O Secretário-geral da Fundação Internacional das Ligas dos Direitos Humanos (FIDH) disse hoje que os fluxos migratórios continuarão a aumentar no mundo, mas considerou falsa a imagem de uma invasão inexorável dos países ricos.

«Os fluxos migratórios no mundo vão aumentar, porque há cada vez mais pessoas que são obrigadas a sair dos seus países à procura de liberdade e de condições para sustentar as suas famílias», disse hoje à Lusa o Secretário-Geral da FIDH, Driss El Yazami, após a apresentação do III Congresso Mundial daquela organização, que se realiza próximo mês em Lisboa.

Inserido neste Congresso Mundial, realiza-se entre 19 a 21 de Abril o 36º Fórum sobre «Migrações e os Direitos Humanos», que contará com a presença de mais de 300 especialistas.

De acordo com Yazami, nos últimos 25 anos o número de imigrantes duplicou no mundo e todos os indicadores apontam para que esta tendência continue a aumentar devido às disparidades entre países ricos e pobres, em matéria de desenvolvimento, demografia e democracia.

Segundo os dados apresentados, em 2005, os migrantes representavam cerca de 200 milhões de pessoas (entre os quais 9,2 milhões de refugiados), o equivalente a cerca de 3% da população mundial.

Os Estados Unidos da América continuam a ser o primeiro pólo de atracção dos migrantes, seguidos da Europa Ocidental (UE e Suíça) e da Austrália.

Porém, a partir do início da década de 1970 os países produtores de petróleo (Península Arábica, Venezuela, Líbia e Africa Austral) e os novos países industriais da Ásia têm vindo a afirmar-se como novos pólos migratórios.

De acordo com o secretário-geral da FIDH, nos últimos anos tem- se assistido a «uma diversificação dos fluxos migratórios e das trajectórias», sendo que 40% dos migrantes partem à procura de emprego.

Paralelamente, registram-se cada vez mais êxodos importantes de população devido a catástrofes naturais (secas, cheias), a fome e a conflitos militares e a guerras civis.

Os dados apresentados sobre as migrações no mundo indicam que o Norte da Africa, o Médio Oriente, a Turquia e o Golfo Pérsico acolhem actualmente dez por cento dos migrantes a escala mundial.

A África, com 66 milhões de migrantes, representa actualmente cerca de um terço dos migrantes, um terço dos refugiados e metade das pessoas internamente deslocadas no mundo, sendo que cerca de um migrante em cada dois (47%) são mulheres.

A região da África Subsaariana aparece como a zona do mundo com maior número de pessoas internamente deslocadas devido a conflitos, crises económicas e factores ecológicos.

Segundo os dados de 2005, na Ásia existiam mais de 53 milhões de migrantes (dos quais 45% eram mulheres), sobretudo oriundos do Bangladesh, Birmânia, Cambodja, China, Índia, Indonésia, Laos, Nepal, Filipinas, Sri-Lanka e Vietname e mais de 7,8 milhões de refugiados.

O principal destino dos migrantes asiáticos foram outros países na Ásia como a Coreia do Sul, o Japão e a Singapura, bem como países da Europa, da América do Norte e do Médio Oriente.

Outro factor salientado durante a conferência foi a crescente feminização dos fluxos migratórios, fenómeno que desde o início da década de 1990 tem vindo a aumentar.

De acordo com o Secretário-Geral da FIDH, Driss El Yazami, enquanto durante muito tempo a migração feminina se realizava para fins de reagrupamento familiar, actualmente faz-se, sobretudo, para fins laborais, sendo que as mulheres procuram empregos tradicionalmente femininos nos países mais ricos (trabalho domestico, limpeza, prestação de cuidados a idosos, industria do sexo).

«O aumento da emigração feminina deve-se, não só ao facto de estas terem começado a emigrar sozinhas, mas também à tomada de consciência dos seus direitos em sociedades onde persistem numerosos constrangimentos restritivos da sua emancipação», disse Yazami.

Actualmente, segundo Yazami, a maioria dos emigrantes marroquinos são mulheres, o que realça e reforça a transformação dos papéis tradicionalmente desempenhados por homens e mulheres e demonstram a mudança da sociedade».

No entanto, de acordo com o responsável, estas mulheres migrantes são particularmente vulneráveis à exploração, às discriminações e aos abusos, uma vez que constituem uma mão-de-obra barata e ocupam empregos exigentes e por vezes pouco gratificantes, sendo que muitas também são sujeitas a violências e a prostituição.



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