Foram precisos 30 anos para fazer esta recolha de muito valor cultural, que reúne peças de teatro popular de Miranda do Douro.

Foram precisos 30 anos para que o livro "Teatro Popular Mirandês - Textos de Cariz Profano" visse a luz do dia. Nos anos 70, o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) iniciou a recolha de peças de teatro popular na região de Miranda, deslocando-se várias vezes ao nordeste transmontano. No entanto, só agora, com o apoio da editora Almedina, foi possível publicar o espólio, num livro que foi anteontem apresentado no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Coimbra.

O GEFAC - um organismo autónomo da Associação Académica de Coimbra, que já apresentou as peças "A Vida Alegre do Brioso João Soldado", "O Entremez de Jacobino", "A Confissão de Marujo" e "A Tia Lucrécia" - pretende, com esta publicação, divulgar um importante legado do património cultural português, mas também que os textos venham a ser adaptados à realidade dos grupos de teatro. "Já disponibilizámos algumas peças a grupos", afirmou Adérito Araújo, do GEFAC, sublinhando que os textos "podem ser trabalhados numa perspectiva moderna". "A linguagem é directa, os textos estão depurados e, como já foram representados, há a garantia de que funcionam", explicou.

Os textos recolhidos, que manifestam diversas influências - do teatro vicentino, do teatro espanhol, da literatura de cordel e de histórias comuns europeias... -, fazem referência a temas históricos e à vida quotidiana. Foi assim que os caminhos da cultura popular se cruzaram com os da cultura erudita. "Os mirandeses tinham os textos em casa. Muitas peças de teatro foram copiadas ou adaptadas, outras são originais", referiu Adérito Araújo.

Os 22 textos publicados em "Teatro Popular Mirandês" são versejados em português, e só uma personagem de uma peça fala em mirandês. Os elementos do GEFAC notam a existência de semelhanças com o antigo teatro ritual, na medida em que os textos assumem um papel preponderante - os actores limitam-se a recitar, movimentando-se pouco.

As peças agora recuperadas eram representadas nas aldeias nas alturas festivas, e apesar de nos anos 80 se ter quebrado a tradição, hoje verifica-se uma tentativa de revitalização. José Borges Pinto, um antigo elemento do GEFAC e um dos responsáveis pela recolha, recordou que se trata "um trabalho sério e rigoroso", e fez notar que o resultado é "de uma grande humildade intelectual". A obra de 812 páginas será concluída no próximo ano, com a edição de um segundo volume, que reunirá os textos de cariz religioso.



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