O caminho de um homem livre

Criada há cinco anos, a GLNP recupera a tradição maçónica para construir uma sociedade mais justa e fraternal. Longe dos dogmas, da política e da religião, aos maçons cabe o aperfeiçoamento na liberdade. Alvo de polémicas e perseguições, a Maçonaria expõe os seus argumentos pela voz do grão-mestre Álvaro Carva.
Ana Sofia Rosado/Fotos de Álvaro C. Pereira

Por que motivo decidiu dar este passo na divulgação da essência e trabalho da Grande Loja Nacional Portuguesa ( GLNP)?
Pareceu-me que abordar este tema ao vosso público seria permitir que se construa uma ideia correcta do que é a Maçonaria.

Qual o fim da Maçonaria?
Conseguir uma sociedade mais justa e mais fraternal, melhorando os indivíduos que a compõem. Este postulado procura e consegue uma sociedade mais humana e harmoniosa.

A Maçonaria é secreta?
Essa cultura foi instituída pelos Estados ditatoriais e comunistas. Considera-se a Maçonaria uma instituição que foi hostil às ditaduras em alguns países europeus no século XX, que por sua vez eram hostis ao humanismo e humanitarismo que caracterizam a Maçonaria de tradição regular. O homem livre não é seguidor do fascismo e a espiritualidade constituía uma forte ameaça. Foi uma forma de definição simplista, que cria alguma confusão às pessoas que, por razões diversas, ainda não se debruçaram sobre a mesma.

Sendo a Maçonaria uma instituição simbólica, que identificação tem o Grande Arquitecto do Universo?
O homem identifica-se com um ser absoluto, que na Maçonaria identificamos com o Grande Arquitecto do Universo. Sendo a GLNP uma maçonaria regular e de tradição, cada maçom é livre de interpretar este conceito. O símbolo representa a Beleza, a Força e a Sabedoria (conceitos universais) – a consciência colectiva da humanidade. Para alguns, é o princípio orientador da evolução do mundo e do homem; para outros, é a representação ateia. Não sendo a Maçonaria uma organização dogmática, não damos um nome ao Grande Arquitecto do Universo.

Quando lhe dão o nome de Deus?
Quando o maçom entendeu que esse Ser Supremo, para si, tem um nome. O que, claramente, determinamos na Maçonaria de Tradição são metodologias ritualizadas, que permitem que o irmão lhe dê o nome de Deus. O Ser Supremo pode ser o mesmo Deus dos Católicos, dos Judeus ou dos Muçulmanos. Além disso, a Maçonaria de Tradição não é uma religião.

E como pensa que vêem as religiões o papel da Maçonaria no mundo?
A Maçonaria é admitida e admirada por muitas religiões cristas, ortodoxas, anglicanas ou protestantes. Padres e prelados de todas as religiões, desde o mais ilustre ao mais discreto, são iniciados na Maçonaria. No passado constituíram-se lojas somente por padres católicos. Seria este vasto número de homens maus crentes?

Como enquadra o aparecimento das primeiras bulas papais sobre a Maçonaria?
A Igreja Católica tinha um grande problema. Enquanto que para a Maçonaria era essencial dar-se uma dimensão ao homem, para a Igreja era mais importante saber-se quem “controlava” o homem. O homem-padre seria controlado pela Igreja, pelo Papa, ou pelos valores universais da tolerância mútua? Roma e a Concordata fizeram em 1801 depender os seus padres do poder do Papa. Ora, um largo número de maçons que eram padres, percebendo que a Igreja queria ter um controlo sobre os homens livres, tomaram consciência e reagiram. Se a Igreja já não aceitava a nossa vivência, reagiu e excomungou os maçons. Nasce aqui o anticlericalismo, que hoje já se dissipou.

