A proximidade aos partidos tradicionais, aliada ao voto útil numa região que tem apenas três deputados, pode ajudar a explicar que Bragança seja o único distrito do país onde o Chega não elegeu deputados, segundo investigadores ouvidos hoje pela Lusa.

Dos círculos eleitorais cujas votações finais já são conhecidas (faltam os da Europa e fora dela), Bragança foi o único que não elegeu para o Chega, apesar da tendência à direita do distrito, nomeadamente para o Partido Social Democrata. Manteve o habitual desde as eleições em democracia e atribuiu dois mandatos à AD e um ao PS.

“Uma das principais explicações é o facto de eleger poucos deputados. Acaba por limitar eleger pelo Chega. Porventura, a percentagem de votos conseguida seria suficiente para eleger, por exemplo, um deputado em Vila Real”, começou por considerar à Lusa João Pedro Batista, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

O também investigador na área política salientou que o distrito brigantino tem “uma cultura ligada ao PSD”, integrado na AD. Contudo, de forma mais abrangente, os partidos mais tradicionais, à direita ou à esquerda, acabaram por criar “afinidade social”.

”Até porque nestes territórios do interior, como Bragança, há uma política de proximidade, de comunidade. E tem sido feita nos últimos dos anos por parte dos partidos que estão nas câmaras municipais, que estão representadas em determinadas instituições, como nas autarquias, nos bombeiros ou nos hospitais”, detalhou o investigador, referindo que assim está criada uma maior afinidade com o eleitorado.

Essa proximidade é, por isso, mais difícil a outros partidos menos bem integrados:”Nestas zonas onde muitas vezes o voto noutros partidos do sistema não são considerados, acaba por haver uma ótica de voto útil, também à esquerda”, segundo João Pedro Batista.

As mesmas ideias vão ao encontro do pensamento de Cláudia Costa, professora coordenadora da Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo do Instituto Politécnico de Bragança:”As pessoas não consideram que o voto seja útil noutros partidos que não sejam ou a esquerda ou a direita tradicionais, porque consideram que não vão conseguir eleger ninguém”, partilhou com a Lusa.

Também Cláudia Costa considerou que o facto de o distrito de Bragança eleger só três deputados desde 2009 ajuda igualmente a explicar os resultados, a juntar ao referido eleitorado “mais fiel aos partidos antigos, que votam no mais tradicional”.

Hoje, em Bragança, num dos cafés centrais da cidade, Sérgio Gonçalves, que gere um destes negócios, contou à Lusa que o tema das eleições é o que “toda a gente comenta”, o que considera normal depois da noite em que se conheceram os resultados de mais umas legislativas antecipadas. Apesar disso, nem todos aceitaram dar-nos a sua opinião sobre o assunto.

“Tendo em conta os resultados nacionais, esperaria que o Chega pudesse eleger um deputado, o que aqui é sempre difícil, porque as pessoas são muito tradicionais”, caracterizou Sérgio Gonçalves.

Joel Anjos, um dos clientes de Sérgio esta segunda-feira, também sublinhou que o Bragança “é sempre à direita”, e fez a sua análise: “Foi muito bom a esquerda ter levado o tombo que levou. O Chega não ter sido eleito em Bragança, por outro lado, prova que não somos assim tão incultos”, considerou o brigantino.

A AD voltou a conseguir dois dos três deputados que o distrito elege, reforçando a votação, passando de 29.077 votos, e 40,01%, em 2024, para 30.611 votos e 43,74% nesta eleição.

Segundo os resultados oficiais do Ministério da Administração Interna na internet, o PS manteve a segunda posição, e conquistou um mandato, mas caiu nas preferências, com 25,43%, 17.796 votos, menos 3.742 votos do que em 2024, onde teve 29,64% e 21.538 votos.

O Chega voltou a ser a terceira força política mais votada e saiu reforçado em relação ao ano passado, com 20,42%, mas continua sem eleger. Nas últimas legislativas, obteve 18,19% das preferências, com 13.216 votos. Subiu agora para 14.288 votos.

Nos concelhos de Mirandela, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Mogadouro, todos mais a sul da região, o Chega ficou mesmo à frente do PS, e foi aí a segunda força partidária mais votada.

Na freguesia mais populosa do concelho e do distrito de Bragança – Sé, Santa Maria e Meixedo – onde havia 21.204 inscritos nos cadernos eleitorais, votaram 11.692. A AD venceu com 4.389 votos (37,54%), o PS ficou em segundo com 3.166 (27,08%) e o Chega teve 2.487 (21,27%).

A AD - Coligação PSD/CDS venceu as eleições legislativas de domingo, com 89 deputados, se se juntarem os três eleitos pela coligação AD com o PPM nos Açores, enquanto PS e Chega empataram no número de eleitos para o parlamento, 58.

A Iniciativa Liberal continua a ser a quarta força política, com mais um deputado (9) do que em 2024, e o terceiro lugar é do Livre, que passou de quatro a seis eleitos.

A CDU perdeu um eleito e ficou com três parlamentares, enquanto o Bloco de Esquerda está reduzido a uma representante enquanto o PAN manteve um deputado.

O JPP, da Madeira, conseguiu eleger um deputado.

Estes resultados não incluem ainda os eleitores residentes no estrangeiro, cuja participação e escolhas serão conhecidos a 28 de maio.



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