A verdade

Este ano há duas Blue Monday. Uma foi, pois, em Janeiro, e a outra é hoje.

Não porque já acabou o Natal, e porque nos apercebemos que nos próximos dias a nossa alimentação vai continuar a ser feita à base de roupa velha, de figos secos com nozes, e dessa invenção do diabo, que dá pelo nome de Bolo Rei de chocolate, e que a mim, particularmente, nem me passa pelo estômago, e cai directamente nas ancas. Nada disso.

É que esta semana esconde uma árdua tarefa, que é escolher as resoluções para o Ano Novo. Claro que ainda nem cumprimos aquelas de há 10 anos. Que importa? Há que atirar para a frente, estabelecer outros objectivos.

Até nisto há modas. Não sei o que está a bombar para 2017. Tenham, contudo, a certeza de que há artigos a circular na internet, onde podem consultar o que é in dizer que se vai fazer no ano que vem. E se até dia 25 a pergunta do mês era “então, o que pediste ao Pai Natal?”, esta semana é vorazmente trocada pela “quais vão ser as tuas resoluções de Ano Novo?”.

Dizer que se vai fazer e fazer não é, de todo, a mesma coisa. Começamos logo a mentir ao Ano Novo, antes de ele chegar. Porque, é certo, à meia-noite já não vai parecer tão boa ideia deixar de fumar, ir ao ginásio às 7 da manhã durante meses seguidos ou deixar de comer carne. Na euforia da festa, tudo o que prometermos vai ser com uma mão atrás das costas, a fazer figas.

Ora, isto de mentir, de dizer sem sentir, só para parecer bem e do bem, fazer o jeito, quando o assunto são relações interpessoais, mete-me confusão. Obviamente já fiz isso. Por não querer magoar alguém, ou porque justificar-me e expressar o meu ponto de vista ia ser uma carga de trabalhos. Ou então porque a tal euforia festiva me passou, e precisei de arranjar uma desculpa airosa para voltar atrás com a minha palavra.

Contudo, não gosto de prometer o que quer que seja para depois falhar. Não o faço. Se disser “prometo” é porque quero mesmo. Muito. De verdade. E estou, por isso, a comprometer-me com um facto. E parto do princípio que este acto é comum a quem me rodeia. Como naqueles filmes, em que os cavalheiros apertam as mãos, e juram cumprir até o impossível, selando com um sincero aperto de mãos, e olhos nos olhos.

Por isso é que eu não me comprometo com o Ano Novo. Sujeita que estou a que ele descubra tudo, e que termine precocemente uma relação fugaz. Descubra que o quero enganar, descaradamente, ao não cumprir tudo o que prometi.

E mentir é desnecessário, quando podemos, simplesmente, não dizer coisa alguma.

 

 


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