Contudo, no século XIX ainda tiveram alguns diferendos.
Sim. A Maçonaria e a Igreja têm algumas fricções, que não desejamos provocar. A Carta dos Direitos Humanos e os Direitos da Criança são obra maçónica. E muitas outras obras poderiam ser citadas, mas nem todas foram convenientemente aceites pelos prelados. Por exemplo, quando a Maçonaria entendeu criar a escola laica em França, a Igreja posicionou-se contra. O que naquela data foi gerida como uma grande querela, hoje é desejada por qualquer sociedade contemporânea e europeia.

Que relação encontra entre a Maçonaria e a Igreja?
Não ensinamos cultos, nem temos sacramentos e deixamos à liberdade de cada um a sua relação com a Igreja. Somos, na verdade, uma sociedade iniciática, de base filosófica e de tolerância mútua que permite as mais frutuosas reflexões. Nós defendemos estes valores, inolvidáveis das sociedades modernas e contemporânea, ao longo dos séculos e fomos vítimas desta opção.

Como comenta as posições da Igreja Católica sobre o conceito da Maçonaria?
A Igreja condenou a Maçonaria e desaconselhava a nela permanecerem os seus fiéis. No entanto, em 25 de Janeiro de 1983, no cânon 1374, o Papa João Paulo II esclareceu que a Igreja Católica apenas condenava, com pena justa, as organizações e os seus fiéis, que maquinassem contra a sua Igreja. Tenho algum receio nestas frases. Normalmente, o perigo está entre nós. Nós temos os nossos problemas internos, mas os grandes problemas da Igreja não lhe parecem estar entre os mesmos?

Trata-se de uma redacção diferente das primeiras condenações.
A Igreja Católica vai evoluindo e vai-se adaptando ao Mundo. Já em 1917 a Igreja Católica não condenou a Maçonaria, nem a mencionou expressamente. Contudo, apesar da posição oficial, a Igreja Católica tem no seu seio pessoas que sentem legitimidade para fazer as suas leituras pessoais, que são, na minha opinião, incompatíveis com a doutrina oficial da Igreja. Mas esse já não é um problema da Maçonaria.

Um católico pode ser um bom maçom?
Como um maçom, se for católico, é um bom homem. Dizemos que se encontrar um homem livre e de bons costumes, esse homem é maçom. Mas também serão bons judeus e bons muçulmanos. Os que são iniciados maçons, praticam a arte da construção, conhecem e respeitam as leis que regem o equilíbrio e a harmonia. É assim que edificamos a Ordem e as sociedades onde nos inserimos. Um cristão que adere à Maçonaria, por exemplo, atinge uma compreensão mais subtil, mais essencial, mais viva.

Se o objectivo é a evolução espiritual do indivíduo, qual a necessidade de uma estrutura tão complexa, de graus e de rituais?
Nós julgamos que homens de diferentes culturas, religiões, raças e conceitos se unem na harmonia do coração, do pensamento e da acção. Para se atingir esta harmonia, temos de falar dos mesmos conceitos, num mesmo nível interior da construção humana.
Sendo a nossa estrutura uma escola iniciática, é complexa, com vários patamares de evolução e com vários modos de formação, que cada maçom e Lojas podem escolher e determinar.

Qual a função e abrangência do segredo maçónico?
A sua pergunta é complexa. Uma das nossas primeiras regras é não revelarmos o nome de qualquer irmão. Consideramos esta a primeira regra. Nela integramos como segredo, o conteúdo administrativo e o conteúdo de cada sessão realizada. Pode comparar este segredo, ao segredo dos médicos, dos sacerdotes, dos advogados. A segunda regra deve-se ao segredo dos ritos e do acesso aos conteúdos dos mesmos por parte de cada maçom. Trata-se do segredo que temos entre os vários graus de evolução espiritual. O terceiro é o segredo de filiação, através do qual procuramos proteger os maçons contra as perseguições político-religiosas, que temos assistido ao longo dos séculos. Não estamos livres de que a política e a religião continuem a cometer erros num futuro próximo.

