Desde o dia 16 de Dezembro que o \"Regiões - Bragança\", um programa de informação de carácter regional, não é emitido pela RTP. O regresso já foi prometido por duas vezes, mas continua a ser adiado. Algumas entidades da região acreditam que esta situação é \"transitória\", mas outras pensam que \"é uma forma delicada de dizer que acabou\" . E há quem tema até pelo futuro do Centro Emissor de Bragança, que está quase sem trabalhadores.

O noticiário regional da RTP \"Regiões - Bragança\" não é emitido desde o dia 16 de Dezembro. O seu regresso já esteve prometido algumas vezes. No entanto, até agora, a RTP continua a pÎr no ar o \"Regiões - nacional\", emitido de Lisboa para todo o país. Sendo assim, os transmontanos continuam sem poder assistir às referidas emissões, que falavam apenas da sua região. E o regresso continua a ser adiado, sem se saber até quando ou sequer se o programa voltará aos écrans.

Contudo, neste momento, o que está em causa não é apenas o fim do programa \"Regiões\" diferenciado, mas sim o futuro do próprio Centro Emissor Regional de Bragança. O seu esvaziamento já é bastante notório. Actualmente estão a trabalhar neste centro apenas uma jornalista, dois operadores de imagem e um responsável operacional. Em Vila Real estão a desempenhar funções dois jornalistas, que estão nos quadros da empresa.

A interrupção prolongada das emissões daquele programa de informação regional está a dividir os transmontanos. Enquanto que para alguns esta situação ainda não parece ser um motivo de preocupação, para outros é uma \"forma delicada de dizerem que o programa terminou\".

Em declarações ao Semanário TRANSMONTANO, o governador civil de Bragança, José Manuel Ruano, afirmou que lhe parece que está a haver \"bastante celeuma\" sobre esta matéria e disse acreditar que esta é uma situação \"transitória\". Este político afirmou que, segundo informações governamentais que lhe foram dadas, os serviços daquele espaço informativo da RTP estão apenas a ser \"remodelados\" e a sofrer \"pequenos ajustes de equipa\". José Manuel Ruano adiantou ainda que não receia que esta situação venha a provocar o fim do \"Regiões - Bragança\" e mostrou-se confiante em relação à continuidade do programa.

Contrastes políticos

A mesma opinião é também partilhada pelo presidente da Distrital do Partido Social Democrata de Bragança, Telmo Moreno. Este militante está confiante que as emissões regionais da RTP \"não vão terminar\" e acredita que esta situação se prende apenas com a restruturação dos serviços a nível central. No entanto, Telmo Moreno frisa que \"se em qualquer momento a distrital laranja detectar que o \"Regiões - Bragança\" possa vir a terminar, vai manifestar-se contra a decisão e demonstrar a sua opinião junto dos organismos responsáveis\".

Já os membros do Partido Comunista Português (PCP) parecem estar mais reticentes quanto a esta situação. A continuidade do programa informativo já foi uma questão levantada diversas vezes pelos membros deste partido em assembleias municipais, que também já pediram explicações ao Governo sobre os motivos que levaram à interrupção das emissões e quanto à data em que estas serão restabelecidas. Mas, segundo o deputado do PCP, Bruno Dias, \"até agora, o Governo ainda não deu qualquer resposta\". O mesmo militante acrescenta que o PCP vai continuar \"a acompanhar e a denunciar\" a situação. \"O Regiões - Bragança é uma vertente importante da informação regional e Trás-os-Montes merece um programa daquele cariz\", sublinhou.

Os membros deste partido dizem-se \"preocupados\" e entendem que é \"fundamental\" resolver a questão \"rapidamente\". \"Temos a noção de que esta é, pelo menos, a segunda vez que a direcção da RTP assume o compromisso de restabelecer as emissões. No entanto, as promessas têm vindo a ser adiadas\", referiu Bruno Dias, lembrando ainda que \"há algum tempo a RTP desiludiu os transmontanos com a mudança de horário do \"Regiões - Bragança\", quando transferiu o programa das 19h30 para as 14h00.

Nerba critica

\"falta de respeito\"

Também o presidente da Associação Empresarial de Bragança (Nerba), Jorge Gomes, entende que o interior está a ser \"prejudicado\" com a interrupção do programa, que, no seu entender, \"tinha uma audiência elevada, era útil e interessante para a região\", e acredita que o suspender do referido noticiário regional é uma \"forma delicada de dizerem que acabou\". \"Vejo com algum cepticismo o retomar das emissões, não acreditamos no futuro do \"Regiões - Bragança\", não estou sossegado nem tranquilo\", sublinhou Jorge Gomes.

