Ao longo dos séculos, as figuras pagãs dos rituais de solstício de Inverno continuam a ser vividas com bastante intensidade no nordeste transmontano. Os concelhos de Vinhais, Bragança, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Miranda do Douro são alguns dos locais mais procurados por pessoas que se deslocam de todos os locais, à descoberta destes ritos de iniciação e fertilidade, numa espécie de turismo cultural e mitológico.

Estes rituais e mistérios pagãos conseguiram mesmo, ao longo dos tempos, sobreviver às leis da Igreja que os chegou mesmo a proibir, mas a vontade popular era tanta que o paganismo conseguiu sobrevir às leis do cristianismo.

No fundo todos estes rituais são festividades agrárias essenciais para a manutenção das comunidades rurais dada a superstição das gentes do campo.

Na década de 50 e 60 do séculos passado, os Carochos, Belhas, Farandulos, Sécias e Moços, estiveram mesmo à beira da extinção, dada a falta de pessoas, devido à forte emigração que assolou a região.

A aldeia de Constantim, concelho de Miranda do Douro, é uma das localidades nordestinas onde este \"Inverno Mágico\" se vive com pureza e tradição. A festa das Morcelas ou da Mocidade, dedicada a São João Evangelista é um dos exemplos mais emblemáticos destes rituais que se prolongam até ao dia de Reis.

Ainda o sol não tinha nascido, numa manhã fria de Inverno como a de ontem, onde a forte geada cobria a paisagem, já se ouvia o primeiro foguete a anunciar a alvorada, sinal do início da festa.

Os actores principais, Carocho e Sécia, saem à rua, à procura de esmola para o jovem Santo, sempre acompanhados do toque de gaita-de-foles caixa e bombo. Os pauliteiros são outros dos intervenientes.

\"A simbologia das figuras assenta na família tradicional, onde o pai e mãe são incarnados nas figuras do Charolo e da Sécia que procuram esmola para a subsistência familiar já que se aproxima um Inverno rigoroso. O Charolo anda de casa em casa com uma espécie de pinça gigante nas mãos à procura de peças de fumeiro quando as coisas não lhe correm de feição lá vai uma das suas investidas no intuito de amedrontar os menos atentos. As pessoas que colaboram e os pauliteiros retribuem com uma dança em sinal de agradecimento pela esmola\", explicou Aureliano Ribeiro, um dos zeladores da tradição. Este ritual repete-se por toda aldeia.

As peças de fumeiros e outros produtos agrícolas recolhidos, são depois ingredientes para uma ceia comunitária que se serve hoje à noite e para a qual ao longo da ronda foram sendo convidados os comensais.

A tradição começa em Bruçó, Mogadouro, logo pela manhã do dia de Natal. Dois casais saem à rua. Por um lado o Soldado e a Sécia, por outro, um par de Velhos, todos eles mascarados e vestidos a preceito.

Seja qual for a origem, é de manhã cedo que as pessoas que vão incarnar as figuras do ritual se reúnem em casa da mordoma-mor para assumir os respectivos papéis que desempenharam ao longo de toda a manhã num verdadeiro corrupio desgastaste, já que para vestir os trajes são escolhidos os rapazes mais atléticos de cada geração.

Já na rua as personagens ganham vida própria e os actores começam a função, a Sécia, sempre protegida pelo Soldado é uma mulher \"mundana e de vida fácil\" e que leva ao colo uma boneca que simula um bebé.

Ao longo de todo o jogo vai sendo assediada pelos rapazes com mais coragem, já que o valente Soldado para proteger a sua dama atira umas valentes \"cinturadas\" com um cinturão de cabedal grosso no corpo de quem provoca a sua amada.



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