Há mais algum segredo?
Temos ainda o segredo subjectivo. Aquele segredo que cada um de nós vive e refina ao longo dos graus. O segredo que nenhum homem profano [todo o homem que não é maçom] conseguirá desvendar.

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“Além do tempo e das paixões”

O que é exactamente o REAA?
Trata-se de um rito que foi inicialmente criado pelos irmãos franceses, com os quais nos relacionamos. Mais tarde, foi formalmente criado e acrescentado com novos graus pelos nossos irmãos em Filadélfia. Foi introduzido em Portugal no ano de 1837. Mas, para se praticar o Rito Escocês Antigo e Aceite, com os seus 33 graus, exigem-se duas Organizações. A primeira organização é uma Grande Loja, que tem competência para tratar os três primeiros graus (o grau de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom). Do 4.º ao 33.º grau, o membro deve fazer o seu trabalho de evolução numa outra Organização, que denominamos de Supremo Conselho.

Onde funciona essa Organização?
No Palácio Maçónico, tal como funciona a Grande Loja. Para as podermos distinguir, a Grande Loja é denominada de Obediência. E o Supremo Conselho de Potência. Ambas as Organizações têm a sua sede no Palácio dos Condes de Vinhais, em Mirandela. Trata-se de um edifício muito bonito, do século XVIII, que no seu interior contém um museu e uma biblioteca nacional maçónica ao serviço dos maçons e dos profanos. E uma capela com um altar que julgamos ser do princípio do século XIX. Mas ambas as Organizações têm várias Lojas espalhadas pelo território nacional.

Porquê tanto segredo, suspeita, desconfiança e polémica à volta da Maçonaria?
Não percebo essa suspeita, mas compreendo-a. A nossa forma e postura, envolta em lendas, criou uma componente externa que nos envolve numa organização de mistérios. Mas também consideramos a nossa organização como uma escola dos Mistérios. A palavra Mistérios também está associada ao sagrado, à busca, ao reencontro da tradição, dos lugares mágicos, da herança que cada um de nós representa.

Mas têm tido algumas polémicas, desconfianças e suspeitas.
Sim. Temos alguns episódios que causaram algum desconforto. Atingem a Maçonaria, mas a sua causa não é maçónica. São maçons que tiveram um comportamento grave e que, por isso, são sujeitos a inquéritos e à sua própria expulsão da Ordem. Como em qualquer organização, por vezes temos um ou outro membro que tem um comportamento muito grave. Mas a Ordem tem mecanismos rigorosos, que de imediato lhes dá solução, quando tem conhecimento dos mesmos.

Elucide-me com um exemplo prático do percurso de um trabalho através dos vários órgãos e cargos da GLNP?
Após uma aprendizagem profunda, a Ordem escolhe um membro para a dirigir. Normalmente, esse membro faz-se acompanhar de outros irmãos que o vão apoiar na gestão da Obediência. Posteriormente, tal como numa Organização complexa, cada irmão fica afecto a uma função. Um dirige a Ordem e representa-a sobre o ponto de vista espiritual: trata-se do grão-mestre. Outro ocupar-se-á da área administrativa. Trata-se do Grande Secretário Geral que é coadjuvado por Vices-Grandes secretários. Outro irmão está afecto à área financeira. É um irmão eleito, tal como o grão-mestre, que cuidará da Grande Tesouraria. Eleitos para que, claramente, possamos reconhecer uma separação entre a filosofia maçónica e aquilo que denominamos de metais (dinheiro). Outros irmãos estão afectos à área internacional; Outros ao economato, à formação e a muitas mais outras funções. Todas as funções são complexas, exigentes, mas acessíveis pelo estudo, dedicação e empenho.

Onde têm expressão os direitos dos membros?
Na livre expressão da palavra, nas deliberações e votações.

É isso que faz da Maçonaria um conjunto de homens que se entendem, quando aparentemente são tão diferentes?
Só assim conseguimos unir os homens com diferentes culturas, posição social, política e religião diversas. Na GLNP, e na própria direcção que denominamos de grão-mestrado, encontrará homens de todos os quadrantes políticos, republicanos e monárquicos, para além de terem diversas religiões e sem que isso interfira com o seu trabalho ao serviço da sociedade.

