O investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Alexandre Parafita defendeu hoje que a tradição das noivas de Santo António teve origem numa lenda que passou de geração em geração em Tabuaço.

Alexandre Parafita contou à agência Lusa ter ficado a conhecer a lenda do «Santo António mandado degolar» através de uma idosa do lar de Barcos, no concelho de Tabuaço, no âmbito de um inventário sobre o património imaterial organizado pelo Museu do Douro e do qual é coordenador.

«Essa lenda foi depois estudada por mim para a contextualizar e percebi que nela estaria a origem da tradição das noivas de Santo António», que todos os anos é celebrada em Lisboa, acrescentou.

Segundo o docente da UTAD, a lenda «narra os amores não correspondidos e obsessivos de uma rapariga pelo jovem que mais tarde viria a ser Santo António».

O pai da rapariga, «para a livrar desta obsessão, mandou degolar o jovem e fez espetar a sua cabeça numa estaca, expondo-a na rua à vista de quem passava», mas, «para espanto de todos», ele apareceu noutro lado a pregar.

«Reza a lenda que foi assim que aquele rapaz ficou com a fama de santo e que a moça não quis ser de mais ninguém, ficando para sempre noiva de Santo António», acrescentou.

As características da lenda, nomeadamente o facto de a jovem «se manter noiva de Santo António, traduzindo nessa atitude uma paixão duradoura», levaram Alexandre Parafita a concluir que está relacionada com «Santo António, o patrono das paixões duradouras».

Lembrou que a adoração deste santo como «protetor das paixões duradouras» passou para o Brasil, onde o Dia dos Namorados não se relaciona com São Valentim.

«O Dia dos Namorados no Brasil não é festejado a 14 de fevereiro, mas sim a 12 de junho, véspera do dia de Santo António», contou.

O estudioso frisou que muitos dos rituais dos tempos modernos têm origem em mitos e lendas antigos, um pouco por todo o país.

«Há muitas festas e rituais que persistem na modernidade e são até explorados pelo turismo cujas origens moram em velhos mitos e lendas que estão a perder-se na memória das gerações mais velhas», alertou, considerando, por isso, muito importante inventariar, classificar e estudar o património cultural imaterial.

O projeto do Museu do Douro que coordena e que permitiu passar para o papel a lenda de «Santo António mandado degolar», entre muitas outras narrações orais, tem «a preocupação de ir buscar estes resquícios da memória», para que não se percam.



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