Segundo o presidente do Nerba, o primeiro \"prejuízo\" para a região prendeu-se com a mudança de horários. Agora, com a interrupção das emissões, \"deixámos de ter uma importante cobertura da actualidade e passámos a ter uma dificuldade de divulgação das acções de cariz económico, cultural e desportivo que temos vindo a desenvolver\", justificou o dirigente. Jorge Gomes frisou ainda que Trás-os-Montes perdeu um \"grande privilégio\" e que toda esta situação \"é, mais uma vez, o exemplo do pouco peso que a região tem no contexto nacional e é mais uma consequência da centralização\". \"Este não é o princípio do fim do programa, mas na continuidade do retirar de serviços ao interior, a RTP é apenas mais um caso. Não há respeito e consideração por quem cá vive\", disse Jorge Gomes.

AMTAD preocupada

com \"má atitude\"

da RTP

Por sua vez, o presidente da Associação de Municípios de Trás-os-Montes e Alto Douro (AMTAD), Jorge Nunes, \"não quer acreditar\" que a interrupção das emissões seja o fim do \"Regiões - Bragança\", porque \" se o programa vier mesmo a terminar, então, vai contra tudo aquilo com que o Governo se comprometeu\", ou seja, lutar contra o agravamento das assimetrias. Também a AMTAD recebeu a garantia de que o Centro Emissor de Bragança está apenas a sofres alguns \"reajustes\". Mas, segundo afirmou Jorge Nunes, a AMTAD continua \"preocupada\" com esta questão. \"Está a haver uma má atitude da administração da RTP, um sub-aproveitamento dos meios por parte desta empresa que constitui mais uma perda de visibilidade para a região transmontana\", desabafou o presidente da AMTAD, acrescentando que \"esta situação pode vir a desencadear uma tendência para que os outros canais televisivos também não se preocupem com as notícias da região\".

O Semanário TRANSMONTANO tentou contactar o director de informação da RTP, José Rodrigues dos Santos, para saber qual o seu parecer sobre esta matéria. No entanto, não foi possível falar com este responsável. O coordenador do Centro Emissor Regional de Bragança, Emídio Tomé, não quis comentar a situação.

Em Vila Real

opiniões divergem

As instituições do distrito de Vila Real também estão preocupadas com esta situação. O governador civil de Vila Real, Elói Ribeiro, disse ao Semanário TRANSMONTANO que \"percebia a diminuição dos custos correntes da RTP que o Governo pretende levar a cabo\", mas admitiu estar \"preocupado com o fim das emissões do \"Regiões\", porque a cobertura noticiosa do distrito \"é muito importante\". E confessou que tem já agendada uma reunião, na próxima semana, com o ministro da Presidência, para se \"inteirar\" da situação. \"Não queremos ficar a perder em relação aos outros distritos do litoral, no que toca à divulgação da nossa região\", afirmou Elói Ribeiro, considerando \"importante manter este programa em actividade\".

A Nervir - Associação Empresarial de Vila Real também está preocupada com o futuro das emissões do Regiões. O secretário geral da Nervir, José Brito, lembra que a associação \"já tomou posição, mais do que uma vez, em relação a este assunto\". A mudança de horário foi uma das decisões que desagradaram à Nervir, por recear que esta alteração \"servisse para esvaziar o interesse dos telespectadores do programa para, mais tarde, acabar com ele\". \"A Nervir tinha razão\", concluiu José Brito, frisando que a associação continua a demonstrar o seu \"profundo desagrado\" em relação a essa medida.

O presidente da distrital do PSD de Vila Real, Fernando Campos, não demonstrou a mesma preocupação. \"Todos sabemos que o actual modelo das emissões regionais não se constituía como um serviço público abrangente, sobretudo pelo horário a que os noticiários regionais iam para o ar, que coincidia com o horário laboral normal e reduzia as audiências a números pouco expressivos\", afirmou Fernando Campos, para concluir que \"estão lançadas as bases para a criação de um serviço que irá agradar às diferentes regiões do país, garantindo a cobertura noticiosa de uma grande maioria dos eventos aí realizados, prestando um melhor serviço à região, o que manifestamente não acontecia no sistema actual\".

As opiniões quanto ao destino do \"Regiões\" mantém-se, até que a RTP anuncie o seu fim ou as pessoas se esqueçam do programa. Quanto a um possível regresso, começam a ser cada vez menos aqueles que acreditam nessa hipótese.



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