A que aspira a GLNP?
A Maçonaria procura ascender a uma fase de guia da civilização. Ascendemos a uma Ordem, quando nos confiavam deuses e o terrível e fecundo caos; ascendemos a uma Ordem universalista, quando nos quiseram confiar a queda do homem e de culturas. Parece que esta Morte e transfiguração é a componente essencial da ascese maçónica, que tende o indivíduo para o aperfeiçoamento moral e espiritual. Todos somos imperfeitos. Mas é essencial que a Maçonaria e a GLNP em particular, transmitam esta ascese e que, cada um de nós, tenha o dever de o conservar e transmitir. A Ordem maçónica está para além do tempo e das paixões.

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Movimentos maçónicos

A associação maçónica mais antiga em Portugal é o Grande Oriente Lusitano Unido, cujo grão-mestre é António Arnaut. Em finais do século XX, nasce em 1986 a Grande Loja de Portugal e cinco anos depois surge a Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), sob a orientação da Grande Loja Nacional Francesa. Referira-se que Álvaro Carva segue a filosofia anglo-saxónica. Em Dezembro de 1996, num processo atribulado que ficou conhecido como «assalto à Casa do Sino», sede da GLRP, verificou-se uma outra cisão, que dividiu a maçonaria regular portuguesa em Grande Loja Legal de Portugal/GLRP (GLLP-GLRP) e a GLRP.
Da GLRP saíram ainda um conjunto de Lojas e de membros que, em 2000, fundaram a Grande Loja Nacional Portuguesa, que é uma obediência regular e que também foi beber as suas fontes à Grande Loja de York (1705) – considerada a Grande Loja Mãe da Maçonaria no mundo – bem como à regularidade continental.
A Grande Loja Feminina de França criou a Grande Loja Feminina de Portugal em 1997. Já em 2004, a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP sofreu uma cisão que constituiu a Grande Loja Tradicional Portugal, que é mista.
O surgimento de novas obediências não é exclusivo do nosso país, mas regra geral as que não vingam no espaço europeu duram apenas dois ou três anos. Uma Grande Loja não é reconhecida internacionalmente quando apresenta contradições com os princípios maçónicos e por não ser justificável enquanto criação de uma nova estrutura.
Ao nível europeu, existe a Confederação das Grandes Lojas Unidas da Europa, cujo o espírito promove uma unidade maçónica à semelhança da ‘união política’ postulada pela ‘União Europeia’. Trata-se de um corporativismo continental no qual a GLNP participa activamente.

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Quem é…

Álvaro Carva é grão-mestre da GLNP. Ele é o seu responsável espiritual. Não se ocupa das funções administrativas, nem financeiras. Enquanto ser humano, o grão-mestre, que representa Salomão, está sujeito à evolução, mas tudo faz para cumprir com a satisfação espiritual dos maçons da sua obediência. Foi um dos impulsionadores da maçonaria regular em Portugal, tendo contribuído para a formação da loja nº 2 da GLRP. Promoveu e constitui várias lojas maçónicas, nomeadamente da Loja nº21, da qual foi Venerável Mestre. Foi membro e fundador do Arco Real de Portugal e um dos impulsionadores do Supremo Conselho de Portugal do REAA. É membro do Supremo Conselho de França com o grau 33.º, último grau da maçonaria escocesa. Participou nas comemorações do XXV aniversário da democracia espanhola, com um trabalho intitulado «Outras Maneiras de Ver», reconhecido pelo Parlamento Espanhol pelo seu papel de reflexão. O grão-mestre tomou posse em Maio deste ano, em Lisboa, na presença de 180 irmãos e 21 delegações internacionais, para o seu mandato de 2005 a 2007. Álvaro Carva é quadro bancário e tem três filhos.

