Desde há cerca de três décadas que a população de grifos regista um considerável aumento, principalmente na faixa fronteiriça que abarca o Parque Natural do Douro Internacional. Esta ave, mais possante que a águia, nidifica nas escarpas, impressiona com seu planar, alimentando-se de carcaças

Ave escolhe áreas raianas onde existe a tranquilidade

Quem, na verdade, não conhece a ave da banda desenhada ou dos filmes do western americano? O grifo, vulgarmente conhecido por abutre, regressou aos troços internacionais dos rios Douro, Águeda e Tejo, onde nidifica nos respectivos penhascos.

Pujante, robusto, quando voa em bando, ou melhor, quando aproveita as correntes de ar quente para planar em busca de presa propicia a qualquer observador uma visão espectacular. Principalmente nos 85 mil hectares do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), nas suas impressionantes arribas. Um miradouro de eleição? Penedo Durão, imensa rocha quartzítica sobranceira aos domínios castelhanos.

Ali, também passam perto britangos, falcões-peregrinos, andorinhões reais e o chasco-preto, por exemplo.

Na faixa entre Miranda do Douro a norte e Figueira de Castelo Rodrigo a sul, nessa fenda geológica que compreende o PNDI, os efectivos têm vindo a aumentar de forma significativa. Porém, comparativamente com Espanha, a tendência foi bastante mais reduzida. O aumento demográfico não seria acompanhado na mesma proporção de um aumento da área de distribuição. Logo, o acantonamento nas áreas raianas.

O grifo evita a chuva, nevoeiro e neve e escolhe extensas zonas abertas onde predominam os matos, as culturas arvenses de sequeiro e as pastagens, que se conjugam com zonas arborizadas. Daí a preferência pelo PNDI, porquanto só na parte nacional há cerca de 30 mil ovinos.

A ave repudia intromissões humanas. Para os biólogos António Monteiro e Ana Berliner, começam a surgir sinais preocupantes relacionados com o aparecimento, de forma descontrolada, de actividades turísticas e de lazer, nos rios e nas arribas e que futuramente \\"podem inverter o panorama actual das populações de grifos e de outras aves rupícolas\\".

Trata-se da abertura de acessos para locais de interesse paisagístico e para praias fluviais, nos vales dos principais rios. E são os caçadores, pescadores, turistas, os fotógrafos de natureza, a crescente circulação de barcos de recreio nas albufeiras das barragens do Douro. Haja tranquilidade, portanto.

A alimentação do grifo baseia-se, estritamente, nos cadáveres de animais. Isto é, de tecidos macios (músculos, vísceras) de mamíferos de médio a grande porte. Por vezes a ave realiza movimentos migratórios em grupo, para explorar zonas de alimentação que se encontram indisponíveis em áreas inóspitas. Nos locais de alimentação necessita de uma ampla extensão de correntes ascendentes em zonas montanhosas. Detecta a comida através da visão, normalmente na sequência de tanto vigiar o movimento de outras aves, no solo ou no ar, usualmente a alguma distância do alimento.

Algo tímido, o grifo pode levar algum tempo a aproximar-se das carcaças. Alimenta-se por necrofagia, precisando de cerca de 500 gramas diárias. Mas se os pastores tinham por costume não enterrar os cadáveres das ovelhas e das cabras, as normas da União Europeia vieram pÎr cobro a tal hábito.

Em causa, a criação de uma rede de campos de alimentação, tendo como objectivo assegurar a manutenção das práticas antigas por parte das populações rurais. A ideia, afirmou o biólogo António Monteiro, do PNDI, é manter os recursos alimentares provenientes das explorações agro-pecuárias locais, \\"sem criar condições artificiais, ou seja, não queremos transformar os abutres em galinhas, mas antes encontrar sustentabilidade no processo de modernização do mundo rural\\".

Com tais rotinas torna-se possível ajudar a minorar o efeito dos venenos, uma vez que o alimento é sempre vistoriado por veterinários e acaba por ser vigiado pelas entidades gestoras dos campos.

Importante, preconizam os biólogos, é a criação das áreas protegidas do Douro Internacional e do Tejo Internacional. Uma maneira de preservar as zonas onde o grifo nidifica e, consequentemente, a própria espécie.



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