O transporte de doentes de Miranda do Douro para os principais hospitais transmontanos ficou “mais demorado” com o fecho das fronteiras devido à covid-19, numa região onde a ligação entre concelhos portugueses costuma ser feita por estrada espanhola.

A passagem na fronteira não implica apenas a ligação entre dos países nesta zona do Nordeste Transmontano, onde as viagens entre Miranda do Douro e Bragança há muito são feitas por Espanha, para escapar à sinuosa estrada nacional portuguesa que liga os dois concelhos.

O encerramento das fronteiras ditado pelas medidas de contenção da pandemia covid-19 tornou as viagens para chegar aos hospitais de Bragança e Vila Real “mais demoradas” e “muito dolorosas”, principalmente para as pessoas idosas da zona de Miranda do Douro, descreveu à Lusa o comandante dos bombeiros voluntários de Miranda do Douro, Luís Martins, concretizando que o transporte de doentes pode demorar quase o dobro por estradas portuguesas.

Segundo disse, “uma viagem de ambulância por território espanhol pode demorar 50 minutos”, mas com as fronteiras fechadas, o percurso tem de ser feito via Vimioso e “pode ter uma duração de uma hora e meia”.

No distrito de Bragança existe um ponto de passagem oficial na fronteira de Quintanilha, que faz parte do percurso habitual quando a viagem é feita por Espanha.

Porém, antes de chegar a Quintanilha existem outros pontos de fronteira que se encontram encerrados e que não permitem a ligação por Espanha, o que faz com que as ambulâncias demorem mais tempo a chegar aos hospitais de Bragança e Vila Real, como salientou o comandante.

“Esta é uma situação muito constrangedora, visto que estamos a falar numa população que na sua esmagadora maioria é idosa. Nestes casos são os utentes quem mais sofre”, frisou Luís Martins.

Segundo o comandante, o traçado por Vimioso, que liga Miranda Douro à Autoestrada Transmontana, em Bragança, é o mais complicado devido às curvas sinuosas na zona de Carção.

A estrada portuguesa torna as viagens mais demoradas e, de acordo com o comandante, obriga também a uma maior mobilização de meios, nomeadamente ambulâncias, já que “por vezes podem não estar disponíveis devido ao tempo gasto em cada viagem”.

Esta questão, como explicou, coloca-se no transporte de doentes não urgentes e também de algumas emergências, nomeadamente aquelas que são feitas na ambulância atribuída ao Posto Emergência do Médica (PEM) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

Segundo o comandante, este tipo de ambulância pode circular por território espanhol, “já que é permitido”.

O mesmo já não acontece com os veículos como a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) ou as ambulâncias de Suporte Imediato de Vida (SIV), que são da responsabilidade direta do INEM e que circulam sempre por território nacional, devido a questões logísticas, nomeadamente, relacionadas com seguros.

“Se o doente ou sinistrado for acompanhado pela VMER ou pela ambulância SIV, este transporte é sempre efetuado por território português, independentemente das circunstâncias", observou.

Apesar de já existirem acordos de cooperação entre Portugal e Espanha a nível de combate a incêndios ou forças de segurança, que permitem às autoridades atuar nos dois lados da fronteira, o mesmo não se verifica ao nível da emergência médica e saúde, segundo explicou à Lusa fonte da Proteção Civil.



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