Reconhecimento entre pares rege relações institucionais
Princípios forjam confiança
Da confiança entre maçons no mundo profano ao recon-hecimento de diferentes Lojas, o grão-mestre da GLNP apresenta alguns argumentos e esclarece o relacionamento entre obediências. Uma questão de princípios que também se reflecte na projecção internacional.
Ana Sofia Rosado

A GLNP conta actualmente com 417 irmãos. Compete a cada maçom traduzir para a sociedade, nomeadamente no local onde trabalha, os valores universais do século XVIII.
A Maçonaria tem sido muitas vezes criticada pelas relações de influência que fomenta entre maçons, em detrimento dos profanos. Álvaro Carva argumenta que se trata “de uma questão de confiança”. Em igualdade de circunstâncias, “o maçom prefere outro maçom por já conhecer os seus princípios e posições acerca da vida e da sociedade”. Quem não é maçom denomina-se profano, “porque ainda não viu a luz”.
Não se forma uma organização, quer seja uma Grande Loja ou um Supremo Conselho, só pelo facto de serem constituídos por maçons. As regras para o seu reconhecimento são muito apertadas. É necessário que Obediências ou Potências mais antigas reconheçam ou apoiem o desenvolvimento das novas estruturas. Foi o caso na criação do Supremo Conselho de Portugal pelo Supremo Conselho de França – o primeiro Supremo Conselho na Europa e o segundo no mundo. Concluído o processo, os maçons do Supremo Conselho de Portugal são reconhecidos por todos os Supremos Conselhos mundiais. O Supremo Conselho de Portugal somente reconhece a regularidade nos membros da GLNP.
Quando não se reconhecem, as instituições maçónicas proíbem a frequência dos irmãos nessas Lojas e em caso de suspeita é investigada a presença de obediências diferentes.

Tratados
Em Portugal, só a GLNP é reconhecida pelos seus pares no mundo. A sua filosofia fundadora de recuperar as tradições justificou a criação de uma nova estrutura e as outras maçonarias revêem-se nela. Em França, por exemplo, ‘existem’ 9 obediências, porque a décima, anglo-saxónica, não é reconhecida. Quando se reconhecem, as obediências relacionam-se através de tratados (de amizade, de reconhecimento, de paz e solidariedade, ou um tratado conjunto) e recebem os irmãos em templo maçónico.
No caso de não se reconhecerem, conhecem-se, mas não têm relações institucionais. Em termos estratégicos, acompanham-se uns aos outros, mas, na opinião de Álvaro Carva, “a filosofia e pensamento portugueses implicam que a projecção de uma obediência se faça a nível internacional”.
A discrição da Ordem maçónica permite que a ideia base dos princípios e propósitos circule, mas deixa aberta a possibilidade de corrigir a mão, ajustando-se às situações do dia-a-dia. A GLNP aprova anualmente um relatório de contas e financia-se pela capitação (quotas dos irmãos).

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Universalidade
Das 21 Lojas constituídas pela Grande Loja Nacional Portuguesa, duas encontram-se fora do território nacional. A Iberia Fraternitas localiza-se na Ibéria e é constituída por maçons portugueses, espanhóis e franceses, do Sul da França. Este ano recebeu irmãos de Marrocos.
Trabalhando no REAA, esta Loja, de fraternidade internacional, discute temas considerados essenciais para o aprofundamento da Maçonaria. A sua última reunião ocorreu em Lisboa.
A outra Loja, que, segundo Álvaro Carva, “respira o Rito de York”, denomina-se Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia, em memória da primeira Loja maçónica criada em Portugal, e está sedeada em Campo Alegre, no Brasil.
Os maçons da Grande Loja Nacional Portuguesa fazem centenas de saídas internacionais ao longo de todo o ano. As suas actividades regem-se pelo ano maçónico, encerrando durante Agosto para serem retomadas em Setembro. Para o próximo mês a Grande Loja Nacional Portuguesa já tem agendadas três saídas: a Marrocos, França e Bélgica.

