Hoje, Rebordãos é apenas mais uma aldeia do concelho de Bragança, mas em tempo foi ela própria sede de concelho, por foral de 1208, atribuído por D. Sancho I, aquele que foi também o "povoador" de Bragança.

Naquele que deverá ter sido o centro cívico da vila, chamado agora de bairro do Pelourinho, resiste, embora com as devidas marcas do tempo, a escassos metros do que se percebe ainda ter sido a cadeia (o edifício dos paços do concelho foi derrubado e substituído por uma habitação de cimento), o próprio pelourinho herdado de tempos medievais.

Este pelourinho tem uma particularidade em relação aos restantes 31 existentes no distrito: ele está literalmente encaixado num terraço de cimento, mesmo ao lado de um galinheiro.

Maria Adélia Ramos, de 89 anos, é a proprietária de uma das quatro casas que ficam na continuidade do tal patamar de cimento, embora adjacente àquela que aparentemente se situa no alinhamento do pelourinho. Quando lhe perguntamos de quem era "aquilo", inocentemente respondeu que era da sua vizinha (que, ao que nos indicou, não mora lá). Pelo erro, foi prontamente corrigida por uma moradora mais nova das imediações, que logo lhe disse, da janela, "que não, que era o castelo do povo".

Maria Adélia recorda-se de ter ali vivido "sempre", e quando foram para lá, as casas já existiam, "e nós compusemo-las", diz. "Compuseram" as casas e, mais tarde, mas já há tanto tempo que nem se lembra, "compuseram" também o pelourinho. "Estava tudo desfeito, fizemos isto para não cair", diz, referindo-se ao terraço, que se estende das portas das duas casas até aos degraus visivelmente decadentes do monumento. Maria Adélia vai mesmo mais longe e diz que o pelourinho "é interessante agora, porque tem estas coisas de volta, se não, já estava no chão".

Já Filipe Vinhais, que do café onde diariamente contacta com a população vê o granítico monumento, tem a percepção de que "as pessoas reconhecem o valor que tem", e avança que, quando é tema de conversa, a ideia predominante é a de que "precisa de obras". Filipe Vinhais, vai também dizendo, embora não se considere "conhecedor destas coisas", que não lhe parece bem que as casas estejam à volta do pelourinho.

Como o próprio Ippar confirmou ao DTOM, trata-se de um imóvel de interesse público, assim classificado pelo Decreto-Lei de 11 de Outubro de 1933. Esta classificação implica, segundo a legislação actual, a existência de uma área em sua volta, chamada de "protecção", num raio de 50 metros, pelo que, qualquer obra que se faça dentro desse perímetro, deve ser licenciada pela Câmara Municipal, mas "tem que ser objecto de parecer vinculativo do Ippar", afirma Mafalda Carneiro, técnica daquela instituição.

No que se refere às casas que aí já existem, Mafalda Carneiro afirma, que, se existiam já, por exemplo, na década de 40, como nos foi dito no povo que existiam, "são legais" e acrescenta que o Ippar "não se vai pronunciar sobre a sua existência".

Adriano Rodrigues, presidente da Junta de Freguesia, já confirmou, entretanto, a existência de um projecto, integrado no pacote de candidaturas da Junta de Freguesia a realizar no âmbito da Rota da Terra Fria, que passa por Rebordãos, que consiste na eliminação das casas em causa e arranjo da zona envolvente do pelourinho, convertendo o espaço numa praça de estada e lazer.

Adriano Rodrigues afirma a sua intenção de iniciar as obras ainda este ano, a partir de Outubro, mas ressalva que as casas estão ainda em negociação, e que o processo não está resolvido, porque alguns proprietários estão a pedir um preço muito alto.

"Mas não queremos entrar em conflito com ninguém", diz, rematando que "preferimos pedir autorização ao Ippar para mudar o pelourinho para outro lugar", uma solução que se poderá revelar "mais barata". O autarca diz ainda que se o Ippar não der essa autorização, então, "que dê o dinheiro para comprar as casar".



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