Ao chegar a Vila Real, no passado dia nove, o ministro da Educação, David Justino, tinha à sua espera, junto à Escola Secundária Camilo Castelo Branco, cerca de 50 educadores de infância. Esta \"recepção\" serviu para mostrar ao ministro o descontentamento destes profissionais relativamente ao novo horário instituído pelo Governo para o ensino pré-primário.

\"Os docentes aqui presentes repudiam o calendário escolar definido pelo Ministério da Educação, no despacho 19 310/2002, para a educação pré-escolar, em virtude deste desrespeitar a qualidade pedagógica da componente educativa e os direitos dos educadores\", explicou Maria José, educadora de infância presente na manifestação. Segundo ela, \"o Governo tem de equacionar o problema de outra forma, porque não é alargando a permanência das crianças por uns dias nos jardins de infância que vai responder às questões familiares de horários\". Os educadores de infância consideram mesmo que o novo horário apresentado pelo Governo é \"um atropelo aos educadores e às próprias crianças\".

\"O discurso que tem sido veiculado pelo Ministério da Educação\", afirmou Maria José, \"leva a concluir que, a partir de agora, o jardim de infância é visto apenas como um local de guarda de crianças, com um calendário diferenciado, procurando através dele dar uma resposta social à família, e preterindo assim a componente educativa, factor de desenvolvimento e sucesso educativo das crianças\". E esta \"perspectiva negativa\" do sector da educação pré-escolar deixa os educadores descontentes porque \"demonstra um desconhecimento da realidade, do que é a educação pré-escolar e da sua história ao longo dos tempos\".

Educadores recusam

críticas do Governo

A importância do ensino pré-primário é \"inquestionável\", não só para os educadores de infância como também para os professores do primeiro ciclo. Isto porque \"as orientações curriculares da educação pré-escolar têm uma sequência na organização curricular e no programa nacional do primeiro ciclo, visando uma aproximação e articulação entre ciclos\". Contudo, para que tal aconteça, dizem os profissionais, \"é necessário que haja espaços de tempo comuns entre professores e educadores, destinados à reflexão e planificação de actividades\". Com o calendário instituído pelo Governo, acusam, \"foi retirado esse espaço de tempo aos educadores de infância, pondo em causa a componente pedagógica da educação pré-escolar, bem como o direito das crianças a uma educação de qualidade\".

\"A altura das férias é utilizada pelos educadores para reflectir e avaliar as suas práticas\", garante Maria José, \"reformulando percursos e projectos, contribuindo para um melhor desempenho da sua função, tendo como principal objectivo a promoção do sucesso educativo das crianças, favorecendo a igualdade de oportunidades\".

Na opinião dos educadores, \"confundir a componente social com a componente educativa, não só põe em causa a educação pré-escolar, como não é a solução adequada para responder socialmente às famílias\". \"O facto do Governo querer resolver um problema social à custa dos educadores de infância, não criando as condições necessárias, como cantinas e espaços para prolongamento de horários, devidamente apetrechados e orientados por pessoas com uma formação adequada, conforme está previsto para a componente social, é demagógico e ilusório, e não é a resposta efectiva ao problema social das famílias\".

Outro facto que deixou os educadores de infância descontentes tem a ver com \"a forma como tem sido referenciada a educação pré-escolar por responsáveis do Ministério da Educação\" e com \"as afirmações do secretário de Estado, ao dizer que é necessário acabar com a inércia, abusos e privilégios ilegítimos\". \"Lamentamos que um representante do Ministério da Educação, com responsabilidade na definição política educativa em Portugal, se refira a um grupo profissional e a um sector de ensino nos termos em que o fez\", afirmou Maria José, acrescentando: \"não compreendemos o que quer dizer quando usa tal linguagem, bem como os fundamentos legítimos que conhece para tal afirmação\".

Perante esta \"recepção\", David Justino optou por não prestar quaisquer declarações à comunicação social presente, argumentando apenas que se encontrava em Vila Real \"em trabalho\".

Contestação mantém-se

em Bragança

Também em Bragança, e no mesmo dia, concentraram-se junto à Escola Augusto Moreno, onde o ministro da Educação tinha uma reunião, mais de uma centena de educadores de infância.

A intenção destes profissionais era \"entregar ao ministro responsável um abaixo-assinado, relativo ao calendário do ensino pré-escolar, que, este ano, pela primeira vez, é diferente do dos outros sectores de ensino\". No entanto, a carta foi entregue a um acessor do ministro, uma vez que este se recusou a falar com os educadores e também a responder às perguntas dos jornalistas presentes. David Justino acabou assim por ser vaiado à saída da escola.



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