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O Grande Priorado de Portugal
No interior do Palácio Maçónico existe uma capela preservada tal como se apresentava no início do século XIX. De livre acesso ao público que a visita, a capela servirá de sede ao Grande Priorado de Portugal, que em breve vai nascer. O Rito Escocês Rectificado só aceita cristãos na Maçonaria e as Lojas da GLNP que trabalham nesse rito irão constituir o Grande Priorado de Portugal, que será reconhecido e consagrado pelo Grande Priorado das Gálias e pelo Grande Priorado da Espanha. “Trata-se de duas organizações credíveis e que têm legitimidade para consagrarem o nosso Grande Priorado”, explica Álvaro Carva.

Por uma sociedade meritória
Maçonaria, a mãe de todas as artes

Inspirados nos ofícios da construção material, os maçons edificaram o seu espírito nos valores universais iluministas, a fim de participarem numa sociedade mais harmoniosa. Esta ‘arte’ é considerada por Álvaro Carva um serviço ao País.
Ana Sofia Rosado

A origem mais provável da Maçonaria são as corporações de canteiros da Idade Média (476-1453), que detinham certos segredos de construção que não pretendiam ver divulgados, mas sim transmitidos de geração em geração. Esta hipótese parece confirmar o nome atribuído aos três primeiros graus (aprendiz, companheiro e mestre), assim como à maioria dos seus símbolos relacionados com a arte de construir. É em Inglaterra, país onde as corporações ganharam elevada importância, que surgem os primeiros maçons não profissionais e onde as Lojas se transformam em sociedades de pensamento. A Grande Loja de Londres, fundada em 1717, é considerada o primeiro marco maçónico. As primeiras Lojas em França aparecem à volta de 1725; três anos mais tarde em Espanha; no ano de 1733 em Portugal e nos anos seguintes na Alemanha e Países Baixos; mais tarde na Suíça e Russia. O ano de 1744 regista a condenação em auto-de-fé, em Lisboa, de três pedreiros-livres, muito provavelmente franceses. Trata-se da notícia mais antiga da actividade franco-maçónica em Portugal.
A Grande Loja de França, plenamente organizada em 1732, é imbuída da doutrina Iluminista. Para Álvaro Carva, é no século das Luzes que a Maçonaria desempenha um papel “fantástico, construindo uma sociedade meritória, que transferiu o entusiasmo dos valores universais a sectores da sociedade que emergiam e transferiram-se valores às próprias organizações”. O termo Arte Real significa Maçonaria e foi muito usado no século XVIII. Ainda hoje é relembrado com frequência, refere o grão-mestre, para quem a Maçonaria é “de todas as artes a Arte Real”. Mais tarde, no século XIX, o Positivismo Científico “foi contagiante para se divulgar a Ordem e proteger quem nela entrava”, sustenta. As sociedades da altura ainda não consentiam o conceito de liberdade que é hoje vivido pela sociedade contemporânea europeia.

Fonte de regeneração
Para Álvaro Carva, o simbolismo praticado na Ordem Maçónica, fora de qualquer dogma, refere-se ao pensamento tradicional, sempre presente e atento a todos os acontecimentos do mundo exterior. “Fazemos tudo por amor ao próximo e conscientes de que os nossos valores servem Portugal”, assegura. Apesar da ciência pretender melhorar a condição humana, para o grão-mestre da GLNP, ela não consegue ajudar o Homem na sua busca Universal, nem agir sobre o interior de cada um, nem retirar-lhe as tensões, as angústias, as guerras ou os crimes. “Esta Ordem tradicional é de facto uma corrente irreversível e necessária a Portugal”, conclui.

