Portugal. A coincidência é quase total.

Que esta relação é óbvia, ninguém duvidaria. Faltava apenas apresentá-la com fundamentos claros, na base de um estudo científico que este investigador coordenou e que veio comprovar que 97% dos grandes incêndios estiveram ativos durante uma onda de calor e que tanto as ondas de calor como as secas foram determinantes no período que antecedeu o incêndio. Para tal conclusão, foram estudadas as características das ondas de calor no período entre 1981 e 2010 e as secas de 1981 a 2018, verificando-se que 85% dos incêndios ocorrem em regiões em seca e 97% dos grandes incêndios estão ativos durante ondas de calor. O investigador da UTAD, com os dados que apresentou, levando em conta os modelos de previsão meteorológica que permitem antecipar quando e onde pode ocorrer um incêndio, alertou para a necessidade de um planeamento mais eficaz e uma melhor gestão dos recursos.

Este trabalho vem também reforçar a importância do recém criado Laboratório Colaborativo ForestWISE, sediado na UTAD, e que incorpora muito do saber que os seus investigadores, em cooperação com outras universidades e centros de investigação, vêm obtendo no domínio dos recursos florestais e dos fogos. O seu objetivo é abrir caminho a mais e melhores contributos da ciência portuguesa na resposta ao grande desafio do país na gestão integrada da floresta e dos fogos rurais. Propõe-se, assim, desenvolver atividades de investigação, inovação e transferência de saber e de tecnologia com vista a aumentar a gestão florestal sustentável, a competitividade do setor florestal e reduzir as consequências negativas dos incêndios rurais.

A ciência tem de ser ouvida e respeitada nesta matéria. O ministro da tutela, Manuel Heitor, foi bem claro, ao apresentar na UTAD o ForestWISE, lembrando que “a ciência produzida em Portugal nesta área dos fogos florestais teve pouco impacto no passado”. É necessário, pois, inverter a situação, chamando mais agentes para um compromisso determinante nos processos de transferência e difusão do conhecimento.


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