O presidente do PSD voltou hoje a acusar António Costa de não querer reformar nada, mas disse esperar que “dentro do PS haja quem queira e provoque alguma turbulência”.

Rui Rio falava aos jornalistas no final de uma ação de rua em Bragança e, a propósito do debate das rádios, pronunciou-se sobre uma falta de vontade do secretário-geral do PS, António Costa, de alterar a Constituição ou a lei eleitoral.

Tal como tem dito nos últimos anos, o líder do PSD referiu que há reformas necessárias em vários setores da sociedade “que estão enquistados” e que só se podem fazer com os votos dos dois maiores partidos.

“Temos de ter coragem, o PS não quer… Olhe, só posso fazer a campanha que faço, e se o PS não quer, que pelo menos dentro do PS haja quem queira, e provoque alguma turbulência e acabemos por ter um PS com uma atitude mais reformista”, afirmou.

“Sem essa atitude, não mudamos o país e andamos a discutir 1% do IRS ou do IRC”, lamentou.

Questionado se já espera pelo sucessor de António Costa, Rui Rio riu-se e disse apenas: “Não estou à espera, nem deixo de estar. O que eu disse foi que corremos o risco de isso acontecer”.

Apesar de ter admitido que apenas viu um pouco do debate das rádios “enquanto se arranjava” antes da iniciativa em Bragança (razão pela qual não marcou presença), Rio respondeu a cerca de 15 minutos de perguntas - mesmo com o sino da igreja a dar as badaladas do meio-dia -, muitas relacionadas com esta discussão.

Sobre a insistência de António Costa na maioria absoluta, Rio reiterou a crítica já feita na quarta-feira ao líder do PS de invocar o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como garantia contra eventuais riscos.

“Na prática diz que, quando houve as maiorias absolutas de Cavaco Silva, o Presidente Mário Soares não esteve à altura e, quando houve a de José Sócrates, foram Jorge Sampaio e Cavaco Silva que não estiveram à altura”, criticou.

“Acho que é uma contradição e um não assunto, haver maioria absoluta é de uma probabilidade baixíssima para PSD e PS, e aí acho que as probabilidades são iguais”, afirmou.

Rio considerou que a aprovação do próximo Orçamento do Estado vai exigir negociação, a não ser que seja possível estabelecer um acordo de coligação ou de incidência parlamentar.

“Mas o que me preocupa tanto nem é o orçamento, é se houver um bloqueio a tudo o mais que não seja o Orçamento”, disse, lamentando ter ouvido António Costa a dizer que “não vê necessidade de revisão constitucional”.

“Vivemos sem alterar a Constituição ou o sistema eleitoral, mas estamos com uma mediana de salários de 900 euros, se é essa ambição, sim. Se queremos mais ambição, temos de ter uma atitude reformista perante os problemas que o país tem”, defendeu.

Questionado sobre o desejo do líder do CDS-PP, hoje reafirmado no debate, de que o partido pudesse voltar a ter a pasta da Defesa, Rio não excluiu essa hipótese.

“É uma questão de se ver, não seria a primeira vez que o CDS tinha o Ministério da Defesa, como sabemos”, afirmou.

Rio reiterou que, vencendo as eleições sem maioria, começaria a negociar primeiro com o CDS, parceiro “tradicional”, e depois com a IL, “um partido novo e que pode vir a ter ou não uma representação parlamentar significativa”.

O presidente do PSD ouviu hoje preocupações sobre a falta de obstetras na maternidade de Bragança, um problema que disse ter “solução simples” que é “contratar mais médicos” para este distrito, onde quer manter a liderança social-democrata.

E segundo Rui Rio, “se todos os problemas da governação fossem como este, estava completamente à vontade e nem pensava duas vezes” antes de se deitar, pois a solução é “simples” e é “contratar dois obstetras”.

“Se fosse a dificuldade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sempre essa era fácil”, salientou.

Questionado sobre a concentração de organismos públicos em Lisboa e no Porto, Rio lembrou a “estratégia de desconcentração” do PSD e referiu que “todos os novos organismos a abrir não poderão ser em Lisboa”.

“Isso para mim é evidente, transferências é uma coisa que se deve procurar fazer, mas sempre com muito mais cuidado. (…) Não podemos fazer uma revolução do dia para a noite”, disse.

O distrito de Bragança elege três deputados e atualmente dois são do PSD e um do PS.

Foto: AP



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