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Admissão de um irmão
A recepção de um novo membro foi sempre associada ao conceito dos construtores medievais. Introduziu-se um ritual de ingresso e provas pessoais que permitiam julgar as capacidades pessoais do candidato. Comunicavam-se palavras, gestos e toques de reconhecimento profissional e jurava-se o silêncio absoluto para os segredos laborais, de lealdade e fidelidade aos demais membros da Loja que ingressavam. Os antigos deveres (old charges), que são ensinados aos aprendizes, visam prosseguir as características da construção, das qualidades éticas e profissionais. Eles são compostos por uma invocação, uma oração, uma narração legendária e uns regulamentos que a concluem. Um membro novo é admitido por votação após três inquéritos ou sindicâncias.

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Os três pilares
Beleza, força e sabedoria são os três pilares simbólicos que sustentam cada templo maçónico. “Apesar de frequentemente esquecidos, constituem conceitos universais essenciais ao desenvolvimento e construção da humanidade”, lembra Álvaro Carva. Introduzidos e explicados aos novos membros, “sem eles não existe metodologia para a construção”. Todas as reuniões têm por base estes três pilares “de sustentação da harmonia humana”. Ao venerável mestre cabe a sabedoria, o conhecimento total, a gnose, a liberdade, a fé, o princípio activo. Identificada com o espírito, a harmonia, a caridade, a fraternidade e a síntese dos contrários, a beleza é representada pelo irmão 2º vigilante. A força, que é o sentido da palavra, o pilar e a coluna, é representada pelo irmão 1º vigilante.
O aprendiz (1.º grau) é o estagiário, representa a fragilidade e carece de protecção, ensino e apoio constantes. Ele trabalha a pedra bruta, que simboliza as imperfeições do espírito que o maçom vai fazer por corrigir.
O esquadro representa a harmonia indispensável ao obreiro (maçom), significa a disciplina sobre as vontades humanas. O compasso é o símbolo que mede o espírito: quanto mais se abrirem os seus braços, maior será a acção do espírito sobre a matéria.
A acácia simboliza o grau do mestre maçom e representa a pureza. O GADU (Grande Arquitecto do Universo) é o princípio criador.
O rito é um sistema de cerimónias prescritas para cada grau. Representa uma ideia-força, acção utilizada nas reuniões maçónicas. Em Portugal encontram-se quatro ritos funcionais: o Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA), o Rito de York, o Rito Francês e o Rito Escocês Rectificado.

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Significado da Bíblia nos rituais
A Bíblia foi um dos livros introduzidos nas primeiras Lojas maçónicas, constituindo uma componente essencial para os representantes desta tradição. Certos rituais maçónicos incluem alusões a factos, palavras e nomes extraídos da Bíblia. Pode ser assim considerada como um livro fonte de alguns rituais maçónicos, essencialmente no Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA). Todos os livros sagrados – Bíblia, Corão e Tora são exemplos – são usados na Maçonaria de Tradição. “Respeitamos a crença de cada um dos nossos membros e respeitamos todas as religiões”, justifica Álvaro Carva. Colocados no altar dos juramentos, o livro sagrado, o esquadro e o compasso são as Três Grandes Luzes da Maçonaria. Elas são o garante da solenidade do juramento.

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Democracia e verdade
A democracia promove a participação de todos os maçons nos seus percursos profanos e internos. Ela faz parte integrante da vida maçónica, embora não a preencha, nem a esgote. Na Maçonaria são mais importantes os deveres do que os direitos, sem exclusão destes. Todos os irmãos mestres têm idênticos deveres.
A maçonaria de tradição não tem qualquer dogma. Nem o próprio Grande Arquitecto do Universo é entendido como se fosse exclusivo da Verdade. É considerado como um Ser Supremo e Superior. Os maçons procuram a verdade aproximando os seus actos dos valores Supremos e Superiores. Para os maçons, a Verdade nunca é conhecida: muitas das verdades passadas são hoje perfeitas alegorias. Contudo, a Maçonaria não se pronuncia sobre a aceitação dos dogmas da religião de qualquer irmão. Na Maçonaria não se fala de política, nem de religião. “Uma e outra tratam-se nos locais próprios”, sustenta o grão-mestre da GLNP.



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